sexta-feira, 15 de julho de 2011

MORRA, FANTA LARANJA!


A Fanta Laranja é o pior veneno já produzido por uma fábrica de detergentes. Como todos sabem (ou desconfiam), este elixir funéreo de cor laranja berrante foi criado pela própria Coca-Cola durante a Segunda Guerra Mundial, a fim de vender na Alemanha nazista e não ter seu lucro europeu ameaçado por causa de um incidentezinho internacional e algumas pequenas desavenças capitalistas.
Assim, sua origem e ascendência duvidosas só comprovam minha tese: Fanta Laranja é veneno.
Fanta Laranja é veneno e todos os seus adeptos fervorosos deveriam ser fervidos numa panela cheia deste "refrigerante".
O líquido que tem a cor malévola das abóboras de Halloween é tão detestável, que o mero pronunciar de seu nome já causa aftas na boca.
A Fanta Laranja é áspera, ruim e má, e sua acidez transforma a região bucal em ninho de formiga sempre que alguém ingere esta porcaria gaseificada. Sem falar naqueles pelinhos e farelos que ficam flutuando no interior da garrafa... Vamos levar a Fanta Laranja a um campo de concentração e queimá-la!
Beba Fanta Uva. Esta sim.

NEM NEYMAR

Nem Neymar é indestrutível. Quem acompanhou o jogo da seleção brasileira nesta última semana, contra o Equador, na disputa da primeira fase da Copa América, pôde constatar que nem mesmo nosso infante craque, apesar da atuação engolível e, até certo ponto, louvável, é páreo contra vento, holofote e tempestade.
Sim, estou falando de seu topete. Ou melhor, do moicano (o que é aquilo, Senhor?!).
Neymar pode até ser "Reymar", segundo a Veja, mas o seu cabelo não é tão soberano assim. Ao sair do jogo, poucos minutos antes do término do segundo tempo, as madeixas ouriçadas e oxigenadas do mancebo já não estavam tão ouriçadas. Tal vastidão loura, que minutos antes parecia uma crina de zebra albina em riste, ao final de dois tempos mais assemelhava-se a uma vassoura velha espigada.
Palmas para o vento, que conseguiu o indizível, a proeza de despentear Neymar e levar embora um pouquinho de sua pompa intragável. Mas palmas também para o próprio Neymar, que, apesar de eu não ir muito com a cara, talvez jogue bola melhor que eu. Mas isto nós ainda vamos ver.
Quanto será a quantidade de gel necessária para manter a crina tesa até o fim da partida?

O QUE PICASSO DIRIA DO PICASA?



Existe arte hoje? A arte é fabricável? Meu querido amigo Picasso teria dito o quê de sua fase azul, se pudesse simplesmente jogar um Photoshop em cima?
Olho para todo lado e só vejo Miley Cirus e protótipos de Miley Cirus fingindo ser artistas excêntricas e estouvadas, quando na verdade sabem bem o que estão fazendo. Comercialmente falando, é claro. Porque no âmbito artístico, não estão fazendo nada. Só mascando chiclete, usando batom azul e vendendo milhões de porcarias do 21º século.
Se existe arte hoje, ela está eclipsada. Se existe arte hoje, ela é esquiva. É uma arte que não penetra, não atinge as massas, fica só na superfície. Ou camadas invertidas. Quem sabe a boa arte, arte de verdade, começa lá do fundo, mas não chega aqui em cima. Permanece submersa, e só os críticos, os intelectuais sujinhos de all star e os verdadeiros excêntricos é que têm o prazer de vê-la, cheirá-la, senti-la, tocá-la. A verdadeira arte. Que arte é esta? Será que existe? Como ela é, como se faz?
Cansa depender de um cenário musical superlotado, mas no fundo estéril. É cansativo filtrar, ou simplesmente fingir que o que consumimos alimenta a alma. Aquela nossa alma apaixonada, cheia de calor, de otimismo, sedenta por experiências extra-corpóreas.
E olha que estou sendo preguiçosa, ao limitar este post sem resposta e sem comentários ao mundo da música... Ainda existem tantos outros mundos artísticos a ser explorados e mesmo assim parece que tudo já foi explorado demais, ridiculamente explorado.
Será que existe redenção para a música? Será que eu e as minhas gerações, e as novas gerações, vamos poder um dia ter contato com aquele sentimento de antes, que já ficou apagado nas dobras das décadas passadas? Aquele sentimento de criar novidade de verdade, de experimentar o novo, de descobrir um jeito novo de falar e fazer música...
Estou supersaturada de batons azuis e "featuring". Eu quero da música um first kiss de verdade.

