sábado, 16 de outubro de 2010

AO MEU MENTOR

Ainda lembro a primeira vez em que o vi. Branco, cabelos de um tom indefinível de castanho, desses louros assim, meio escuros, meio acabrunhados. Aparelho nos dentes e boné. Meu Deus, quem diria que era um professor? Ele é. Mas foi além, muito além disso. Ele foi o meu mentor desajustado, dos ajustes mais perfeitos, mais sinceros, mais bacanas. Encaixou. Pude até ouvir um "clic" quando a ficha caiu: "É ele!".
Confesso que no início menosprezei, por medo, eu estava amedrontada. Mas isso durou apenas uns dois, três minutos. Até que sua primeira aula começou e eu entendi que era ele. Ele e ele. Engraçadíssimo. Sacana. Eu tentei... Mas o riso explodiu, inevitável!
Eu sinto uma saudade imensa porque este homem-rapaz foi para mim muito mais que um mestre. Ele deu valor a coisas minhas que ninguém jamais deu... Como uma boa resposta, como citar Paulo Leminski e a poesia marginal numa prova. Ele deu valor a uma sede que existia aqui por dentro - esse meu interior ainda misterioso - e eu nem ao menos conhecia sua extensão: a sede de escrever. De viver. Meu Deus... De viver! Eu só devo agradecer.
Um homem inteligentíssimo. Um garoto. Inefável. Poderia ser meu irmão mais velho, imaginem só. Ouvir suas histórias, contos incisivos, picantes, azedos, melados, lindos, bons, era como ser transportado com um chute no estômago até um local inimaginável. Cores escorrendo pelas paredes, o sonho e o talento vibrando por cada acento agudo na voz, quem sabe uma batida sussurrada, o eco que assenta, e o fim magistral.
Eu amei cada segundo com esse professor. Eu amo. E muito. Ora, nem me contradigo! Por mais complicada e indecisa e desajuizada que eu seja - por ter deixado arrefecer nossos caminhos cruzados, o meu e o dele -, ainda assim digo sem errar: Ele foi o meu mestre literário. O original. O primário. O primogênito que atiçou minha mão direita, com a qual escrevo. Ele foi maravilhoso. Ele é.
Bruno. Pardo. Moreno. Nem é. É branquinho... Aparentemente calmo. Mas experimente provocá-lo. Não, não experimente.
Sabe-se lá por onde anda agora. Será que lembra de mim? Será que sente saudades? O meu letrado futuro doutor. Mestre já é. Certeza. O nosso. De uma turma inteira. Não só uma turma, mas uma trupe barulhenta e ainda assim acanhada de amigos que foram consquistados com um tiro no peito. Irrevogável.
Hoje, esse sangue nostálgico e saudoso que escorre do trauma de bala é o mesmo rio que flui e jorra dos meus dedos quando quero meditar, escrever. Penso nele, aquele professor, e fico matutando... Eu também quero vencer. Vencer a mim mesma. Vencer as circunstâncias que diziam ser improvável que um coração interiorano caísse nas graças do mundo vasto mundo.
Ainda penso nele quando escrevo, penso em vitória, em cansaço, em sirene. Meu mentor. Sem seu estímulo teria sido tudo muito mais lento. O que posso dizer? Veja se volte. Tenho saudades. E o que mais? Obrigada. De B para B, mil vezes: Obrigada!

Ao meu mentor.

2 comentários:

  1. Fico me perguntando como vc consegue...Como vc consegue me deixar sem palavras? Logo eu que sempre me orgulhei de dominá-las nos momentos mais complicados. Obrigado, Bárbara! Sei que um simples obrigado não poderia expressar minha profunda gratidão, e é por esse motivo que resolvi escrever um texto também em sua homenagem. Espero que post aqui e que o mundo veja o quão especial és pra mim. bjs nessa sua alminha linda!
    Bruno Sérvulo

    P.S.: Assim que terminar o texto te envio. É difícil encontrar as palavras quando elas são quase inefáveis, principalmente quando se trata de alguém que gostamos muito.

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  2. Estarei esperando ansiosamente!! E vou postar aqui, com certeza!
    Mil beeijosss

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