sábado, 30 de outubro de 2010

OS SEM-LICENÇA

Outro dia, na escola, meu professor falou, dentre outras desmotivacionais besteiras simplórias: [...] "É que os poetas dispõem de uma coisa que nós não temos - licença poética".
Opa! Espera aí. E os outros, como é que ficam? Os que não são escritores, não são compositores, não são poetas - ou poetisas, que seja -, como é que fazem? Como é que eu fico?
Eu preferia que naquele momento você fosse engolido por um peixe, professor.
Como é que eu fico? O que é que eu vou fazer da minha vida se eu, que não sou ninguém, não tiver a minha licencinha, a minha licençona poética? Mas nãããão!
Eu também preciso viver, preciso pensar, preciso escrever livremente. Eu me habituei a isso, campeão. Então não tire isso de mim.
Mas que coisa. Fico até agora me perguntando como alguém pode saber (ele diz) alemão, a língua aglutinadora, e ainda assim vir dizer que o pobre povo, ordinário (no elementar sentido de "simples"), a massa sonhadora e aspirante, não pode desfrutar da licença poética?
E só de graça, sabe o que eu fiz? Me rebelei, é isso mesmo. Estamos de mal até segunda ordem, eu não fiz mesmo o seu trabalho, e espero que você nao leia isso aqui.
Ah, mas que saudades daquele antigo professor que tanto nos motivou! Volta... Eu clamo.
Triste fim para o atual professor de português. Engolido por um peixe. O peixe da cegueira.
Até reconhecer que o meu eu-lírico também pode usufruir de umas doses de anarquismo literário.
Viva a literatura desmordaçada!

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