MELOSIDADE NA BLOGOSFERA

É impressionante a quantidade de bloguinhos bem-intencionados, mas que pingam mel choco, existente por aí. Estava eu passeando pelos sítios cibernéticos e, em menos de dez minutos, lambuzei meus dedos e olhos em dois blogs que, de tão dramáticos, excessivamente melosos, e românticos de uma maneira criminosa, chegaram a me enjoar e me fizeram odiar a raça humana. E a mim, por fazer parte dela. Somos esses seres frágeis, cheios de rebuscamento e firulas que escondem imperfeições medonhas, e ainda assim insistimos em cantar nossos sentimentalismos frustrados aos sete ventos da internet.
Eu neste ânimo, odiando a raça humana e sua pieguice, e todos os blogueiros melosos que deveriam ser queimados na fogueira, quando de repente me dou conta de que meu próprio blog é um poço de candura bem-intencionada e sentimentalismo estafante.
Oh, amigos, o que estamos fazendo aqui? Essa vida de blogosfera é difícil, e ainda insistimos em ganhar o pão e a clientela falando de coisas que, na verdade, ninguém lê nem nunca lerá.
A poesia morreu, a sensibilidade, o cuidado e atenção para com o próximo. Oh, mortais! Eu me demito.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

ESPERANDO O GRANDE AMOR

Oh, garotas, garotas, não se contentem com pouco! O pouco é tão pouco, é tão chinfrim, é tão óbvio e é tão "na moda" que chega a desbotar.
Pelo contrário, minhas caras amigas, se contentem e busquem o muito, o antiquado, o que ficou para trás, e nunca deveria ter ido.
Peçam cavalheirismo, implorem, e, se for preciso, ensinem. Ah, espera, não... Nada de implorar. Se tiver de implorar a um obtuso que seja cordato, então ele não é o cara certo.
Não se contentem com a baba, o ínfimo, com o horário espremido entre as madrugadas insones no vídeo game e as tardes intermináveis de sono. Não se contentem.
Queiram aquele cara que nenhuma outra quer, porque ele não é a escolha óbvia. Aquele que pode te querer quase tão intensamente quanto deseja oxigênio nesta vida vertiginosa. Queira o cara que esperou por você, que zelou por você, que se mostra cordato por atitude própria. Queira o cara que não tem embustes, mas tem sutilezas. Queira aquele cara que vai sussurrar em seu ouvido as coisas mais lindas, mais íntimas... "I've Got You Under My Skin"... "Your body is a wonderland"... "Your taste in my mouth"...
Queira este cara maneiro, que é maneiro de verdade, e não maneiro babaca. Esperem por ele, e não se envergonhem de esperar. E também não se acovardem. Porque, se ele aparecer, você precisa reconhecê-lo no ato.
Queira o grande amor. Não o quase-amor, mas o grande amor. O amor desnudo, o amor com desprendimento, o amor de verdade. Queira o grande amor. Aquele amor que vem com doses de paixão e doses de carinho, que faz a cabeça girar, a pálpebra tremer, as luzes se acenderem e você sair do escuro.
Queira um amor que seja seu por inteiro, e lute para ser o grande amor do seu grande amor. Queira-o tanto como ele querer-te-á quando pôr os olhos em você. Queira o grande amor já sabendo que o tempo árduo de espera valeu, valerá. Faça do seu amor um grande amor, amor sem frescura, sem nó, e as demais coisas parecerão tão pequenininhas...

