domingo, 31 de outubro de 2010

80's

O muro de Berlim caiu em 6 de setembro de 89. Ainda em 80, surgiram os CDs, a popularização dos compuradores, videocassetes e walkmans, a descoberta da AIDS, a morte de Tancredo Neves (em 85), deu-se a consagração do neoliberalismo - víbora de dois gumes -, aquele célebre atentado ao falecido papa João Paulo II, e praticamente as melhores bandas que ainda hoje ouvimos surgiram nessa década. Dire Straits, A-ha, Supertramp... Inaugurou-se a MTV, a música eletrônica se firmou, criaram o HIP HOP. O Heavy Metal surge como o poderoso do rock, o rádio e a TV massificam a cultura.
Às vezes tenho tanta saudade dessa época, e não entendo o por quê. Eu nem estava viva. Eu nem era ainda um projeto. E não sei porque toda essa nostalgia desmedida. Foi um período difícil para o Brasil, por que sentir falta? Não sei. Também não entendo. Mas a verdade é que os anos 80 têm para mim um cheiro de juventude, de cultura, liberdade, hormônios, beleza, desmedidos. Eu queria ter vivido aquela juventude, aquela adolescência. Mas não sei se então eu seria eu mesma. Sei lá. Será que estaria me drogando em algum beco obscura de NY? Deus me livrasse! Ou será que eu seria um protótipo de mauricinho(a)? Ai. Ah... Quem vai saber? A verdade é que os anos oitenta permanecerão ali, lá, já longe, cada vez mais longe, estagnando-se no tempo. Foi o divisor de águas... Estávamos no ápice, quem sabe, e então veio a ruína.
Gosto dos anos 80. Tenho sérias saudades.

sábado, 30 de outubro de 2010

MANTENHA-SE NO RASO

Divido então o que sei: são todos jovens, são todos palavras, silêncios. Vazios que gritam no escuro, como almas que mal sabem o que os aguardam. Um dia após o outro, passo por passo, e ainda assim, querem engolir o mundo. É isso o que sei deles, e divido com quem quer que os queira. É pouco o que sei, sim, admito. Como já disse, nem os entendo completamente. Afinal, quem entende os jovens? Não eu.
Mas, de qualquer forma, mesmo sem conhecê-los por completo, sou o único que sabe sobre eles mais que o necessário. Se me concentrar... Se me concentrar, posso até sentir a dor deles. Seus pensamentos, seus sonhos, sono agitado, medos, pavores, palpitações. Eles balbuciam no meio da noite, choram baixinho, nem sabem, nem imaginam que são assim tão desprotegidos. Nem eu posso imaginar quanta desproteção há neles.
Mas, se decidi mesmo deixar que os conheçam, então é melhor que os apresente de uma vez. Eles ainda não são inteiros, mas são pedaços, fragmentos de tanta gente, de ninguém, de tudo e de muito. Eles são... Como posso dizer? São jovens, afinal. O que se espera de um jovem? Que seja raso, que seja profundo? Só o que posso dizer deles é que, bem, em grande parte, ninguém esteve muito disposto a compreendê-los. Ninguém perde tempo. Por mais nobre que possa soar perder tempo com pessoas, ninguém o faz de verdade. E é por isso que eles são assim, tão tortos, tão mal acabados. Mas a vida cuidou de esculpi-los e arrematar o que tinha sido criado, deixando-os assim tão vivos, tensos, vibrantes, palpitantes, intensos. Eles são uma parte de um todo, e um inteiro, um pedacinho caprichoso, e lindo, e estranho, incompreensível. Eles são pequenos, nem ocupam muito espaço, talvez suas balbúrdias assustem, mas os famosos hormônios os absolvem. O que posso dizer mais? Só o que sei é que de nada são rasos. Não. E sabe o que dizem sobre os lagos? Os mais calmos é que são os mais profundos. Você jamais chegará ao fundo deles. É escuro, silencioso, agudo, lotado de tudo...
Águas brandas escondem pensamentos profundos. Toda a juventude de uma época está aqui. Talvez falte o brilho de uma década, a polvorosidade de outra, quem sabe a rebeldia da de 80, ou as mudanças da de 60. Mas, estão aqui. Todos eles. Essa juventude que salpica como óleo quente, fervente, uma pulga atrás da orelha, um livro que teima em cair da estante. Bem, eles são um lago (aparentemente) raso e calmo, falsamente cristalino, no qual eu não me atreveria a ir muito fundo, pelo simples perigo de me afogar. Enrolar-me em algas ásperas. Eles são, afinal, lagos quentes e serenos que escondem aqueles segredos que só se conta a si mesmo. Eles vibram, retumbam. Silenciosamente. Estão todos aí, e, se não há muito o que fazer, então, leia-os.

