sexta-feira, 27 de agosto de 2010

DIA DE DOR, DIA DE ALEGRIA

Minha bisavó morreu hoje, com mais de 90 anos. Foi atropelada. Um dia de tristeza, mas, ainda assim, de alegria... Porque ela morreu com Jesus, e sabemos que, como a Bíblia diz, a morte é lucro para aqueles que partem com o Senhor!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

UMA DOSE DE ESTROGÊNIO


Ao longo dos anos, nossa sociedade vem crescendo e ocupando cada centímetro de terra no mundo, de modo cada vez mais célere. O avanço tecnológico e tantos outros recursos mecânicos possibilitam aos seres humanos - que, ao contrário de suas máquinas, são constantemente dominados por suas emoções e fraquezas e julgados por seus atos - atinjam o apogeu do desenvolvimento econômico, social, e também pessoal. E tão inerente a este exorbitante avanço e progresso quanto as próprias conquistas, persiste ainda, em nossa sociedade (formada por seres humanos falhos e limitados), as mesmas segregações e prévios conceitos (preconceitos) de outrora.
Pobres e ricos continuam separados por um abismo, e pouca coisa tem sido feita a fim de mudar a condição dos que têm menos, ou pelo menos extinguir a divisão de classes e buscar distribuir cultura e estudo a todos, de modo que as chances na sociedade se equiparem.
Doentes, mentais e físicos, continuam esbarrando na intolerância dos ditos “sadios”. A igualdade é encarada como algo impossível, mas o que se esquece nestes casos é que tal conceito, “igualdade”, independe da condição física ou psíquica de alguém, pois ainda que todos fossem livres de mazelas, continuaríamos a ser diferentes, tanto em personalidade quanto em aparência. E com isso se entende que a igualdade entre as pessoas não é caracterizado como estabelecer semelhanças entre elas, mas sim possibilitar as mesmas condições, chances e privilégios a todos. Isso é igualdade.
Pessoas de etnias, raças, cores diferentes continuam a enfrentarem entre si um preconceito racial que, por mais absurdo que pareça, persiste desde o início dos séculos e das descobertas dos novos mundos pelos desbravadores europeus.
E, além de todos esses e os outros exemplos de desigualdades e preconceitos sociais, há ainda a constante e sufocante busca pela desigual igualdade entre homens e mulheres.
A separação dos gêneros talvez seja a mais antiga e extenuante batalha do mundo, já que não principia dos dias atuais, mas vem impregnando as mentes desde que o conceito de “pintando na caverna” foi construído.
Na Grécia antiga, na cidade-estado de Atenas, as mulheres eram vistas na pólis como o mecanismo gerador de filhos e prazer, nada mais. Eram excluídas das decisões políticas e nenhum direito lhes era concedido além do de existir. Péricles declara que “as preocupações sociais não lhe dizem respeito”, por isso devem ser mantidas trancadas dentro de casa, habitando seu espaço denominado “gineceu” dentro do lar, e zelando apenas por questões domésticas, sem ir contra a intervenção do marido.
O homem podia também repudiar a sua mulher, sem precisar expor pretexto algum, com a única condição de lhe restituir o dote. Da mesma forma como lidamos com objetos.
De fato, nas sociedades antigas, as mulheres não eram nada muito além disso. A situação delas era não só de inferioridade e submissão ao poder masculino incontestável, mas também de humilhação e miséria psíquica. E de pensar que os atenienses inventaram a democracia primitiva...
Em Esparta, as mulheres eram tratadas com um pouco mais de apreço. Recebiam, igualmente aos homens, a educação militar, sendo preparadas para assumir funções de administração pública quando os homens estivessem fora da pólis, nas batalhas. Apesar de os espartanos serem homens lacônicos e taciturnos, de hábitos severos e sem luxo, militares na essência, eles prestavam atenção às mulheres e lidavam com elas de modo um pouco mais maleável. Aturavam-nas. Isso porque acreditavam que elas podiam interferir no ato de parir bons guerreiros. Cuidavam relativamente bem de suas mulheres porque queriam que elas dessem à luz seres fortes e sadios.
E hoje, depois de séculos passados desde essas primeiras mentes e parâmetros sociais, ainda persistem as injustiças. Em algumas tribos e aldeias africanas, por exemplo, os homens sacrificam as mulheres arrancando-lhes o clitóris. Elas são abstidas de receber prazer na produção de petizes, no ato sexual. Não seria este mais um preconceito falsamente maquiado pela capa do rudimentar?