"A NOSSA MÚSICA"

É normal todo casal ter sua musiquinha temática. E não digo isso de modo esnobe ou debochado. Apenas comento. Mas falemos sobre os curiosos casos em que os casais escolhem como trilha sonora de seus romances canções lindíssimas e inspiradoras como... "Seu guarda, eu não sou vagabundo, eu não sou deliquente, sou um cara carente!".
Eu tinha uma amiga, na época em que morei na chuvosa Belém, que, durante nossa sétima série, namorou um carinha mais velho, da mesma escola, que era "TUDO" com letras garrafais. Bonito, charmoso, educado... Enfim, era bacana.
Os dois foram passar, com suas famílias, a virada do ano lá na Estação das Docas. Ocuparam suas mesas, curtiram o visual, beijaram, blá-blá.
Depois, ela me deu todo o parecer da noite, contou como foi, se divertiu enumerando os detalhes. Até que, em dado momento, minha amiga disse: "Aí tocou a nossa música...". E eu perguntei: "Que música?". E ela me respondeu: "Aquela da Vanessa da Mata com o Ben Harper".
Ah, Deus. Ela estava falando de Boa Sorte (Good Luck). Eu disfarcei uma caretinha e, mesmo ainda ouvindo seus relatos interessadamente, só o que eu podia pensar era: "ISSO LÁ É MÚSICA PARA SE ESCOLHER?????"
Vejam se vocês me entendem. A música fala sobre despedida, sobre um relacionamento desgastado que finalmente acabou, fala sobre dizer adeus a alguém que compartilhou a vida com você, fala sobre ceder à pressão dos "amigos", dos que estão ao redor, de todas as circunstâncias que sufocam e matam estes simulacros de amor que vivemos hoje. Se o amor já é tão frágil e capenga, como o concebemos, por que sufocar ainda mais o bichicho, escolhendo, para ser o tema de um amor ainda jovem, uma música que fala sobre fim e saparação?! Certamente um começo não muito auspicioso, quem sabe até a fabricação de um presságio.
Bem, os meus amigos da história não tardaram muito a desmanchar a relação, ainda que estivessem envolvidas as famílias e tudo o mais. Mas também, com uma música psiquenta dessas!... Que relacionamento suportaria?! Só mesmo um de verdade.
É por isso que, já eu, sempre fui honesta com meus momentos, meus relacionamentos, e suas respectivas músicas.
Mentira!
Talvez tenha sido eu a que já cometeu os erros mais estúpidos desse tipo, alguns ínfimos, mas ainda assim estúpidos. Destas experiências, extraí muito. É verdade quando dizem que aprendemos com cada estupidez. E, se posso dar um conselho sábio, eu digo: jamais, JAMAIS, amiga/o minha, chegue para o seu companheiro e pergunte, em voz melosa: "Qual é a nossa música, amor?" Não pergunte, porque essas coisas não se perguntam, não se fabricam, entende? Elas simplesmente acontecem... A música do casal aparece quando tem de aparecer, não é uma obrigatoriedade que seja sempre no início da relação. E, se você não deixa rolar, e, ao invés disso, força a barra e pergunta: "Qual é amor, qual é? A nossa música, amor!", vai que ele te responde "Good Luck", tchau e bênção, vá com Deus?! Ou até mesmo canta para você: "Teus lábios são labirintos..." E esquece de completar dizendo que, em todo refrão de bolero, há pelo menos um corno, um adúltero e um alcoólatra!
Já pensou?!
É melhor deixar como está.
Forçar não é legal exatamente porque não é espontâneo.

MEUS MOMENTOS DE NOSTALGIA

Como todo bom mortal, dotado de sensibilidade e certa melancolia charmosa, sei que os momentos mais graves de nostalgia surgem quando a gente não espera, ou espera pouco, mas ainda assim nossa alma se encontra em terreno propício para turbilhões de emoções... É muito frequente em mim ter momentos de nostalgia com músicas, cheiros, filmes, comidas, fotografias, livros (oh, Deus, livros com certeza!)... Basta que qualquer integrante desta lista me atinja para que, quase automaticamente, eu seja transportada a algum recanto confortável do passado, ou nem tão confortável, mas ainda assim gostoso de rememorar, porque todos nós temos nossos lapsos masoquistas.
Mas o fato é que nenhuma música me sugere tanto quanto... "I'm N Luv (Wit a Stripper)", do T-Pain, ou "Lonely", versão Akon. Dá para acreditar num negócio deste? Basicamente, todo o CD (de hip hop!) LUV! 2 me faz lembrar uma certa etapa da vida que me deixou uma saudadezinha... E eu nem gosto de hip hop!
O que quero dizer é que não escolhemos o que vai marcar um momento. Você pode até amassar uma flor entre as páginas de um livro de capa dura, mas outras coisas são muito mais complicadas e menos deliberadas... Ainda que esta nossa frágil humanidade, frágil, frágil, frágil, consista quase que totalmente no poder de decisão, ainda assim certos "plugs" de nostalgia nos são alheios... Um dia, eles simplesmente vêm, algo acontece, e você lembra. E sente uma saudadezinha...
Às vezes sente saudade até do que não deveria. De momentos estranhos ou de fases da vida que foram uma bosta, mas lembra, fazer o quê? E aí você lamenta porque tanto já passou...
E mesmo assim ainda há tanto, mas tanto!...
Acho que, no fim, relembrar e se arrepiar de nostalgia é como a antecipação daquela certeza de que em breve mais lembranças serão construídas e mais momentos de nostalgia e, assim, de lembranças, vamos vivendo. Mas que coisa estranha. Não sei. Viver de lembranças... Não seria mais fácil simplesmente viver?
Fácil mesmo é fechar os olhos e lembrar...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O AMOR

