domingo, 19 de dezembro de 2010

FRASES CÉLEBRES PARA DESCONTRAIR


Oi, pessoal! Essa antologia de citações venenosas foi extraída do livro "O Melhor do Mau Humor", de Ruy Castro. Espero que gostem e, se gostarem, vale a pena comprar o livro... É uma boa munição de respostas rápidas para as horas críticas.

Animais

"Meu animal favorito: bife."
(Fran Lebowttz)

Beijo
"O homem rouba o primeiro beijo, implora pelo segundo, exige o terceiro, recebe o quarto, aceita o quinto, e suporta os restantes."
(Helen Rowland)

Casamento
"O segundo casamento é o triunfo da esperança sobre a experiência."
(Samuel Johnson)

Crianças

"Só pergunte a uma criança o que ela vai querer para jantar se ela estiver pagando."
(Franz Lebowttz)

Dinheiro

"O dinheiro pode não comprar a saúde, mas eu me contentaria com uma cadeira de rodas cravejada de diamantes."
(Dorothy Parker)

"As únicas pessoas que pensam mais em dinheiro do que os ricos são, naturalmente, os pobres."
(Oscar Wilde)

Egoísmo

"Egoísta, s.m. Um sujeito que pensa mais em si mesmo do que em mim."
(Ambrose Bierce)

Filosofia
"O truque da filosofia é começar por algo tão simples que ninguém ache digno de nota e terminar por algo tão complexo que ninguém entenda."
(Bertrand Russel)

Governo
"É uma pena que todas as pessoas que sabem como governar o país estejam ocupadas dirigindo táxis ou cortando cabelo."
(George Burns)

Homens
"A única profundidade que os homens admiram numa mulher é o seu decote."
(Zsa Zsa Gabor)

"Homens são criaturas com duas pernas e oito mãos."
(Jayne Mansfield)

"Uma vez igualadas aos homens, as mulheres se tornam seus superiores."
(Sócrates)

Ilusão
"O sábado é uma ilusão."
(Nelson Rodrigues)

Jornalismo

"Primeiro, apure os fatos. Depois, pode distorcê-los à vontade."
(Mark Twain)

Jovens
"Jovens de todo o mundo: envelheçam."
(Nelson Rodrigues)

Literatura

"Quando se diz que um escritor está na moda, é porque ele é admirado por menores de trinta anos."
(George Orwell)

"Alguns livros são do tipo que, quando você os larga, não consegue pegar mais."
(Millôr Fernandes)

Moda
"Certas roupas femininas nunca saem de moda. Apenas ficam mais ridículas com o passar dos anos."
(Fred Allen)

Mulheres
"Amo as mulheres, mas não as admiro."
(Charles Chaplin)

Negócios

"Reuniões são indispensáveis quando não se quer decidir nada."
(John Kenneth Galbraith)

Ódio
"Sou livre de qualquer preconceito. Odeio todo mundo, indistintamente."
(W. C. Fields)

Pais
"Papai e mamãe eram duas crianças quando se casaram. Ele tinha dezoito anos, ela dezesseis e eu três."
(Billie Holiday)

Paixão
"Muitos homens que se apaixonam pela covinha de um sorriso cometem o erro de se casar com a garota inteira."
(Stephen Leacock)

"Estou apaixonado pela mesma mulher há 41 anos. Se minha esposa descobrir, vai me matar."
(Henny Youngman)

Rock
"Não sei uma nota de música. Nem preciso."
(Elvis Presley)

"Adoro Beethoven, especialmente os poemas."
(Ringo Starr)

Sexo
"É perda de tempo procurar zonas erógenas no corpo de uma mulher. Ou elas estão em toda parte ou em parte alguma."
(Joseph Heller)

"Nada mais grotesco do que dois americanos se congratulando por ser heterossexuais. Isto só acontece nos Estados Unidos. Nunca vi dois italianos se congratulando por gostar de mulheres. Para eles, isso é normal."
(Gore Vidal)

"O ato sexual é uma mijada."
(Nelson Rodrigues)

Silêncio

"Silêncio - aquela insuportável réplica."
(G. K. Chesterton)

Transporte
"Odeio carros. Os antigos inclusive. Prefiro cavalos. Pô, pelo menos os cavalos são humanos!"
(J. D. Salinger)

"Avião: é mais pesado do que o ar, tem motor à explosão e foi inventado por um brasileiro. Não pode funcionar."
(Vinícius de Moraes)

Últimas palavras

"Hei de fazer do Brasil o líder dos países pobres."
(Luis Inácio Lula da Silva)

Vaidade

"Só conheci três gênios na vida: Pablo Picasso, Alfred North Whitehead e Gertrude Stein."
(Gertrude Stein)

Xenofobia

"Um americano pode viver vinte anos no Brasil e, quando volta para os Estados Unidos, ninguém o chama de brasileiro. Já ao nativo, ao indígena, ao aborígine, é proibido sair da taba."
(Tom Jobim)

Zoo

"O tipo de sujeito que gosta de passar o tempo contemplando um camelo babar, araras matraqueando ou um lagarto comendo moscas, é exatamente o tipo de sujeito cuja debilidade mental deve ser combatida, não estimulada."
(H. L. Mencken)


DE NOITINHA

O vento quente na noite fria
O vento frio na noite quente
Árvores que sussurram na noite vazia
Um gole em seco na rua escura

A fria noite de noite crua
Um sussurro pesado de meias palavras
Coruja branca na noite sem lua
Um peito pesado de frases não ditas

Um mar de estrelas desiludidas
Silêncio, silêncio, silêncio
É noite, é noite, tão noite que dói

E explode no céu então o sol de alegria
Um riso abafado
Um pulo sem fardo

E um poema assim, tão inacabado!...