OS SEM-LICENÇA

Outro dia, na escola, meu professor falou, dentre outras desmotivacionais besteiras simplórias: [...] "É que os poetas dispõem de uma coisa que nós não temos - licença poética".
Opa! Espera aí. E os outros, como é que ficam? Os que não são escritores, não são compositores, não são poetas - ou poetisas, que seja -, como é que fazem? Como é que eu fico?
Eu preferia que naquele momento você fosse engolido por um peixe, professor.
Como é que eu fico? O que é que eu vou fazer da minha vida se eu, que não sou ninguém, não tiver a minha licencinha, a minha licençona poética? Mas nãããão!
Eu também preciso viver, preciso pensar, preciso escrever livremente. Eu me habituei a isso, campeão. Então não tire isso de mim.
Mas que coisa. Fico até agora me perguntando como alguém pode saber (ele diz) alemão, a língua aglutinadora, e ainda assim vir dizer que o pobre povo, ordinário (no elementar sentido de "simples"), a massa sonhadora e aspirante, não pode desfrutar da licença poética?
E só de graça, sabe o que eu fiz? Me rebelei, é isso mesmo. Estamos de mal até segunda ordem, eu não fiz mesmo o seu trabalho, e espero que você nao leia isso aqui.
Ah, mas que saudades daquele antigo professor que tanto nos motivou! Volta... Eu clamo.
Triste fim para o atual professor de português. Engolido por um peixe. O peixe da cegueira.
Até reconhecer que o meu eu-lírico também pode usufruir de umas doses de anarquismo literário.
Viva a literatura desmordaçada!

JANE EYRE


Que filme lindo! Não é nenhum Titanic, nenhum Avatar, ou a videografia do Justin Bieber, coisas que a aclamação pública insiste em sacralizar. É simplesmente a versão antiga, em preto e branco, para o cinema, de um livro clássico e belíssimo da literatura inglesa.
Agora, estou lendo o livro. Sim, lindo. E claro, bem mais detalhado, mais denso, um bocado mais profundo que a película. Gostei do filme, assisti com a minha mãe, num canal de clássicos da TV a cabo.
A verdade é que o livro da Charlotte Brontë estava no meu computador há séculos (ei, não me julguem!), tinha baixado há algum tempo a fim de conhecer melhor a obra ao vê-la sendo citada em inúmeras outras fontes.
Mas então, à época, depois de protelar mais ou menos uns seis meses, desisti de ler o tal clássico - na verdade nem comecei. Foi mais ou menos o que aconteceu também com um outro livro que baixei, uma peça do Shakespeare. A Megera Domada, que abandonei após ler só até a metade. Bom, mesmo já sabendo o fim da peça - o que normalmente me motiva potencialmente a prosseguir - acabei deixando A Megera de lado, e releguei-a à pasta "Nunca Lerei" no PC. Enfim, o mesmo destino acabou tendo Jane Eyre, por pura tolice minha.
Mas então, a um golpe qualquer da vida, lá estava eu, ligada ao TCM - que, louvado seja Deus, não tem intervalo - e me rendi inteira à doçura dramática, à simplicidade antiga do filme baseado na obra de mesmo nome.
Gostei bastante, ainda estou em estado de graça. Gostei de ouvir um homem rude - ou, quem sabe, apenas escravo de uma terna e cativante brusquidão -, se declarar com algo do tipo: "Mas como assim, não está chorando?! Posso ver as lágrimas agora mesmo, boiando aí nos seus olhos, quase a ponto de cair"... E vê-lo render-se irrevogavelmente a um par de "mãos geladas".