Essas desigualdades e maldades para com o sexo “frágil” persistem. Muitos homens afirmam que as mulheres já ocuparam seu espaço e que devem dar-se por satisfeitas. Mas devemos refletir mais a fundo sobre isso. Será mesmo que o sexo feminino é reconhecido como sendo forte, inexpugnável e capaz, tanto quanto os homens o são?
A resposta para tal questão é negativa. A mulher pode ter conquistado muitas coisas ao longo dos séculos, no entanto, o que elas buscam não é apenas a ascensão social. As mulheres de hoje querem, além de ser reconhecidas, serem tratadas como gente pensante e apta a mostrar muito mais do que centímetros de pele e quadris rodopiantes. As mulheres desejam ter salários iguais aos dos homens, sendo que muitas delas exercem as mesmas funções e ganham menos que eles. As mulheres desejam que não as subestimem quando são encarregadas de tarefas intrincadas e de risco, porque de fato são capazes de fazê-lo, e assim como todo ser humano, o que as mulheres buscam é não só um voto de confiança, mas seu espaço merecido, um espaço que lhes foi negado desde o início das sociedades, e que, mais tarde, lhes foi devolvido como um direito, mas pelo qual elas ainda lutam até hoje, o que só atesta a discrepância entre os sexos e o modo desconfiado como os homens ainda encaram as realizações femininas.
A conquista de direitos e espaço das mulheres ao longo dos anos, só serviu para que a sociedade se tornasse apenas minimamente mais democrática – a visão machista de que as mulheres não devem ser nada além de donas de casa perdura através dos séculos e, por mais irônico que seja, detrás do comportamento “moderno” que possuem, muitas mulheres de fato acreditam terem nascido para a cozinha.
As buscas incessantes das mulheres pelo sucesso é a prova de que as injustiças continuam firmes e intocáveis. O abismo entre homens e mulheres subsiste, e o conceito de “justo” e “injusto” permanece relativo e mutável.
A única certeza que nos rege, então, é a de que as mulheres são seres dotados de inteligência, assim como os homens, e ao contrário deles, de sensibilidade, percepção infalível, emoções complexas e sagacidade nata – o único estorvo que as impede de dominarem o mundo é o fato de competirem umas com as outras, competirem consigo mesmas, e ainda competirem com os homens, numa busca um tanto cruel e desigual pela perfeição e pelo êxito, a qual se transforma, muitas vezes, numa condenação mais cruel e estressante que o próprio preconceito.
As mulheres não querem deixar de ser mulheres. O que as mulheres buscam é algo mais profundo, vai além de meras posições e direitos vagos garantidos pela lei e esquecidos na prática do dia-a-dia. O que as mulheres buscam é deixar de estarem aquém de outros seres humanos, no caso, os homens, porque nessa relação, nenhum dos dois – nem homem nem mulher – foi criado para ser inferior. Ambos existem para se completarem, trabalhem juntos e terem as mesmas oportunidades.
As mulheres jamais esqueceram que não possuem tantos músculos quanto os homens, e nem que são, em alguns aspectos físicos desfavorecidas e desprovidas de força bruta. No entanto, a massa encefálica é a mesma. Portanto, a capacidade de produzirem e progredirem, de construírem uma sociedade cada vez mais sustentável e desenvolvida é a mesma. É possível ainda dizer que as mulheres tenham até outros dons que compensam a falta de músculos e da tal força bruta, como, por exemplo, o dom de ser mãe. O dom de entender tudo com um olhar, de estar atenta aos detalhes e não subestimar os assuntos referentes à emoção, sem deixar as questões racionais de lado.
Será difícil mudar anos e anos de história, transpor toneladas de pedras sobre as quais estão erguidas as ideias e os conceitos da nossa sociedade hoje. Mas devemos estar certos de que podemos construir novos rumos.
Ainda estamos longe de obter o êxito completo nas batalhas, o que muitas vezes tem se mostrado um esforço hercúleo por parte dos lutadores, mas novos horizontes já vêm despontando ao longe; e o simples fato de podermos falar sobre o assunto e expressar opiniões a respeito do buraco de desigualdade que existe entre homens e mulheres, já é a prova indiscutível de que algo está mudando em nossa sociedade.
Amanhã, quando olharmos para trás e buscarmos as raízes de nossas conquistas, lembraremos sempre de que nada poderá ser construído sem que haja parceria. E agradeceremos àqueles que lutaram por tal coisa. Pela parceria e, acima de tudo, pelo dissipar de ideais anacrônicos e tendenciosos.
Lembraremos amanhã dos que hoje lutaram pelo despertar de mentes, e por um novo conceito: O de que mulheres e homens possuem a mesma capacidade de cultivar o mundo.