CASA, AMOR E GASOLINA (parte I)

Ele chegou tão desnorteado em minha casa que, a princípio, tive medo. Veio até a porta arrastando-se pela calçada coberta de graminha como um coxo, deixando um rastro de sangue atrás de si, e uma poça escura bem no lugar onde parou sem ar.
No momento, eu acabava de sair de casa, estava ainda com as chaves na mão e mil coisas para fazer, quando avistei aquela massa humana e ensanguentada vindo em minha direção.
O pânico foi imediato, assim como o choque, que me paralisou. Contudo, bastou fitar seus olhos logo abaixo de mim para que uma pena brutal me atingisse em cheio. Não havia muito que fazer, afinal. Sendo enfermeira, deixei o instinto de sobrevivência de lado e acionei o instinto “ajudar ao próximo”. Larguei a bolsa e as chaves no chão e me agachei em direção ao seu rosto bronzeado, de alguém que trabalhava no sol. Estava retorcido de dor. As mãos que tentavam agarrar meus braços em busca de ar e socorro eram calosas como as de um pedreiro.
- Ei, camarada... Tudo bem aí? – obtive apenas um grunhido resfolegante como resposta.
O homem parecia um cachorro estufado, babão e à beira da morte.
- Ok. Vamos te tirar daqui.
Não foi fácil arrastá-lo escada acima até a varanda sob o alpendre. Reclamei um pouco, falando comigo mesma, enquanto pensava na melhor forma de tratar os ferimentos que agora eu observava de perto.
Foi fácil reconhecer as marcas. Eu lidava com aquilo todos os dias, na escola onde trabalhava, ao tratar das crianças que conviviam de perto – algumas vezes até dentro de casa – com a violência carniceira. Aqueles ali eram buracos de bala. Nas pernas, no abdome, e um inchaço no ombro direito.
- Pesado, hein?! Vamos, só mais um pouquinho. Preciso pelo menos te colocar na sombra.
Instantaneamente, ele fechou os olhos, como se assim pudesse ficar mais leve.
Foi o que imaginei. Ofegava.
- Com que gente o senhor foi se meter?... Espero que não esteja jurado de morte. Isso seria realmente um problema. Pronto.
Vi um traço de humor macabro em seus olhos, quando ele os abriu e notou que eu começava a rasgar-lhe a camisa – que um dia fora – azul escura, encharcada de sangue.
- Você... Você sabe...
- Shh... Eu sei o que estou fazendo. Sou enfermeira.
- Por favor, me ajude – ele agarrou meu braço, cerrando os dentes para não gritar de dor quando comecei a procurar mais buracos em sua pele.
- Tudo bem. É o que estou fazendo.
- Será que você pode dizer onde estou?
- Bom... – eu olhei rapidamente para ele, franzindo as sobrancelhas. – Estás em Macapá, afastado do centro da cidade. Ahn... Estamos perto da Lagoa dos Índios.
- Macapá... Macapá... Amapá.
- Isso. Isso. O meu nome é Beatriz. Bia, se preferir. Acho que nesse estado não vais conseguir dizer o nome todo. Trabalho numa escola pública, no Cabralzinho, como enfermeira. Esta é minha casa. Estás na minha casa, no Buriti, e tudo vai ficar bem.
Eu falava, tentando distraí-lo, enquanto avaliava o resto dos danos com a mão empapada de sangue.
- Dói aqui? – apertei seu ombro.
- Ai!
- Está fraturado. Provavelmente a clavícula. Mas que coisa, hein? Precisamos ir para o médico. Acho que te trituraram... O que tu fizeste?
Ele fechou os olhos.
- Eu atrasei você.
- Realmente. Mas duvido que seja por isso que te moeram desse jeito.
- Por favor... Não me deixe aqui... Eu vou morrer. Não estou vendo direito.
- É o menor dos seus problemas. Tudo bem, já disse que não deixo. Você escolheu a porta certa para vir morrer, porque não vai. Mas agora... Tu também precisas me ajudar, certo? Vou ter que te colocar dentro de um Fiat velho e apertado e correr para o hospital. Mas para isso precisas levantar e se apoiar em mim, pode ser? Vamos no três. Um... Dois... Três. Isso. Muito bem. Meu carro está logo ali. Só mais um pouquinho. Aguente firme!
Aquele foi um dia surreal. Eu saíra de casa às seis da manhã, para encontrar um moribundo ensanguentado bem na porta. Um moribundo sem nome, sem pistas, sem memória.
Mas isso não significava que eu ia ficar sem respostas.
Ele havia feito com que eu perdesse uma segunda feira agitada na escola... Não fazia mal então que, em troca, fosse submetido a um pequeno interrogatório.
Mas eu duvidava que ele fosse se lembrar. Não conseguia raciocinar direito, os olhos estavam vidrados, os membros convulsivos, e a barriga toda furada. Até mesmo depois de atendido, quando voltei com ele em silêncio para a minha casa, seu olhar perdido permanecia confuso.
Era, sem sombra de dúvidas, um bandido. Devia estar metido com gangues, drogas, roubos, alguma fuga do IAPEN... qualquer tipo de coisa assim. Eu não duvidava e, apesar disso, não tinha medo. Só o que corria pelas minhas veias era uma curiosidade mórbida. Tentei controlá-la até que ele estivesse instalado. Na minha casa.
A amnésia momentânea tinha vindo bem a calhar. Por uns dias, até a recuperação completa, ele estaria fora das ruas e, se Deus quisesse, em segurança. Trancafiado num dos quartos da minúscula casa de uma enfermeira solteira e de poucas posses. Bem. Eu duvidava que ele pudesse reclamar de algo. Mal falava, e aquela situação deveria ser muito melhor que seu estado anterior.
O médico havia dito que a perda de memória se devia, provavelmente, a alguma experiência muito traumática que ele vivenciara havia algumas horas. Talvez demorasse uma soneca para voltar. Ou talvez as memórias sumissem por meses. Ou talvez não voltassem. Era difícil precisar, principalmente com tão poucos mecanismos, e ainda por cima precários, como o que havia no hospital onde o levei. Era muita ciência, muita predestinação, muito surrealismo para um médico cansado e cheio de olheiras de um hospital quase interiorano.
