quinta-feira, 31 de outubro de 2013

ÂNCORA, EU

São só 19 anos e eu já estou muito cansada "do peso da minha cabeça". Cansada de... Tentar dar razão à própria existência. Tentar agarrar o mundo com braços e pernas. Cansada de tentar ser. Cansada dos arredores, do que vai dentro, e do que (me) atravessa. Tão cansada de ter problemas! Tão cansada de saber que não sou a única a ter problemas. Tão cansada de chegar a alguém e dizer: "Tenho problemas", e então olhar bem fundo dos olhos dessa pessoa, ou nem tão fundo, basta a superfície tão obscura e tão clara do rosto, e saber imediatamente que essa pessoa também tem problemas. Tão crus, tão tristes quanto os meus. E que me despreza. Me despreza a partir de agora por eu ter cogitado a possibilidade de que meus problemas fossem mais duros que os dela... Não era isso. Eu apenas buscava uma boia, uma alma alheia na qual me ancorar por alguns instantes. Soçobro. Todos temos problemas, Bárbara. Se eu te contasse os meus...
Tão cansada dessas pessoas que sempre encontram uma forma de elogiar defeituando. Que parecem dizer uma coisa, mas na verdade dizem outra. Tão cansada de não ter para onde correr quando me sinto muito, muito melancólica. Tão cansada de não conseguir dizer ao mundo: ESTOU CANSADA! Não há quem se importe. E com razão. E tão cansada de ser aquela em quem pregam essa nova placa: risonha.
Não sou.
Quero me lamentar, ranger dentes. Quero, por fim, me libertar da tirania alheia. Dessas pessoas que se pensam no direito de tratar a todo mundo do jeito que for, porque são tão legais, porque são tão astutas. Astutas, sim. Amáveis, não. Não-legais. Tão cansada de não conseguir dizer o que preciso dizer. Tão cansada de não ser capaz de chamar à consciência aqueles que incomodam. Tão cansada de não conseguir ser eu. De ter as opiniões contrariadas, os rótulos martelados com tanta força: pedante, insegura, volúvel, competitiva.
Eu não sou! Eu sou uma mistura do que eu via nos olhos da minha mãe quando ela estava mais por perto e me olhava com amor. E daquilo que eu vejo quando me olho no espelho, e tento entrar bem dentro de mim pela minha pupila refletida, e então me enxergo como alguém de fora, e as coisas que vejo... São pavorosas! Mas de modo nenhum sou aquilo que me obrigam a ser, fruto do sufocamento das coisas que não querem que eu seja.
Eu estou muito cansada de não ter âncora.