SEREMOS SINCEROS

Do tipo de gente que sempre, sempre lê as duas últimas páginas do livro antes do fim. Daquele tipo que começa a Bíblia pelo Apocalipse.
Prefere usar canetas com tampas – sem a bunda comida/roída de preferência – (desculpe o termo, Word, mas não existe um eufemismo para “bunda” tão objetivo quanto ele mesmo. Traçados vermelhos sob a palavra não vão me intimidar) porque as sem tampa têm aquela aparência intrigantemente e indiscutivelmente mais precária que as outras.
Gosta de ler, de escrever, de recortar. Recortar só por recortar. Fotos de gentes legais e desconhecidas das revistas. Depois os usa como marca-livro.
Irrita muito, principalmente por seu traço característico: Achar que está sempre certa. É com relutância que engole as opiniões dos outros. E se chega mesmo a engoli-las, mais da metade nem é aceita de todo.
A raiva que provoca pode fazer com que o indivíduo alvo de seu irascível gênio beire a histeria sempre quando ela diz, de um modo quase aloprado: “Ei! Eu mando.” E em seguida você ri. Porque é inevitável.
Pode passar horas sob o sol. Tem dias que, de fato, passa. Sentada numa cadeira branca de plástico Tramontina debaixo de um sol escaldante de meio-dia. E se você, em sua humilde preocupação, tiver a ousadia de mandar que ela saia dali, vai obter como resposta algo do tipo: “Não. Tô com frio”.
Isso seria até compreensível se aqui pelo menos fizesse algum tipo de frio... Mas não faz.
Vai ver, é um desses frios internos, que só entende quem sente, desses que se sente na alma... E por isso esses alguéns gostam tanto de tostar.
Tem um senso de humor razoável, e, de vez em quando, umas tiradas até boas, que assariam gelo. O que de fato seria interessante ao ponto de ser listado como item (praticamente o único) da lista de qualidades. Mas o problema é que ela tem um mau-humor bruto, que sobrepuja qualquer tímida veia cômica que ela por acaso possui.
Tudo isso fica mais complicado a cada parágrafo. Imagine encarar um texto desses ao vivo.
E sabe o que dizem sobre as pessoas que gostam de escrever? Elas não nasceram para ser lidas. Você pode, sim, tentar – e algumas vezes até conseguir – ler o que elas escrevem. Mas ler o que elas são, o que são por inteiro... Bem, são outros quinhentos.
Isso é latente. Gente assim. Não há qualquer definição. Não porque sejam imagens forjadas, imprecisas ou seres demasiado escorregadios. Mas é que, simplesmente, nenhum escrevedor tem tradução. Principalmente os que deixam tudo pelas metades. E ela é desse tipo de gente. Do tipo que escreve 100% e não conclui 3.

CONTO - Aqueles Cachos Azuis...