Então, eu e o baleado ficamos acertados tacitamente que ele permaneceria em minha casa.
Numa noite, depois de trocar suas bandagens, enfaixar com gaze nova os seus pontos de bala, e massagear a clavícula quebrada com azeite de andiroba, ele adormeceu.
Com calma e silêncio – coisas antinaturais numa pessoa elétrica e falante como eu -, tive o cuidado de colocar sua tipoia de volta como se estivesse tratando de uma criança. Então pude olhar melhor para ele.
Fazia duas semanas que estávamos naquela rotina. E ainda assim todo dia parecia algo novo. Ele me olhava, e me olhava, e me olhava... Enquanto eu tratava dos ferimentos. E nunca dizia nada. Quase nada. A não ser, é claro, aquele “obrigado” murmurado e emocionado depois de cada dia de curativos e esparadrapos.
No total, ele parecia um homem calmo. Algumas vezes, eu me excedia e falava tanto, mas tanto... E ele ouvia. Isso era o mais engraçado. Tinha comentários estranhos, engraçados ou inteligentes para fazer sobre o que quer que eu dissesse, e ainda assim não se lembrava de nada antes do dia em que chegara arrastando-se até a minha porta. E agora eu tinha certeza de uma coisa: ele não era um bandido.
Não um bandido no sentido mais brutal ao qual costumamos associar. Não... era algo mais. Podia até ser do tipo obscuro, o que eu duvidava, mas havia nele uma passividade régia, um jeito calmo, controlado, reservado de conversar. Sua voz era sóbria, seus gestos eram contidos e ele nunca reclamava. Transpirava até certa autoridade. E apesar de tanta calma e paz, os seus olhos transbordavam mistério e palavras. Vinte e quatro horas por dia.
Olhei para ele. Tirei-lhe aquele monte de cabelo liso da testa e penteei-os para trás. Sim, agora estava com os tais olhos fechados. Mas normalmente, esses mesmos olhos, olhos cinza, costumavam olhar para mim como se soubessem quem eu era, o que queria, como se conhecessem meus planos, minha alma. Havia um calor sinistro e provocante ali dentro. Um calor que beirava a estupidez romântica dos poetas. Um desses calores que a gente encontra nos olhos da nossa mãe, ou nos nossos próprios olhos, quando estamos de algum modo apaixonados. E seja pelo que for.
Ele tinha esses olhos. Cinza. O que me fez deduzir que não era um nativo da minha cidade. Mas não apenas por suas características genéticas, tão patentemente “sudeste”, “sul”, ou sei lá o quê... Mas também pelo sotaque. Era difícil de rastrear.
No dia seguinte, depois do café, ele pediu que eu o levasse até o deque. Não era normal que eu o arrastasse pelos minúsculos cômodos da casa, mas algumas vezes ele gostava de olhar para fora, pela varanda do quarto onde estava ou ainda pela janela de trás, que dava para a lagoa.
Minha casa era pequena, como se feita para alguma boneca Polly. No entanto, havia ali uma graça infantil que me encantara desde que eu saíra da casa dos meus pais em busca de um lugar só meu. Eu tinha dois quartos, um banheiro, uma cozinha, uma sala ampla no térreo e um deque, numa casa de dois andares. Era tudo o que eu precisava. E, afinal de contas, sem pagar nenhum centavo, já que o imóvel tinha sido presente do papai. Um brinde à independência dependente!
Ao ar livre no deque, ajudei-o a sentar-se numa das cadeiras acolchoada e redobrável e ficamos a observar o céu nublado de dezembro. Imaginei que o tempo não estivesse exatamente “frio” se comparado ao frio que ele estava acostumado - se fosse mesmo do sul ou sudeste -, mas ainda assim, passados alguns minutos eu voltei ao quarto e apanhei um edredom para envolvê-lo. Com o braço direito imobilizado, e o resto do corpo enfaixado, ele não fazia quase nada sem ajuda.
- Obrigado – disse com um sorriso largo, embora rápido, enquanto eu voltava a me sentar.
Ficamos assim um tempo, em silêncio. Eu terminava a minha caneca de Nescau quente. De vez em quando ele me olhava pelo rabinho do olho.
- Quantos anos você tem? – ele perguntou de repente. Fiquei um pouco embaraçada.
- Por quê?
- Por que o quê?
- Por que queres saber?
- Por... Curiosidade.
- 23. E tu?
Ele me olhou e sorriu.
- Ops! Desculpa.
- Tudo bem. Não é culpa sua eu não poder lembrar.
Eu sorri aliviada.
- Obrigado pelo que está fazendo, Bia.
- Ah... – descartei o agradecimento com a mão. – Não é nada. Costumo ajudar desconhecidos baleados que batem à porta da minha casa e melam meu carro de sangue. É uma espécie de hobbie.
Ele riu.
- Sabe... Amanhã é véspera de Natal. Já tens planos?
Ele me olhou captando meu ar sardônico.
- Você é insuportável às vezes.
- Eu sei!
- É claro que tenho planos. Vou fazer o que você fizer.
- Bem... Então aí complica.
- Por quê?
- Meus pais... Eu passo todo Natal na casa deles. Não sei se eu poderia dessa vez, contigo aqui.
- Mas por quê? Você pode ir, se quiser. Não se preocupe comigo.
- Eu gostaria que tu fosses comigo, essa é a verdade. Mas acho que meus pais estranhariam. Seria estranho, não seria? Contar isso para eles... Bem, fico imaginando quantos anos tu tens.
- E que isso tem a ver com a conversa que estamos tendo?
- Ah, teus olhos dizem que deves ter uns trinta. Não vou chegar em casa toda saltitante e, do nada, apresentar um namorado de trinta anos. Cairia mal. Também não posso esclarecer todo o potencial de bandido que tem o seu histórico recente. Então o jeito é ficarmos por aqui.
- Isso não me parece bem.
- Ei, eu mando aqui. Sou eu quem ainda está com a memória legal, esqueceu? Quem pode se lembrar do próprio nome faz as regras.
- Ok. Você manda. E o que vai dizer pra eles?
- Eu me viro. Gostas de peru?
Ele fuzilou-me com os olhos, mas riu.
- É o que vamos descobrir.