Para Laura Costa Ribeiro

De repente descubro que ainda é possível ser mais feliz
E mais triste
Ao mesmo tempo

De repente descubro que
Inevitavelmente
Você vai me arrancar lágrimas o tempo todo

Você vai bater em mim,
Vai gritar
E vai chorar também

Mas, quando você não estiver chorando por minha causa
E quando eu não estiver chorando por sua causa
E ainda assim você estiver chorando

Saiba que eu
E só eu
Vou te entender

Eu
E só eu
Vou te abraçar
E sem perguntar o por quê

Eu
E só eu
Vou te amar naquele momento
Sem esperar nada em troca

Eu vou te embalar no meu colo
Vou te acalentar
Te pedir, não chore

E você vai saber o quanto eu te amo
E vai voltar a ser aquela menininha
Que me pedia colo sem saber por quê
E me pedia pipoca
Mesmo sem estar com fome

E eu vou saber que apesar de tão triste
Você me fez
A pessoa mais completa do mundo

E então, mergulhadas em lágrimas,
Eu vou enrolar meus dedos nos seus cachinhos
Vou cheirar suas axilas
Relembrar os velhos tempos
Em que te ensinei a dizer "asqueroso!"

E você vai saber que me fez
A pessoa mais feliz do mundo

O nosso mundo

Eu te amo.

MOLHADO

Uma gota de chuva no asfalto
Semáforo fechado
Caso encerrado
Fim.

Um gato a se lamber no tapete
Lúgubre casa
E duas línguas quentes
A se amarem no escuro...

Eu sei o que está acontecendo
É de novo aquela tempestade
Aquele período interminável
De longas saudades de nada
De versos sem métrica
Sem rima
De poesias descabidas
De paixonites não saradas