* Caramba, não consigo pronunciar esse sobrenome! "Jane Rrrrrrr"...

AMOR DE TRAVESSEIRO

Um amor de anedota, um amor de folhetim, um amor de vanguarda, um amor de verão...? Nada disso se compara a um "amor de travesseiro". Amor inexplicável, que surge do mistério, do mistério de cada dia, e cada dia um dia-a-dia.
Quando eu digo que te amo, é porque te amo mesmo. No travesseiro, na cama, fora dele, em qualquer lugar. E seu eu não digo com palavras, digo com olhos, então me olhe.
Às vezes, eu digo mesmo, tanta besteira, tanta coisa pouca... Mas o que eu quero? Te quero, ora! E quando eu digo que não quero nada, quando eu digo que pra mim já chega, quando eu digo que estamos por um fio, que eu não quero conversar, que eu não quero brigar, só o que que eu quero dizer é: "Me abraça".
O meu amor de travesseiro é você. Quem mais? Um amor que eu ainda nem descobri de todo.
Chego em casa exausta, os pés latejam, os olhos ardem. Você me espera. Na cama? Talvez. Deitado no sofá, a TV ligada, a cochilar, um locutor de esporte - um jogo qualquer - a falar de coisas que eu não entendo, mas que você curte e entenderia, se nesse momento não estivesse pescando no sétimo sono.
Eu me aproximo. Talvez um tabefe. Um tabefe leve, carinhoso. Não, poderia ser mal interpretado. E só o que eu quero... É pular, me rasgar, me debruçar inteira, me expor, me mostrar, e dizer: "Vê só? Essa sou eu. E ainda continuo apaixonada por você desde aquele primeiro dia".
Então uma canção tira sarro de mim no rádio. "If you fall for me...". Eu sorrio. Algum rádio distante, não, um iPod conectado, a vizinha, a pré-adolescente, nada de rádio, os tempos mudaram. E eu sorrindo, parada na sala, a te contemplar, sabendo quão boboca é ser durona e estar apaixonada.
Amando um cara com quem você está há... Há quanto tempo? Quando se casaram? Ontem, hoje, dois anos, dez anos atrás? Nem sei, não sei bem. Sei que esse momento eu não troco. Porque é tão difícil separar um em que eu não esteja gritando com você... E eu odeio fazer isso... Gritar, brigar contigo, te xingar e te abraçar, para então ir dormir nos teus braços. Pois é. Suspiro. "Se você ficar caidinha por mim..." Ah, meu querido, eu já estou.
Eu me ajoelho. Eu deixo a pasta logo ao lado, ajoelhada também, no chão. E te olho. E meus olhos se enchem de uma água misteriosa, que coisa mais engraçada! Eu nunca choro. E quero tanto dizer que te amo, eu... Você acorda.
E sussurra bem baixinho um oi, um sorriso, mas a voz é rouca, áspera de sono. E sua mão, como se tivesse nascido ali, como se nunca tivesse saído, sobe pelo ar e pousa no meu rosto, na minha bochecha esquerda, até que eu incline a cabeça assim de leve, a fim de repousar nos teus dedos. O que é, hein? O que conseguimos, o que construímos, como sobrevivemos sem que eu destruísse você? É que às vezes sou tão má. E tenho medo de não ser capaz de contar a novidade. Será que ele vai gostar?
Ele me beija. Percebe que estou mexida, mas não comenta. Sempre tão doce, tão calado, tão calmo e tranquilo. Um cara tranquilo. O que será que faz comigo? Sua mão descobre a blusa e me descobre. Apalpa o seio. Aprofunda o beijo. Me puxa para cima, sobre ele, no sofá. Rostinhos colados, tenho quase medo. Ainda não superei essa fase?
Ele me pergunta se estou bem, subindo a mão pela minha coxa. Estou, é claro, estou, estou bem, como não? O medo é daquela outra parte, aquela em que fico em dúvida se você ainda me quer ou não. Se vai aguentar, se vai me aguentar até o fim. Porque sou tão má, tão maldosa, tão egoísta, tão cheia de coisas. Explodo com facilidade, grito, esperneio, chantagista, e depois jogo tudo em você. Mas que coisa, cara, o que é que você fez comigo? Me transformou numa molenga e depois atira a minha saia de linho fino num sofá à meia-luz, seis horas da tarde de uma tarde de locutor de esporte.
Te amo. Te amo mesmo. Me desculpe por tudo o que falei, por tudo o que disse, por tudo o que gritei.
Aquela noite, eu não consigo esquecer. Eu estava tão brava com você, brava comigo, por não ser mais delicada, por sempre te espezinhar, e por te fazer fazer um esforço duplo, o meu e o seu, pra esse casamento dar certo. E então eu estava chorando, chorando baixinho, porque odeio chorar, odeio ser fraca, de costas para você. E não suportando mais aquelas duas horas que passamos de mal, de repente você me busca debaixo do edredom, sobe no meu travesseiro - sua cabeça ocupa todo o espaço! - e então eu reclamo, rindo, rindo do meu amor de travesseiro, que me pede desculpa até quando eu sou a culpada, quando causei a briga e não sei fazer mais nada. E ele me pega, me olha assim tão fundo, diz que o meu nariz está gelado, mas que ele não se importa, e me vê chorar. E eu ando tão triste, tão confusa. Agora, calma, ele me pergunta o porquê. Não quero dizer, não tenho certeza. Ele me abraça, me aconchega, me faz um cafuné, me enche de desejo. E então eu percebo que não quero outra coisa além de um amor de travesseiro.
Talvez um amor de travesseirinho.
E meus olhos na sala se enchem de água.
- O que foi, amor?
- Estou chorando.
- Eu sei. Percebi. Mas por que é?
- Porque você me suporta.
Ele ri.
- Quero te contar uma coisa.
E me beija e estica a alça do sutiã.
- Vamos em frente.
Eu respiro fundo. Quero arrancar os pulmões. É ele, o meu prometido, o meu comedor de sapos, um verdadeiro príncipe. Eu sou rã.
Então eu solto o ar lentamente. Olho nos olhos dele, que tira uma lágrima sacana que teima em rasgar o momento. E uma trilha de fogo daqueles olhos castanhos. E é tudo o que eu preciso.
- Estou grávida.
E ele me olha. E explode de alegria. E chora e ri, e me põe de lado, esquecendo por um momento que sem mim não há cria. Mas então me pega de novo, de pé, me gira, e depois me olha preocupado, se perguntando se me chacoalhar pode ser ruim para o bebê. E como é que pode? Eu demorei duas semanas para perceber, mais duas para entender, três dias para confirmar, e mais dois para me acostumar. E ele age assim, em menos de dez segundos.
Ah, o meu amor... Um amor de travesseiro. Que à noite, de madrugada, quando acha que eu estou dormindo, percorre minhas costas com os dedos, beija meu queixo, e me puxa pra perto.
Um amor de travesseiro.
Agora são dois.

