domingo, 22 de janeiro de 2012

FAMA VIRAL

Texto para a coluna Antenados, do jornal Tribuna Amapaense, em 21 de janeiro de 2012. Nesta última semana, os dois assuntos mais comentados na internet e nas emissoras de televisão foram: O possível estupro no programa Big Brother Brasil e Luiza, que estava no Canadá. Se você não sabe quem é Luiza, eu explico: A menina teve seu nome citado pelo pai em uma propaganda de imóveis na qual, depois de enumerar as suítes, ambientes e clube de lazer do prédio, o homem dizia: “E é por isso que eu fiz questão de reunir toda a minha família, menos Luiza, que está no Canadá, para recomendar este empreendimento que eu assino embaixo”. O vídeo virou febre na internet. Reproduziu-se de modo viral, e a propaganda já tem 5 milhões de visualizações, além de outros arquivos relacionados ao assunto. Agora o pai da moça, Gerardo Rabelo (colunista social paraibano), junto com o resto da população brasileira tentam entender e explicar como se deu tamanho sucesso. De acordo com site da internet, onde consta uma entrevista de Gerardo e do produtor do comercial, “toda essa história começou quando o pai de Luiza, há cerca de 15 dias, foi convidado para participar do comercial em João Pessoa. A filha Luiza não estava na ocasião devido ao intercâmbio no Canadá, e os produtores acharam que Gerardo deveria dar alguma explicação sobre a ausência da filha. O vídeo, após cair no YouTube, acabou virando uma grande piada, e claro, um ótimo negócio”. Luiza já está de volta ao Brasil. A pretexto, para dar cabo às piadinhas cibernéticas e frear o vírus “Luiza, que está no Canadá”. Contudo, há quem diga que a jovem voltou mais cedo do intercâmbio simplesmente para gozar as delícias da fama, por mais efêmera que possa ser. Assim ou assado, uma coisa é certa: O vírus já sofreu mutação e agora vêm em sua versão 2.0 – “Luiza, que não está mais no Canadá”. Pelo visto, teremos ainda mais quinze minutos de fama. O segundo tópico mais explorado na rede e em todo Brasil, foi o suposto estupro ocorrido no reality show de Pedro Bial. Não transmitiram a cena libidinosa na TV aberta, pois o programa não estava mais sendo exibido quando tudo aconteceu. Entretanto, aqueles que possuem o “pay-per-view” conferiram integralmente o desenrolar da “transação”. Os telespectadores com acesso a cena começaram a fazer algum barulho na internet, comentando o provável crime. Monique, a vítima, parecia estar dormindo durante o estupro, visivelmente alcoolizada. Rapidamente os vídeos se alastraram pela internet. E o participante assanhadinho, Daniel, foi expulso do programa, com menos de uma semana. Desde o dia do ocorrido, 15 de janeiro, a polícia já esteve na casa do Big Brother Brasil, e muitas outras implicações judiciais já eclodiram, atingindo todos os envolvidos, inclusive os produtores do programa. A polêmica rendeu até 8 pontos de audiência para a emissora rival, de Bispo Macedo. O programa “Fala Brasil”, da Rede Record, conseguiu ultrapassar o “Mais Você”, de Ana Maria Braga, falando sobre o próprio BBB 12. Agora, o ex-big brother Daniel tenta voltar à disputa. Para saber se ele vai conseguir ou não o seu regresso, só assistindo aos próximos capítulos do “jogo”. Eu não me arrisco. O que podemos aprender com isso tudo (se é que há algum aprendizado para além da alienação/indignação maciças) é que, hoje, só consumimos porcaria. Lixo informacional, quando não humano. Estamos bombardeando a nós mesmos com tantas discussões inúteis, que podem até gerar algumas observações interessantes a respeito do caráter humano, mas que não vão nos moldar rumo a uma cidadania concreta ou postura social mais nobre. Nem nos brindarão com uma porção eficaz e responsável de criticidade, consciência, e todos aqueles ideais politicamente corretos, que a cada dia parecem um ideal mais distante e démodé. A fama viral que a internet proporciona a alguns sortudos indivíduos – os quais muitas vezes não fazem nada para merecê-la, apenas integram a “sociedade paraibana” ou bolinam uma pobre menininha bêbada em rede nacional –, só comprova nossa fome de lixo. Talvez estejamos buscando um escape para a seriedade imposta pelos problemas do mundo. Talvez queiramos só rir à custa de uma elite que frequenta o Canadá, ou falsamente nos indignar e espernear perante tudo o que aparece na televisão, já que Bial afirmou ser esta a “ágora brasileira”. Talvez tudo isso junto. Talvez nada disso. Não há nada a saber. O que há para saber? Que a crise continua? Que Elis Regina morreu? Ora... Luiza não se importa com isso, imagino eu. Muito menos Daniel. E, se não importa a essas duas personalidades, ícones consagrados pela aclamação popular, não importa a nenhum de nós também.

VEROSSIMILHANÇAS DE GRISELDA E TEREZA CRISTINA


Texto para a coluna Antenados, do jornal Tribuna Amapaense, em 7 de janeiro de 2012.