CASA, AMOR E GASOLINA (parte II)

Nossa véspera de Natal juntos, apesar de tudo, foi especial. Eu tinha montado a minha árvore ainda no mês de novembro, e quando o dia 24 enfim chegou tudo já estava pronto. Bastou colocar os presentes sob a árvore e comprar os ingredientes para a ceia. Tudo sairia delicioso, graças aos segredos culinários legados a mim pela minha vó. Eu faria daquele o melhor Natal para ele.
O que não era imediatamente tão difícil, levando em conta a falta de concorrência graças a sua perda de memória.
- Oi, cheguei.
- Oi... – ele veio mancando da cozinha, enquanto segurava o braço na tipoia. Começara a se movimentar melhor pela casa e já fazia pequenas tarefas.
- Tudo bem?
- Tudo. Deixa-me ajudar você com essas sacolas... Só as mais leves. Não quero me estripar.
Ele parecia estar escondendo alguma coisa. Posicionara o corpo bem na minha frente, de um modo um tanto estranho e desengonçado, ficando entre mim e a árvore de Natal perto da escada, e tapando meu campo de visão. Arrastou-me para a cozinha.
- O que você trouxe?
- Tira a mão daí! Caramba... Comes que nem um adolescente.
- Talvez eu seja.
- Ha, ha. Essa é boa. Olha essa cara. Tens até pé-de-galinha!
- Isso é porque eu sorrio muito, você não reparou? E você também não é nenhuma jovenzinha.
Eu nem respondi, pois já estava concentrada em outras coisas. De repente, perguntei, enquanto ele guardava – não com pouco esforço – o peru no freezer.
- O que você tá escondendo? E, ah, deixe isso do lado de fora. Vamos cozinhar agora.
- Algo mais, chef?
- O que está escondendo? Vamos, diga. Não quero ter que usar seu codinome.
Ficamos acordados que, enquanto ele não lembrasse o próprio nome, eu o chamaria de MacGyver.
Quer dizer, eu decidira assim. Havia pensado isso logo no primeiro dia, quando voltamos do hospital, pelo simples motivo de que ninguém sobreviveria a tantas balas e tantos traumas se não fosse, pelo menos, algum pseudo hiper-agente digno de filme.
Ele não teve como reclamar. Na verdade, nem contestou: não sabia mesmo quem era MacGyver.
- De onde você tirou que eu estou escondendo alguma coisa?
- Dá para perceber. São esses teus olhos que te entregam.
Ele me ignorou.
- O que eu posso fazer?
- Comece lavando as frutas.
Ele fez uma careta.
- E tente não morrer com isso.
No mais, a festa foi boa. Meus pais ligaram à meia-noite e tudo correu bem com a troca de felicitações. Sem muitas perguntas, apenas o contentamento de que a filha estava crescendo. Depois das doze badaladas, tivemos a ceia e, quando satisfeito e certo de que gostava mesmo de peru, tivemos a troca de presentes.
Até onde eu sabia, não seria uma troca. Apenas eu tinha saído e comprado algumas quinquilharias para dar a ele. Inclusive um rolo de gaze, numa espécie de piadinha de mau-gosto. Mas a surpresa foi grande quando descobri um pacote suspeito na árvore.
- O que é isso? – apontei para a caixinha e apanhei-a.
- Vamos, abra. É um presente meu pra você.
Deixei cair o queixo.
- Como assim? Quando? Tu...?
- É, eu comprei. Na verdade, não eu. O seu vizinho. Eu pedi que ele me fizesse esse pequeno favor. É um senhor muito simpático, por sinal, mas não pouco curioso. Enfim, contornado esse problema... Ah, claro. O dinheiro. Foi tudo pago com muita dignidade, ouviu? Eu gastei aquela grana que nós achamos no bolso da minha calça jeans, na noite em que vim bater aqui, ensanguentado.
- Eu lembro. Era uma boa grana.
- Mas o presente não é nem metade do que eu queria dar. O que você fez aqui comigo foi... Realmente... Algo estranho. Duvido que alguém mais fizesse. Na certa você pensou que eu fosse um bandido ou sei lá, mas eu não... Eu quero muito acreditar que não sou. E que esse dinheiro comigo era realmente meu. E com ele eu posso fazer o que quiser. E dar um presente a você. E agradecer pelo que fez até aqui. As roupas, a comida, a casa... Eu... Obrigado.