domingo, 17 de outubro de 2010

AINDA TENHO MUITO A DIZER

Principalmente quando não digo nada. Quem sabe um gemido rouco, um grito ao alto, uma asa que corta o céu. Gosto quando sou só eu e o fundo, uma prisão infinita, um rasgo no mar de palavras não ditas, e que por enquanto permanecerão assim, silentes, mas não estagnadas.
Gosto do cheiro das palavras, gosto de tocá-las, de sentir o gosto delas na ponta da língua quando ainda nem sequer as mastiguei. Primeiro é sonho... O momento da antecipação.
Tenho ainda a dizer o que não digo. Tenho fundura, rastro, certeza, mil dúvidas, um eco. Grandezas proporcionais, o toque de um som, a sílaba que cai no hiato, e o verso que às não vem.
Então fico muda. Mudez improdutiva, estéril. Quando não consigo dizer no silêncio aquilo que tanto quero gritar. Dois silêncios diferentes, cada um, a seu modo, arrasador. E essa loucura de não poder dizer o que se sente!... De ser tão amigo das palavras silentes, tácito acordo, e quando se precisa delas, elas somem, fogem, escapulem (escapolem, escapulam?), escorregam naquele brinquedo da infância e vão para longe, onde não podemos alcançá-las, onde eu não posso alcançá-las, distante demais para lembrá-las, ou ainda longe demais que as não conheço.
E gosto desses silêncios. Prefiro o primeiro. Quando a minha voz me entende melhor do que entende todo o mundo ao redor que finge que sente algo que realmente não se diz, não se fala, mas carrega. Eu e o meu silêncio, assim, de lado, de banda, de acordo. Sou mais bela com ele.