quinta-feira, 26 de maio de 2011

MALDITO BENZALDEÍDO

Não gosto de falar de amor porque não me dou bem com ele. O último amor que tive foi arrancado de mim ainda na infância. Por isso mesmo é que, hoje, desgastado, já não tenho coração. Ademais, tenho um cachorro. Que é menos meu do que de minha vizinha, uma menininha loira de olhos castanhos, que certamente um dia irá morenecer...
Tenho medo desses escritores que falam de amor como se falassem de bife. Não quero me prolongar. Mas também temo aqueles que descrevem o amor sem conhecê-lo. Sim, não há problema em imaginar e, consequentemente, conceber o que não se conhece... Todo escritor faz isso, eu sei, sou um deles. Se viajei a tantos lugares como sugerem meus livros - lobos famigerados -, certamente metade dessas jornadas percorri sem sair da poltrona de minha sala.
Mas ainda assim sei que com amor não se brinca nem se inventa embustes. Fala dele quem o conhece, ponto. Fala dele quem o quer. Amor é coisa séria. E nunca o provei, indo com a colher até o fundo, mas sei que ele existe. Se não existisse, não teria eu tanto medo. E, admito, sou covarde.
A verdade, a verdade mesmo, é que fui podado muito jovem... Daí não me arrisco. Porque a casquinha da ferida me arrancaram demasiadamente cedo. Mas, se querem saber, eu conto.
Tinha só dez anos, veja bem. Uma idade insossa, eu até diria. Era novo na turma e havia uma garota. Ela sentava-se sempre ao meu lado. Não era bonita. Pelo menos ninguém lhe disputava a atenção. Mas, para mim, era linda. Era lindíssima. Tinha ares de precoce, madura. E um nariz adunco, desses de águia, com a ponta virada para baixo, que me fazia morrer de loucura por ela. À época, aquele nariz povoou muitos sonhos meus... Não posso dizer o que nos leva a amar alguém. Só posso dizer que a primeira coisa que amei foi aquele nariz.
Como nos sentávamos perto um do outro, eu na fileira da parede e ela na fila ao lado, não tardou fazermos amizade. Quer dizer, não sei. Éramos, pelo menos, colegas de trabalho. Eu não falava com ninguém. Extremamente introspectivo – e vejo aqui a falta de originalidade, o velho clichê do escritor solitário que se repete desde a infância. A guria, por sua vez, apesar de estar havia mais tempo que eu naquela escola, também não tinha muitos amigos ali. Por algum motivo obscuro as meninas a evitavam... Éramos então duas almas sozinhas que se aderiram, inevitavelmente.
E lembro-me ainda hoje como se fosse água... Complexa, mas transparentemente: terça-feira, alguma de junho. Foi então que me apaixonei por ela por completo. A situação: nós emaranhados entre mínimos e máximos denominadores comuns, ela se debruçou sem se dar conta sobre mim e eu senti o cheiro indescritível de sua pele.
Ah, meu Deus... O que foi aquilo? Ela tinha um daqueles cheiros doces e suaves que a gente sempre quis sentir, mas nunca descobriu em ninguém, e fica por parecer mais uma mentira de cinema. Cheiro de... Cheiro de... Eu não consigo dizer. Doce e suave, doce e suave, doce e suave. Não fui capaz de pensar em mais nada. Fiquei maluco. E segui para casa assim, no banco da frente do ônibus, pensando “que cheiro poderia ser aquele?”. Que nome ele teria, como decodificá-lo...?
Lá pela madrugada, mofando na cama, decifrei. Ela tinha cheiro de amêndoa. Amêndoas... E será que tinha gosto também? Só pude concluir que aquele aroma era todo dela, todo dela, irrepetível, de mais ninguém.
Ao longo dos meses, fui arrumando desculpas para me sentar mais ao seu lado, colado. Ela, com seu narizinho de ave feiosa no rosto magro, dizia-me que sim, eu podia, contanto que fizesse silêncio. Ela queria prestar atenção à aula. E eu faria, é claro, silêncio, entregue e rendido. Só me interessava cheirá-la...
Um dia, lá pelas tantas, descemos as escadas conversando e acabamos passando o recreio todo juntos. Num banco qualquer, no pátio da escola. Ali, em tom de confissão, ela me disse que odiava seu nariz, que tinha alergia a ovo e muito medo de morrer. Eu afirmei a ela que não, nunca, ela não morreria nunca! Ela era muito bonita para morrer. E, com mão suada, aproximei-me, naquela voz de quem ainda nem sabe dizer: "Você é tão bonita que me dói aqui por dentro". Tentei, ato contínuo, beijá-la. Ela, igualmente, me repeliu. Saiu correndo, espantada, e só deixou às minhas vísceras já tão doridas o doce rastro do seu misterioso cheiro amendoado. Lúdico-lúgubre-lúbrico amendoado.
Não nos falamos mais. Nunca, nunca mais. Permanecemos na mesma escola, até os dois anos seguintes, inclusive na mesma sala. E foi só. Um dia, quando estávamos já na casa dos treze, e ela não mais na mesma turma de sétima série em que eu, acabei por vê-la, numa tarde chuvosa, em frente ao portão de sua casa (eu a seguira secretamente até ali tantas vezes...), sim, a vi entrar num carro prateado.
Estreitei então meus olhos. Lá dentro, um cara. Por volta dos 40, grisalho, uma das mãos ao volante. Tinha barba, tinha paletó, tinha aliança. Através do para-brisa rasgado pela chuva, vi aquele ser estranho beijar a menina morena e cheirosa que, mesmo oniricamente, tanto me pertenceu.
Mais tarde, em outras tardes, de chuva ou de sol, outros momentos da vida, cheguei a vê-la entrar de novo em outros carros. E foi assim, com tantos carros, que ela deixou de ser minha.
E, um dia, eu já no ensino médio, li em um livro pesado de química orgânica a respeito do aldeído que, ligado a anel aromático, recebe o nome de "benzaldeído". Este capricho de nome feio tem, por sinal, um cheiro maravilhoso. Imita o de amêndoas. É usado comumente na fabricação de perfumes.
Comumente.
Bem... Bem. De raro e precioso, a ilusão só tem o tempo que dura. E foi assim que percebi ser hora de superar. Que eu já não podia também ser dela. Que ela nunca fora minha. Que essas coisas todas passam. Sim, um dia, elas todas passam. E não deixam nada além de vagas noções de química...

domingo, 27 de março de 2011

AS VANTAGENS DAS DESVANTAGENS DA VIDA

1.Dor de cabeça
Vantagem: É sinal de que você tem cabeça!