- Claro.
Não quis dizer mais nada. Estava extasiada, surpresa, atônita. Abracei-o.
- E agora é a parte em que você abre.
- Ah, desculpe! – eu ri. – Ainda estou meio pasma.
- Não fique. Até onde eu me lembro, as pessoas costumam ganhar coisas no Natal.
- Você não lembra – abri a caixa.
Era um colar, lindo, lindo. Uma corrente dourada simples contornada por pedrinhas coloridas. Talvez semipreciosas. O dinheiro dele daria para algo assim – mas só se gasto completamente.
- Gostou?
- É lindo... Mas acho que significa que tu gastaste todo o teu dinheiro e que eu não vou te ver longe daqui tão cedo.
Ele viu.
- Venha cá. Vamos experimentar nesse pescoço de ganso.
- Abusado.
Aproximei-me e, com delicadeza, ele apanhou o colar com a mão esquerda e colocou-o em meu pescoço de frente para mim, olhando-me nos olhos.
- Isso é tudo o que sabes fazer? – perguntei, esperando mais alguma reação quando ele apenas ficou olhando, distraído e concentrado, para o meu pescoço. Então me encarou e indicou o braço direito.
- Acredito que você vá ter que se virar com o fecho.
Revirei os olhos.
- Claro. Tanta galanteria não ia dar em nada mesmo! Como sempre, eu faço o trabalho pesado.
- Eu ajudei com as frutas, não ajudei?
Eu sorri e abracei-o de novo.
- Obrigada, é lindo. MacGyver.
Ele afastou-me com uma mão e beijou-me o rosto. Ficamos num silêncio constrangido até que eu desse um jeito:
- Vamos subir. Teu ferimento deve estar doendo. Vou fazer uma massagem e então volto para arrumar tudo aqui embaixo, está bem?
- Certo. Ajuda aqui com essa perna.
Subimos e ele, antes que pudesse disfarçar, logo cedeu ao cansaço. Estava exausto, e desabou na cama.
- Seu ombro tá latejando, não é? – perguntei depois de trocar os curativos no tronco. Ele nem precisou responder. – Não falta muito pra tirar os pontos, talvez semana que vem. Agora, vamos dar um jeito nesse ombro.
Obediente e calado, ele sentou-se ereto na cama para que eu ajeitasse o travesseiro bem direitinho às suas costas. Com a intenção de massagear-lhe o ombro, ajudei-o a tirar a camisa sem mangas, passando-a pelo tórax enfaixado e pela tipoia. Ele fez uma careta.
- Tudo bem aí? – perguntei penteando o cabelo louro escuro para trás, até ver a testa.
- Tudo. E agora? – ele olhou-me.
- O quê?- sussurrei de volta, sem entender.
Ficamos em silêncio um instante.
- Bia...
- Hum?
- Eu... Nada.
Por impulso, beijei-o. Bem de leve. Só encostei meus lábios.
- Desculpa.
- Shh... Não se desculpe por uma coisa dessas.
- Tá bom.
- Mas por que fez isso?
- Juro, eu não sei.
- Talvez devêssemos tentar de novo. Talvez a gente descubra.
Então eu sorri.
- Prometo ter cuidado.
Encostei-me de leve em seu peito e beijei-o. Esbarrei algumas vezes em seu braço, me empolguei, mas ele suportou tudo estoicamente. E me abraçou como se eu fosse de vidro, como se quisesse tocar minha alma. Quando percebi, não havia mais qualquer tecido, nem um fio entre nós. Ele ofegou quando pressionei demais meu corpo contra seu tórax, então desgrudou os lábios dos meus, a mão boa subiu até meu cabelo e enrolou-se nos cachos.
- Desculpe... Eu te machuquei. Fiquei empolgada – ri sem jeito.
- Acho que não existe uma maneira simples de fazermos isso – ele puxou o ar.
Preocupada, comecei a desmontar de cima dele, para que pudesse respirar.
- Afinal de contas – comentei - não é o MacGyver.
Então ele riu, segurando o estômago para não desbocar de vez.
- Calma, calma... – puxou-me de volta. – Espere. Deixe-me pensar.
Ele então me olhou com um brilho travesso nos olhos. Como se tivesse uma ideia. E disse:
- Você sabe cavalgar?