sábado, 16 de outubro de 2010

AO MEU MENTOR

Ainda lembro a primeira vez em que o vi. Branco, cabelos de um tom indefinível de castanho, desses louros assim, meio escuros, meio acabrunhados. Aparelho nos dentes e boné. Meu Deus, quem diria que era um professor? Ele é. Mas foi além, muito além disso. Ele foi o meu mentor desajustado, dos ajustes mais perfeitos, mais sinceros, mais bacanas. Encaixou. Pude até ouvir um "clic" quando a ficha caiu: "É ele!".
Confesso que no início menosprezei, por medo, eu estava amedrontada. Mas isso durou apenas uns dois, três minutos. Até que sua primeira aula começou e eu entendi que era ele. Ele e ele. Engraçadíssimo. Sacana. Eu tentei... Mas o riso explodiu, inevitável!
Eu sinto uma saudade imensa porque este homem-rapaz foi para mim muito mais que um mestre. Ele deu valor a coisas minhas que ninguém jamais deu... Como uma boa resposta, como citar Paulo Leminski e a poesia marginal numa prova. Ele deu valor a uma sede que existia aqui por dentro - esse meu interior ainda misterioso - e eu nem ao menos conhecia sua extensão: a sede de escrever. De viver. Meu Deus... De viver! Eu só devo agradecer.
Um homem inteligentíssimo. Um garoto. Inefável. Poderia ser meu irmão mais velho, imaginem só. Ouvir suas histórias, contos incisivos, picantes, azedos, melados, lindos, bons, era como ser transportado com um chute no estômago até um local inimaginável. Cores escorrendo pelas paredes, o sonho e o talento vibrando por cada acento agudo na voz, quem sabe uma batida sussurrada, o eco que assenta, e o fim magistral.
Eu amei cada segundo com esse professor. Eu amo. E muito. Ora, nem me contradigo! Por mais complicada e indecisa e desajuizada que eu seja - por ter deixado arrefecer nossos caminhos cruzados, o meu e o dele -, ainda assim digo sem errar: Ele foi o meu mestre literário. O original. O primário. O primogênito que atiçou minha mão direita, com a qual escrevo. Ele foi maravilhoso. Ele é.
Bruno. Pardo. Moreno. Nem é. É branquinho... Aparentemente calmo. Mas experimente provocá-lo. Não, não experimente.
Sabe-se lá por onde anda agora. Será que lembra de mim? Será que sente saudades? O meu letrado futuro doutor. Mestre já é. Certeza. O nosso. De uma turma inteira. Não só uma turma, mas uma trupe barulhenta e ainda assim acanhada de amigos que foram consquistados com um tiro no peito. Irrevogável.
Hoje, esse sangue nostálgico e saudoso que escorre do trauma de bala é o mesmo rio que flui e jorra dos meus dedos quando quero meditar, escrever. Penso nele, aquele professor, e fico matutando... Eu também quero vencer. Vencer a mim mesma. Vencer as circunstâncias que diziam ser improvável que um coração interiorano caísse nas graças do mundo vasto mundo.
Ainda penso nele quando escrevo, penso em vitória, em cansaço, em sirene. Meu mentor. Sem seu estímulo teria sido tudo muito mais lento. O que posso dizer? Veja se volte. Tenho saudades. E o que mais? Obrigada. De B para B, mil vezes: Obrigada!