2.Vomitar no carro do ficante/namorado/amigo
Vantagem: Ele nunca mais vai te arrastar até a lanchonete "podrão" da esquina.
3.Levar um baita fora
Vantagem: Sempre vai ter alguém especial disposto a juntar os caquinhos.

4.Engolir sapo no restaurante sem reclamar
Vantagem: Você não corre o risco de algum garçom cuspir no seu refrigerante.

5.Novelas do SBT
Vantagem: Farão você morrer de rir em qualquer momento.

6.Engravidar a moça errada
Vantagem: Qual é! Você vai ter um filho!

7.Brigar com a mãe
Vantagem: Ela sempre vai te perdoar. E o colo volta ainda mais gostoso.

8.Tecnobrega
Vantagem: Qualquer um pode enriquecer "cantando" isso. Inclusive você.

9.Politicagem
Vantagem: Pode-se criticar à vontade!

10.Ego inflado
Vantagem: Vem normalmente acompanhado de pessoas que, no fundo, não passam de meros mortais inseguros ou oprimidos. Portanto, não há motivo para temer.

11.Depressão pós-livro
Vantagem: Se foi tão apaixonante, você pode lê-lo outra vez, e outra, e mais outra, até decorar cada fragmento da obra, até entranhar as palavras na pele...

12.Fim de filme bom
Vantagem: Se você viu no cinema, pode chegar em casa e pesquisar tudo na internet, até enjoar! Se viu em DVD, pode sempre rebobinar e rever as melhores partes.

13.Apagão
Vantagem: Num átimo você começa a enxergar o mundo com outros olhos. Percebe a dependência, a alienação, o consumismo, a degradação... Só resta levar essas profundas e filosóficas reflexões adiante e não esquecer depois que a luz voltar!

14.Perder a Copa do Mundo
Vantagem: Lembrar que nada nem ninguém é invencível ou perfeito, mesmo com um time inteiro de craques.

15.Virar zumbi no último ano do colégio
Vantagem: Já dizia meu professor... "Vestibulando sem olheira, não é vestibulando! Vestibulando sem gastrite, não é vestibulando!" Logo, você provavelmente vai passar.