Não existe nada de verossímil em Tereza Cristina Velmont, muito menos em Griselda Pereira. Ou seja, essas duas personagens do horário nobre são seres inventados que, por mais redundante que possa parecer, jamais ocorreriam na vida real.
A começar pelos nomes. Onde no Brasil uma pessoa de fina estirpe se chama "Tereza Cristina"? Que combinação mais esdrúxula! Bem, até há certas misturas às quais já nos adaptamos. Exemplos: Ana Paula, Ana Júlia, Paulo Vitor, Carlos Eduardo, e etc. Mas, Tereza Cristina?! Eca.
Já sobre a mocinha do enredo, nunca conheci, nem ouvi falar de alguém que conhecia alguém que conhecia alguém de nome “Griselda”. Tudo bem que a "Griseldinha" não é brasileira, é portuguesa, mas duvido que existam muitas outras na terra dos lusitanos.
De volta à nossa vilã Tereza Cristina, falemos agora de sua conduta pérfida no agir e no vestir. Pode até ser que ela traje Versace, mas será que precisa usar sempre tudo “combinandinho”?! Vestido azul, colar azul, brinco azul, lingerie azul, lente de contato azul... Ufa! A ricaça poderia aprender mais com seu pajem colorido, o Crodoaldo (este nome então não vamos nem comentar...).
E sobre o rastro de crimes e malvadezas que Tereza Cristina deixa atrás de si? Não há consequências? O mau-caratismo da mulher é outra inverossimilhança das brabas... Ela já matou na escada, matou na estrada, matou no hospital, tocou fogo na casa da portuguesa... E sempre escapa impune. Com tanto talento e criatividade, difícil é acreditar que nunca arrumou um ofício para dar sentido à sua vida.
A respeito de Griselda, acrescento: se eu ganhasse 50 milhões, será que continuaria por aqui, chorando as pitangas com minhas comadres (sem lhes dar um mísero milhão), suando litros a fim de manter uma lojinha de ferramentas, enquanto minha filha continua a vender cremes, meu filho numa pensão, e o outro desempregado? É claro que não! Eu mandaria todo mundo pra Sorbonne e ia cuidar dos trâmites pra fazer meu pé-de-meia lá na China, enquanto curtia horrores em Ibiza.
Enfim. O que quero dizer é que, apesar de ter um apelo popular incrível, devido ao exagero tragicômico de seus personagens, a novela “Fina Estampa” é uma impossibilidade por si só. Como já dito, a trama pode até fazer sucesso, porque os telespectadores gostam de ver suas mazelas e virtudes ali, maximizadas... Mas não por muito tempo. Essa fanfarronice toda enjoa. Os personagens são extremamente caricatos. Não há neles as camadas das cebolas, que só os melhores autores conseguem descascar capítulo após capítulo.
Volto a afirmar: Nenhuma daquelas pessoas existiria na vida real, simplesmente porque são boas demais, ou mesquinhas demais, ou chatas demais, ou perfeitas demais, ou malvadas demais, ou nada de mais... Ninguém é assim em nenhum dos cantos do globo. Todos nós somos dotados de imperfeições e requintes, singeleza e capricho, surtos, tiques, afetações, trombas, tapas, algodão e veludo. Coexistindo. Somos personagens esféricos, vivendo novelas reais; não quadrados e óbvios, enfadonhos, nem estupidamente maravilhosos, glamorosos, audaciosos e gostosos sempre.
Desse modo, os nossos programas, nosso entretenimento em geral, devem refletir aquilo que somos, pois esta também é uma maneira de entendermos melhor a condição humana. Quando, por exemplo, assistimos a filmes ou ouvimos músicas nos quais há uma humanidade tão visceral e, ao mesmo tempo, uma beleza tão angélica, nós começamos a nos compreender melhor.
Não pretendo aqui afirmar que, para prestar, nossas distrações precisem ser exaustivamente sérias, sisudas e espartanas. Não é isso. As próprias telenovelas também servem para escapulirmos um pouco das novelas da vida real, não?... Pois bem, que seja válvula de escape, que seja invenção, criatividade, uma dose certa de exagero. Mas até o surrealismo conserva em seu nome o radical palpável da realidade.
A saga Harry Potter, por exemplo. Apesar de um aparente besteirol mistificado, conserva algo indispensável à verossimilhança, que supera a minúcia de sua autora: todos aqueles seres bizarros que lemos ou vimos são recheados de dilemas e questões demasiado humanos.
Assim, o que proponho não chega a ser nenhuma revolução televisiva ou qualquer prepotência do gênero. Também não sugiro que se troque o controle remoto por um exemplar do Nietzsche. Quero apenas, com todo o meu charmoso pedantismo, sugerir à rede Globo que me contrate para escrever a próxima novela das nove. Serei extraordinária, sem perder o elã da realidade.

A B

Nossa amizade começou aos trancos e barrancos
Tropeçando
Sem saber muito bem em que pé ficava

Ou será que foi silenciosa, macia, discreta?

Foi acidente

Ou estavámos destinados um ao outro?

Éramos duas almas dissonantes
Que acabaram formando uma curiosa sinfonia dúbia



Ou éramos mesmo
Duas peças específicas
De uma peça maior que toda a nossa maestria?

Não sei, não sei
O que sei é que houve momentos em que ela brecou
Engolfou
Correu
Suspirou
Respirou mansinha
Então sobreveio
Subiu
Desceu
E está aqui, agora
Nossa cifra pessoal
Sem saber como será o próximo instante

Mas, afinal,
Acho que nossa amizade é, na verdade, um Sol menor
Dos muitos sóis que ainda estão por vir