Ao meu mentor.

OLHA A GENTE!


Saiu no jornal. Da esquerda para a direita: Bianca, Alberto, Rapha, Álvaro e Bárbara (eu).

SEJA UM IDIOTA

Aos que julgavam uma desvantagem.
Texto de Arnaldo Jabor, o polêmico sem causa.


A idiotice é vital para a felicidade. Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins. No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota!
Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você. Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele. Milhares de momentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto. Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça? hahahahahahahahaha!…
Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor ideia de como preencher as horas livres de um fim de semana? Quanto tempo faz que você não vai ao cinema? É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí, o que elas farão se já não têm por que se desesperar? Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não.
Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas… a realidade já é dura; piora se for densa. Dura, densa, e bem ruim. Brincar é legal. Entendeu? Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço, não tomar chuva. Pule corda! Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte. Ser adulto não é perder os prazeres da vida – e esse é o único “não” realmente aceitável. Teste a teoria. Uma semaninha, para começar. Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são: passageiras.
Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir… Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!
Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho
gostoso agora? A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios.
Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche.

(Arnaldo Jabor)


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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

+ 21 maneiras simples de driblar a timidez


Classificação: Para os desesperados

Quando criança, eu era extremamente tímida. Quem convive comigo hoje - e nunca lidou com meu eu do passado - certamente não me reconheceria lá pelas orlas da infância. Por tal motivo, resolvi escrever este artigo aqui de utilidade pública. Para que todos os tímidos possam um dia - ou daqui a dois minutos, quando terminarem de ler a postagem - se tornar grandes ex-tímidos, graças a essa tonelada de palavras de estímulo - que nada mais são do que besteira -, mas que ainda assim podem fazer proezas pela sua vida (que até agora foi tão auto-depreciativa e flagelada, à margem das delícias de ser um ser social). Pois bem, aos que duvidam, eu garanto: todas essas sutilezas aqui descritas foram testadas por amigos, conhecidos, parentes, e até por mim mesma - tornando-me este ser de um metro e meio que hoje não teme ninguém. E se não funcionar com você, bem... É o caso de procurar um especialista.

1. O primeiro percalço a ser driblado nessa sua trajetória é, sem dúvida, ir a um supermercado 24h vestindo pijama ou de pantufas (de preferência à noite, óbvio).

2. Diga "oi" para a moça do bombom.

3. Agradeça quando algum porteiro abrir a porta para você.

4. Sorria ou converse no elevador (até mesmo sozinho, se for o caso), soltando comentários rasos e frases educadas.

5. Nunca se esconda na hora do "Parabéns", nem fuja no momento dos discursos. Isso faz parte de um processo de conhecimento importantíssimo. E se mandarem você dizer alguma coisa, retruque, sorrindo: "Até parece!"

6. Se você for um menino em período escolar, experimente ultrapassar o muro de Berlim invisível no meio da sala (bom, isso existia no meu tempo), e sente-se ao lado das meninas. Se for uma menina, sente mais perto dos meninos, mas sem parecer muito atirada, ou descole umas amiguinhas extrovertidas e se infiltre.

7. Não fuja da roda, nas festinhas à la boite.

8. Ouça música boa. Deixe de lado essa metálica que te acossa!

9. Compre um chapéu de frevo. Use-o. Eu te desafio.

10. Pegue leve quando te derem uma zoada. Desencane. Rir de si mesmo faz tudo parecer tão mais fácil!

11. Crie um blog para falar de besteiras, tudo o que vier em sua cabeça. Extravase. Qualé, pessoal, os blogs não estão assim tão defasados... Tem tanta gente ganhando dinheiro com isso. Tente até um videoblog, se embarcar nessa de uma vez.

12. Coma com a mão. Em restaurantes meio chiques, pizzarias, na casa da sua avó... Não importa. Assim, quem vai sentir vergonha por você são os outros. Bacana, né?

13. Cante alto no karaokê do shopping. Cante na rua, no carro, no ônibus. E se alguém rir do seu desafino, solte uma piscadela das boas.