CASA, AMOR E GASOLINA (parte III)

A manhã acordou sincera. Sem nenhuma nuvem no céu, mas fria para os padrões de Macapá. Não chovia, mas o cheiro do orvalho estava ali, em algum lugar. Havia um homem com o dobro do meu peso sob mim e aquilo não me espantou.
- Meus pés amanheceram quentes, pela primeira vez – ele murmurou em meu ouvido.
Eu ronronei em resposta.
- Acho que te amo – ele beijou-me o cabelo. – Vá preparar o meu café.
Eu ri e rolei preguiçosamente para o lado.
- Ah, sim. Aí está a verdadeira intenção. Parece que ao menos o teu instinto masculino tu não esqueceste.
- Se é instinto, não dá para esquecer - ele beijou-me a nuca, sobre o colar delicado que ainda estava ali.
- O que acha de uma voltinha ali no deque, enquanto eu cozinho? Prometo subir rápido pra te chamar. E trago o teu bendito café.
- Tudo bem, eu vou – ele sorriu e custou a levantar-se, olhando-me esparramada na estreita cama. – Porque não quero nem ver sua cara quando lembrar a bagunça que está lá embaixo – ele fugiu para o deque.
Quando subi de novo com uma xícara na mão, encontrei-o debruçado, olhando para a rua molhada da noite. A vizinhança estava tranquila. Com exceção de um homem que passava àquela hora, tão cedo, bem em frente da casa com uma garrafa de coca-cola na mão, dessas de 2 litros, com um Papai Noel e enfeites natalinos ilustrando o rótulo, e cheia de um líquido amarelado e denso. Seu carro estava mais a frente, provavelmente no prego.
- O que estás vendo? – perguntei ao ver seu olhar fixo lá embaixo.
- Eu... Eu acho...
- Ei, o que foi? – olhei de novo para o homem que passava na rua, procurando o motivo para o espanto do meu desconhecido. – É só gasolina. Os carros precisam disso para sobreviver.
Ele riu. Quase.
- Eu sei. Lembro a parte técnica da coisa. Eu só não...
Franziu o cenho e eu me espantei. Ele começou a debruçar-se sobre si mesmo e oscilou, para frente e pra trás.
- Ai, não... Estás sentindo dor? – aquele homem nu no meu deque prestes a desmaiar com um estrondo e acordar toda a vizinhança não era nada bom. - Ei! Fala comigo! – eu bati em suas costas, longe do ombro fraturado.
- Beatriz...
Então ele riu e tentou segurar meu rosto com a mão. Estava estranhamente grogue, nauseado e esfuziante.
- Foi um acidente. Um acidente de carro. Eu não...
- Calma, senta aqui. Senta.
- Não quero sentar. Não posso sentar. Eu estava vindo de Santana. Passei pela penitenciária. Havia um tiroteio. Houve um tiroteio. Uma fuga. Estavam fugindo de lá. E eu passei bem em frente, bem na hora.
- Péssima hora, péssimo lugar.
- Shh... – ele calou-me com um beijo, aos risos. Seus olhos não estavam bem. Ele parecia zonzo. – Eu sei, eu sei, Bia. Eu sei. Eu não lembro bem quem eu sou, mas eu sei... Sei como aconteceu... Eu estava lá. Levei os tiros, no meio do fogo cruzado. Um carro, na correria, bateu na porta do passageiro do meu carro e me arrastou pela estrada. Talvez até o Cabralzinho, não sei. Demorou a chegar socorro. Não chegou ninguém. A polícia não parou. O carro, o outro carro que tinha me batido, entrou no meu pela porta do carona e esmagou meu braço direito. Eu me estraçalhei mais ainda até conseguir sair. Eu lembro o cheiro da gasolina. Podia explodir, então eu tinha que sair e me afastar o máximo que pudesse. Era um Honda Civic preto. Eu lembro.
- Calma...
- Eu saí do carro, me arrastei para longe. Perdi a consciência. Acordei. Me arrastei mais um pouco e então cheguei aqui. Na sua porta. Eu...
Foi nessa hora. Ele virou-se tanto para frente que oscilou de vez. Então seu corpo dobrou-se até que ele estava no ar, em queda livre até embaixo. Gritei e debrucei-me a tempo de ver o corpo nu passar arrastando pelo deque que se transformava na cobertura do alpendre e aí cair bem no jardim de frente para a entrada da casa. Estava morto.
Desatei desesperada a correr pela escada, envolta no lençol que apanhei às pressas, e deixei-me cair sobre ele lá fora. Chorei em suas costas. Estava de bruços. Tive que vira-lo, desesperada, para olhar seu rosto.
Ele abriu os olhos.
- Bia... – tocou-me a bochecha. Eu gritei engolfada em lágrimas, entre alívio e estupefação.
- Meu Deus! Meu Deus!
Ele abriu mais os olhos desfocados.
- Max. Max é meu nome. E eu não sou bandido... Sou só a porcaria de um engenheiro! - ele ri.
Então eu olhei fundo naqueles olhos cinza e ri também, e funguei, maldito susto!, e ri mais. E debrucei-me de vez sobre ele, enchi-o de beijos, e em meio ao riso, foi inevitável perguntar:
- Tu não morre nunca?