sexta-feira, 25 de março de 2011

A IMPOSSIBILIDADE DE LER DALTON


Cometi o desatino de me aventurar a ler Dalton Trevisan. Na verdade, anterior a experiência, já conhecia um de seus contos, chamado "Uma Vela para Dario".
Então procurei outras coisas dele, preconizada por minha professora de Redação, a Josi, outro desses diamantes brutos e indescritíveis que raramente a gente encontra na vida.
Ainda hoje não o conheço muito a fundo, é verdade, mas, ao ser instigada por ela, nadei pela internet e descobri ainda mais alguns títulos do cara. Então, com ousadia, dei continuidade ao desafio mergulhando no livro dele chamado "A Polaquinha".
Comecei... Não terminei. Em parte, sufocada pelas provas da escola, mas também sufocada por outras leituras. Fico me martirizando até agora... Mas hei de um dia terminar.
No entanto, o que ainda me pergunto é o seguinte: "Onde eu estava com a cabeça quando encasquetei de ler Dalton?!"
Simplesmente, não dá. É maravilhoso demais, bizarro demais. Um tipo de linguagem, de estratagemas, tão peculiares e próprios, que só mesmo determinados estados de ânimo conseguem desvendá-lo.
Sua escrita é densa. Ao mesmo tempo, incisiva, simples, bruta, quase prosaica, como se conversasse balbuciando.
Uma economia de palavras absurda, uma inversão de termos e frases, verbos obrigatoriamente transitivos sem transitar, hipérbatos bizarros. Leitura bárbara. Seja no sentido excepcional ou devastador.
Não é qualquer um que tem a disposição, ou absorção, para se lançar em livros que requer muito da abstração e quase nada da simples leitura em si. É preciso ir além. Desvendar conexões, abrir caminhos, desmatar, para então saber exatamente, ou quase exatamente, o que lunáticos como Dalton querem dizer.
Morri de inveja de sua escrita. Na verdade, morro de inveja e de amores por qualquer autor que, já no título, me cativa. E tal deslumbramento foi tão grande, o choque, meu Deus, o choque, que estou até agora evitando um novo confronto com os livros dele. Decidi deixá-los para uma outra hora da vida, quando tudo o mais estiver conturbado, tal qual sua escrita. Quem sabe na confusão me encontro.
Ao iniciar a leitura de "A Polaquinha", de certa forma me remeti a um livro do Ignácio de Loyola Brandão, um dos meus livros favoritos, que li há muito tempo, chamado "O Beijo Não Vem da Boca". Este também me pescou pelo nome. Qualquer dia conto aqui meu enlace com a obra, que é, eu diria, um tanto dramático e pré-adolescêntico. Mas divertido.
Enfim, com o romance de Dalton, era como se olhasse outra vez para a obra de Loyola. Em "O Beijo Não Vem da Boca", a mesma narrativa difícil, conturbada, emaranhada se faz presente.
Há uma confusão tão grande dentro do eu-lírico, que se reflete até mesmo na disposição dos capítulos. O último no meio, o meio no início, o fim explicando o não dito... Simplesmente lindo e devastador.
Tive de ler "O Beijo Não Vem da Boca" duas vezes. A primeira, para me maravilhar, e babar, e sonhar, e curar as minhas feridas que, na época, pareciam se vestir tão bem com os trapos bem costurados daquele enredo... E depois, só na segunda vez, consegui desvendar as lacunas e sacadas por trás da história, concebi a trama de modo mais acessível.
Enfim. Enfim. Dalton Trevisan, ao contrário de alguns de seus simples e profundos contos, nos propõe em livros como "A Polaquinha" a mesma profundidade, mas deixando de lado a simplicidade, em troca de um cru remelexo na ferida. Como um conta-gotas, ele regula onde vai muito, onde vai pouco.
Leitura que choca, e faz parar, é leitura boa. Leitura proveitosa é aquela que te faz lembrar que você ainda não é tudo aquilo que pensou que fosse.
E até isso são palavras de uma mera leiga. Mas a leitura de modo geral, isto é, a boa leitura, é mesmo tão boa e poderosa que possibilita até mesmo aos leigos usufruir das palavras certas para emitir suas opiniões tão toscas.
Sendo assim, que me perdoem as tosquices despejadas aqui. Mas precisava, como a vontade louca de urinar que brota no meio da madrugada, falar um pouco deste desconhecido Dalton que é para mim.

quinta-feira, 24 de março de 2011

JUVENTUDE

Aquelas noites de verão foram incríveis. A juventude, o som, as músicas, os cheiros... Sensações infinitas. A turma se sentia forte, quente, invencível. Eles eram praticamente invencíveis, perdidos no mundo.
Ah, o tempo... Tão distante naqueles dias. E eles mal sabiam quantas coisas ainda os aguardavam, ainda aconteceriam.
A vida vai mudando, e a gente nem percebe. Só se dá conta quando tudo já foi feito, já passou. E todos eles sairiam mudados daqueles verões. Nenhum deles, sequer um pedaço deles, foi o mesmo depois daquilo tudo.
Mais do que sombras, que nas noites cortavam as avenidas sobre motos ferozes e motores envenenados; mais do que estrelas que furavam o céu ensolarado e as tardes quentes; circulavam pelas ruas da cidade como heróis rebelados.
Aqueles rapazes eram tudo o que qualquer um foi ou quis ter sido. Eles transpiravam vida. Condutas tortas. Qualquer um podia sentir, podia cheirar, podia ver.
Eles riam e debochavam enquanto o mundo todo desabava sobre suas cabeças. Vida, fúria, sonhos, ilusões, dores, doçuras, surpresas... Passados tristes e lembranças irritantes, que ficaram embargadas pelo meio da garganta. Um alucinante e poderoso bater de asas, a liberdade, a perda, as descobertas.
Naquelas noites intensas de verão, o tempo, e o medo, pareciam estagnados. Mortos. Só havia o som inquieto de uns corações desenfreados...
Eram todos sem freios. E que coisas ainda os esperavam... A felicidade é morrer em si mesmo, não é? Felicidade é matar um pouco de si, é descobrir a verdade. E eles nem se davam conta, procuravam tanto por ela, tontos como loucos, e nem percebiam que a felicidade era essa morte aí. Era morrer da mesma forma como eles achavam que, para eles, o tempo e as regras estavam mortos, é ignorar as ladainhas e deixar-se viver sem medo.