14. Vire o boné. Desabotoe a camisa. Sacuda o cabelo. Uns tapinhas na cara.

15. Solte uns peidinhos na frente da sua mãe.

16. Aprenda a barganhar.

17. Coma sua meleca. E não se afobe com quem criticar. Nada de ficar vermelho. É sua mesmo. E o que vai, volta.

18. Converse mais com seus parentes, torne-os chegados. Eles sempre dão um jeito de expor os seus defeitos de uma maneira leve e engraçada, de modo que isso também vai perder o peso depreciativo para você, tornando-se apenas o que são de verdade: meros defeitos. E não desculpas para um suicídio.

19. Leia gibis publicamente. Por quê? Sempre vai ter pelo menos um cara no seu círculo de conhecidos que lê também, mas nunca teve a audácia necessária para admitir. O resultado? De tímido, você vira o interessante corajoso.

20. Não tenha medo de errar palavras, dizer besteiras. Todo mundo erra mesmo, isso até eu já aprendi. Se for o caso, se enturme com um nerd por aí e faça ele te ensinar umas frasesinhas impactantes. E mais: conte umas piadas, que tal? Nunca esperaram isso de você, não é? Por isso mesmo. Vindo do ser mais impróval, se torna ainda mais engraçado.

21. Por fim, a regra de ouro. É simples, é íntima: nas apresentações de slide, trabalhos, eventos e afins, improvise, não se prenda ao manuscrito, diga aquilo que absorveu. Olhe reto. Olhe na cara de quem te assusta. Olhe bem nos olhos do professor. Olhe bem no rosto do seu sonho de consumo. Seja na faculdade, na escola, no seminário. Demonstre confiança. Olhe nos olhos de todos eles. E pense: "Venci."

DESABAFO REVOLUCIONÁRIO


A preguiça nada mais é do que um bicho engraçadinho e lento-rastejante, que sobe em árvores e tem uns olhinhos marejados. É um mamífero que, assim como os ursos – que hibernam durante todo o inverno –, nos ensina uma verdadeira mensagem de vida: por que perder tempo com meias palavras, se você pode simplesmente dormir e poupar energia para momentos críticos, quando o clima o impede de caçar? Ou ainda, seguindo o exemplo deste animal tão sábio que é a nossa querida Bradypus, por que não se arrastar esplendorosamente pelo chão de húmus da floresta, curtindo o clima tropical e o carregado arzinho amazônico?
De verdade, quero entender por que o senso comum condena todas essas coisas. Mas se a preguiça é algo tão lindo, minha gente! Veja ainda os políticos, por exemplo. Eles fazem da inércia o seu padrão de vida... E os gregos? Do ócio, a flor primária do saber, a filosofia!
Eu simplesmente não entendo. Mas deixo esta questão no ar. Àqueles que puderem me responder, mandem um e-mail, mandem cartas. Quero entender porque a preguiça é tão mal vista, tão julgada, tão arrasada por todos. Ora, quem nunca se espreguiçou, que atire a primeira pedra! Todo mundo tem ao menos uma “ex-preguiça” para contar. Admita. Esse corpo-mole não mente.
E só para situar, essa eu compartilho com vocês: o que eu ouvi de gente reclamando durante as eleições... Não foi brincadeira não. Gente que faria de tudo para escapar do segundo turno. "Sair de casa para votar de novo? Mas que chato!". E sabem o que mais? Está certo. Essa democracia não serve para nada mesmo... A solução é nos arrumarmos, daqui para frente, com o que tiver. Vamos proclamar a preguiça nossa única representante federal, municipal, estadual, orbital... E assim a gente escapa de mais um pleito de fastio.
É claro, a ideia ainda precisa ser amadurecida. Vamos construir uma teoria de peso, e, assim, aguardo sugestões.
Mas não contem à vovó esta minha confissão. Ela ainda espera que eu vá arrumar a bagunça instalada há meses debaixo da minha cama... Mas quem sabe eu ainda tomo coragem e respondo na cara dela: "Ah, vó, no dia que arrumarem o Brasil, a gente conversa!".