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

LIQUEFAZER-SE EM ALEGRIA

O surrealismo o apavorava. A realidade também. Gatos que espreitam no escuro, noites de tempestade, comida azeda, mulheres lindas demais para ser verdade.
Ele tinha medo de flertar no trânsito – mesmo sem ter um carro –, de engolir uma moeda, de magoar quem quer que fosse, e por isso não tinha amigos.
Cigarras que cantavam de modo sinistro anunciando a queda da tarde, adeus ao pôr-do-sol, simplesmente o apavoravam. Ele andava sempre nervoso, as mãos nos bolsos, porque senão corriam o risco de cair. Cigarros jamais, cigarros matam.
Nunca comprara um carro, por receio de um dia, sem querer, arrancar o volante de seu lugar o perder o pouco controle que tinha.
Objetos domésticos não o obedeciam, cachorros enxergavam suas pernas como postes ambulantes. Crianças nunca sorriam. E nada era marcado, nenhum lugar reservado, nenhuma corrente amiga para aquele sujeitinho acabrunhado, amarelo, triste.
Ele era patético.
Mas um dia, que dia!, ele foi feliz. Há um longo tempo, por um curto instante...
Quem não trocaria uma vida inteira de exclusão e existência morna por um átimo de felicidade?
Ele trocou. Foi muito breve, muito breve mesmo, mas quem na realidade determina a vastidão dos fatos é a intensidade deles.
Ele estava no cruzamento de dois semáforos, afogando-se na massa de gente que guerreava por um pedaço da faixa de pedestres, quando veio aquele click – aquele click – que é sempre o prenúncio de que algo foi deixado escapar e era importante; o “click” tão bonitinho e tão mortal que soa em seus ouvidos quando você esqueceu seu filho na escola, a reunião importante na firma, ou o gás aberto. Tão perfeito som, tão útil estalo...
Ele se deu conta, naquele momento, de que até então só o que tinha feito em toda a sua vida fora escapar. Agora mesmo, ali, parado, esperando o trânsito infernal dar uma trégua em meio àquela noite fria, o que estava a fazer? Ele escapava da dura jornada de trabalho, escapava para um apartamento tão estático e sem graça quanto ele mesmo, escapava do mundo inteiro porque tinha medo. Medo. Duas sílabas. Medo de tudo. E junto com o click – o estalo baixinho no ouvido, aquela noção de que seu mundo vai mal e você precisa correr contra as circunstâncias – veio também a decência de, pela primeira vez na vida, correr – de encontro a, a encontro de.
E ele correu. Atravessou a brita crua pelo meio dos carros em movimento. Largou a pasta, que se abriu, fez voarem os papéis.
Gritou. Esperneou de súbita
extrema
suprema
felicidade.
Comprou uma caixa de cigarros, sem deixar de correr, estraçalhou um por um, e depois os comeu sem nem pestanejar.
Ainda frenético, rasgou o paletó, correu mais pelas ruas, um pouco mais, um pouco célere, tirou a gravata, amarrou-a na cabeça como um diadema, jurou que era Rambo. Professou em voz alta para quem quisesse ouvir. E as cabeças apavoradas viravam-se nas calçadas para fitar aquele louco.
O próximo passo foi subir no meio-fio, encostar-se ao parapeito do viaduto, pular de lá de cima e não sentir mais nada – nem medo, não, nem medo, nada de medo! – enquanto seu corpo caía numa velocidade sennômica em direção à água escura.
O mergulho foi tão gelado, tão bom, ensandecido, e as borbulhas que brincaram na pele como um beijo impossível da namorada que nunca existiu. Bem, bem, ele se liquefez naquele mesmo átimo, e por um instante de luz eu sonhei que quem se desfazia não era ele, era eu.
Acordei suado.