FRANKENSTEINS

O novo Dr. Frankenstein somos nós. Criamos um monstro.
O novo Dr. Frankenstein somos nós. Criamos um monstro.
Não é incrível pensar no poder absurdo que tem a internet? Qualquer coisa que você poste na rede, ainda que esquecido ou apagado por você, jamais se apaga de fato. Um arquivo, um texto, uma informação, uma foto, até mesmo uma frase - aquilo deixa de ser seu, para sempre. Pertence à rede, que não se esquece de nada. Com o tempo, torna-se mais um fragmento oculto, mas ainda assim armazenado, catalogado, vagando pela internet como um espectro fugaz eternamente. Google: o olho que tudo vê.
A internet, sendo tão boa em vários aspectos, não poderia ser mais segura? Hoje, com tanta tecnologia alcançada, trabalhada, deveria garantir, ao menos, segurança sobre aquilo que é meu e só meu, embora compartilhado no cyber espaço. Porque, se me pertence, eu devo ter o monopólio sobre aquilo, inclusive o direito de anular completamente as informações e arquivos postados, se der na telha, ou bater eventuais arrependimentos. Parafraseando um professor de literatura, assim como as obras literárias, o que se produz e publica-se na internet, de muitas formas, também é destinado ao público aberto, é uma “obra aberta, mas não escancarada”. Existem, ou deveriam existir, limites.
Afinal, quem inventou a internet? Quem é o responsável por essa “mente criminosa”, que nunca esquece nada?
Não, se quer saber, nem quero nomes. Até porque, falando com menos ingenuidade, somos todos responsáveis, tanto pelo que publicamos quanto pelo que colhemos. Essa liberdade, descaso com a privacidade, deve ser usado mediante cautela.
Somos culpados, nós mesmos, pelo que compartilhamos com o mundo virtual. Porque a internet é inventada e reinventada todos os dias, por gente como eu, como você, por leigos ou fanáticos, por qualquer um que, acidentalmente ou à custa de muita pesquisa, descubra uma forma nova de fazer essa ferramenta surpreender, ousar.
A rede apavora. Todo este poder, controle... É louco. Ainda que composta por gente, sua potência beira o desumano - (des)humano mesmo, se concebermos o absurdo fato de máquinas e algo invisível que interliga todo mundo e nos mantêm reféns.
A internet, gradualmente, vem causando mais pavor que deslumbramento. Há ainda certa euforia no ar, a cada nova novidade (sim, porque até as novidades ficam velhas muito rapidamente) explode a gritaria e todos se jogam nela, seja promoção, vídeo, aparição, ou o mais novo site interativo de relacionamento – sites como Twitter, que ofertam a aproximação de estrelas hollywoodianas ao pó dos meros mortais anônimos.
Tanta efusão e brilho são apenas a casca, frágil e insossa, que serve para maquiar o verdadeiro torpor - letal e feroz - que desencadeia, em nossas almas, a internet. Perdemos a essência e a atenção às coisas reais em nome de um perfil cibernético. No fim, já nem nós sabemos bem quem somos.
Todo mundo parece ter se rendido a isso. O que fazer? Para onde quer que se olhe, somos presas fáceis daquilo que vamos criando, de uma tecnologia absurda que, apesar de ser fruto de nossa massa encefálica, já superou essa mesma massa há tempos.
Será este o nosso novo e definitivo monstro? Criado a partir de nossa fome de perfeição, com tudo para dar divinamente certo, mas que acaba se mostrando uma aberração nociva.
Num futuro próximo, ao descobrirmos a resposta para tal questionamento, só espero ser contabilizada como um daqueles que nunca se renderam total e perigosamente a esta ferramenta, a qual é fruto da ambiciosa sapiência humana - mas que sabe disfarçar sua "humanidade" muito bem, enquanto nos engole.