TEMPORAL

Que coisa mais engraçada é a vida, é a juventude... Eles se molham sob a chuva como se pudessem parar o tempo, como se pudessem congelar a imagem e viver esse momento para sempre. É bonito.
Mas até então estão bem, o ridículo é o que vem depois. Enquanto as roupas colam no corpo, o cabelo escorre, o jeans suado se aperta, a camiseta transparece, o som dos gritos e de uma alegria quase pueril se mistura aos barulhos e urros estrondosos da tempestade, a vida vai se consumindo em fogo brando, palpável. Mas numa lentidão tão feroz quanto o tempo que passa rápido, aquele que é na mesma medida tão célere e pouco palpável, indefinido.
É noite. Eles estão aí, brincando na água. Estão todos fora todo o dia, o dia inteiro fora de casa, sempre tão fora de tudo. Dá pra sentir o cheiro de orvalho, terra molhada, o calor do dia que sobe do asfalto em nuvens de fumaça, e o aroma inconfundível de hambúrguer, vindo de qualquer lugar, qualquer barzinho à meia-luz com um pingo de consideração para contratar um chef, mesmo que suspeito.
As ruas estão desertas de pessoas, vez ou outra passam carros. Escuridão. Apenas água, poças, pneus ocasionais que, ao percorrerem velozmente queimando borracha, espirram a água acumulada no meio-fio para a calçada.
Aqui só há a luz alaranjada dos postes, que em seu brilho intenso e ar lúgubre albergam uma nuvem de mosquitos procurando morte. Há uma forte despreocupação no ar, mas a tempestade contraria outros seres. Adultos, velhos, crianças dormem. Os que não dormem, ouvem a barulhada na rua, mas já se foi o tempo de se juntar a eles. Os trovões dão mais medo. Liberdade.
São estes jovens que até mesmo sem querer conseguem da vida aquilo que todo mundo quer, e não se dão conta: Felicidade. Palavrinha doce. Que corre na boca e então, no fim, parece despencar como uma caixa de chumbo e cravar-se na língua. Felicidade até quando? Até quando durarem as noites. Até quando durar o dia. Enquanto a tempestade não se for, e for assim, intensa, molhada, assustadora. Enquanto eles forem selvagens. E se houver dor, acima dela, estarão felizes. Ou não?
Se por acaso é real resta saber. Esses jovens que riem e chapinham na água da chuva... Ah, terão seus melhores dias. E dias felizes virão até que a juventude se apague. Não quando se apagar dos ossos, mas do peito. Já que é aí que ela mora.
Um coração bruto e jovem não se rende.

DROGA

Seguindo a mesma linha de raciocínio do meu amigo Pedro Bandeira... Essa droga de vida, essa droga de escola, essa droga de trabalho, essa droga de comida, essa droga de computador, essa droga de férias... Epa! Peraí. Droga de férias?! Quem pode ter dito uma coisa dessas?
A mania de reclamar às vezes nos pega de jeito. E estamos também tão apegados a ela, que esquecemos de desfrutar o momento presente, esse tal agora; o qual, se você olhar bem fundo, ou nem tanto, vai descobrir que é simplesmente maravilhoso... Então, para começar, por que amaldiçoar as férias? Esse excesso de negatividade e ranhetice fica para uma outra hora. Por enquanto, desfruta. Toma o que é teu por direito, esse mês ensolarado e chuvoso, e se vinga de uma vez do capitalismo. Vilão tão complexo que nos obriga a estudar durante a maior parte das nossas vidas. Esse. Esse. Esse. Que se repitam as palavras, deixa assim!
Ora, não reclame, quem sabe viva um pouco. Viva um pouco mais. Não quero mais alimentar essa mania de parafrasear e emprestar dos grandes autores, também não intento mais um "Filtro Solar" por aqui. Mas sobre chicletes e equações de álgebra, bem, curta o seu chiclete, e vá mascando até quando der. Acabou o açúcar, acabou o tempo da prova, cuspa, saia. Mas, gente, vamos aproveitar. Reclamem só quando estritamente necessário.
E deixem o lado rabugento comigo.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

BUROCRACIA

No meio do processo tinha um entrave
Tinha um entrave no meio do processo
Tinha um embargo
No meio do processo tinha um embargo
Nunca me esquecerei de mais este estorvo
Na minha vida de petições estagnadas
Nunca me esquecerei que no meio do processo
Tinha um percalço
Tinha um embargo no meio do processo
No meio do processo tinha um percalço