Meu primeiro amor foi uma prostituta. Ela era linda.
Havia um banco na esquina da minha casa, um banco amarelo de madeira, que repousava sob a sombra tranquila de uma árvore a qual eu nunca descobri o nome. Em algumas tardes, o vento passava por ali, nadava em volta, e agitava as folhinhas tão lentamente, que era como se eu pudesse parar o tempo... Como se tudo estivesse suspenso... Como se o céu assobiasse um dramazinho tranquilo...
Passei anos da minha infância observando aquele banco. Pintado primeiramente de vermelho-sangue, logo em seguida daquele tom forte e vitelino, a tinta começava então a descascar, e com o tempo as lascas de madeira foram sendo arrancadas. Por nádegas e nádegas que se sentavam ali tarde após tarde, bem debaixo da minha janela...
E do alto eu observava tal esquina. O vidro me protegia do mundo lá fora, eu tinha tanto medo, era um mundo tão grande, e acho que nunca cresci. A culpa foi do vidro. Ou será que foi minha? Prefiro não pensar mais nisso hoje. Tantas coisas ficaram para trás...
Voltemos àquelas tardes lindas e vazias. Antigamente, eu já era medroso. Tão medroso e assustado quanto sou hoje. Mas a diferença é que, antes, eu ainda me atrevia a arriscar. Uma vez. Eu queria realizar todos os meus sonhos mais pueris num dia só, num único dia, num gole só, numa só machadada... Pobre de mim! Achava que podia ser feliz simplesmente sentando num banco velho de esquina.
E assim foi. Numa tarde, recebi minha permissão, e enfim pude descer... Fui ver o pedaço de mundo lá fora. E eu mesmo achava que tinha vivido toda a minha vida em função daquele instante de emoção e fuga... Que tolice mais doce!
Foi numa tarde razoavelmente quente. Já era adolescente. Resolvi descer as escadas do prédio, e dessa vez, ao invés de apenas olhar de cima, sentar minhas próprias nádegas no banco de praça que povoara todos os quadros da minha infância...
Foi simples. Desci.
Eu estava atravessando a rua quando reparei na noite que já se aproximava, o cheiro de rio vindo de sei lá onde, e as promessas escritas em cada pedaço de calçada. Sentei no banco e esperei minha vida começar a acontecer. Demorou uns instantes... E nada. Será que era só isso? Pela primeira vez eu queria desvendar o mundo, começando pela esquina, e quando enfim enfrentava o magnânimo banco amarelo, nada me acontecia. Era mesmo só aquilo? Resolvi esperar.
Eu já estava sentado havia mais ou menos duas horas, tão estoicamente - disposição essa que hoje me falta -, quando, cruzando a rua no outro canto, ela apareceu.
Puxa, era linda. Tão linda que me fez sentir falta de ar. Eu ainda não sabia que se apaixonar era uma tremenda besteira. E muito menos sabia que podia haver gente tão bonita quanto aquela mulher... Enfim. Enfim. Sim, livre. Senti-me livre.
De fato, eu nunca tinha admirado de verdade uma mulher, nunca tinha reconhecido no outro sexo aquele elemento chave que faz você querer lamber seu próprio cabelo, ajeitar as costas, meter as mãos nos bolsos, lutar para não corar.
Bem, eu morei toda a vida com meu pai, era órfão de mãe, e o meu velho, apesar de professor, nunca havia dito qualquer coisa sobre aquela pressão sinistra que começava a formigar no baixo-ventre. Meu pai foi tão medroso quanto eu... Sorte minha não ter perpetuado nossa espécie.
Mas eu prefiro aquela tarde. Não quero refletir sobre o que sou, ou o que me tornei. Quero é viver e reviver esse momento já longínquo, lentamente, eternamente, porque só ali fui feliz, tão feliz, a ponto de estourar o peito! E é por isso que o desnudo tão descaradamente agora. Temo contar tudo. Mas sinto que é necessário, antes que a lembrança se apague, antes que esses meus dias cinzentos se tornem tão pretos que eu não possa mais enxergar nada...
Vá lá, eu estava sentado no banco, e ela apareceu, atravessando a rua. Seus cabelos eram tão negros, tão negros, que sob a luz morna daquela tarde, eles pareciam refulgir um brilho intenso e quase azul, cor de piche, de asfalto, cor de corvo. Cabelos tão lindos e longos e cacheados e densos que eu me perguntei como um homem poderia viver tanto tempo sem se enroscar naqueles fios... Sem conhecer aquela sensação que eu experimentava agora.
Ela ainda não me via. Veio se aproximando de mim, tranquila, aqueles quadris que se mexiam redondamente, um rosto oval descortinado, que me fazia pensar em sonhos... Eu não tinha consciência ainda, naquele tempo, que em minha cara se estampava uma expressão totalmente abobalhada. Eu estava apaixonado. Apaixonado por aquela cabeleira ambulante de cachos preto-azuis.
Ela aproximou-se mais, veio andando. Então nossos olhos se encontraram. Eu estava muito nervoso. Limpei as mãos suadas no jeans velho. Algo aconteceu, ela percebeu, houve aquele momento tácito e agudo em que dois corpos se encontram se entendem e se falam sem palavras. Ela sorriu. Sorriu para mim? Meu Senhor, ela sorrira para mim! E então veio vindo... Veio vindo... E eu me afogando naqueles dois poços escuros que eram seus olhos... Lembro daquilo tão bem, da sensação de me engolfar, que agora até me arrepio. E são meras lembranças, veja só! E foi tão bom! Eu não tive medo. Pelo menos não muito. Quando ela chegou suficientemente perto para roçar os joelhos nos meus, ela de pé e eu sentado, de alguma forma intuí que ela faria por mim o desconhecido.
- São 50 paus - palavras vulgares numa voz inumanamente meiga.
Traguei saliva.
- O... O quê?
- Cinquenta. O programa.
Ela estava falando grego.
Eu era inócuo o suficiente para não compreender o motivo pelo qual uma mulher tão linda desejaria, precisaria – ou julgaria precisar –, vender a si própria.
Mas, de algum modo, saquei que estávamos falando de coisas proibidas, liberdades não professáveis. Perfeito. Era o que eu buscava, não? Um beijo por uma nota. Tão tentador...
- Eu não tenho nada - respondi gaguejante e ridiculamente indefeso.
Ela sorriu. E daí até o próximo ato eu não consigo lembrar nada, ou dizer como foi que paramos dentro de um quarto à meia luz cor-de-rosa num motel.
Ela usava uma blusinha cortada com a cara estampada do Kurt Cobain, mangas que deviam estar ali em algum lugar, mas não estavam. Umbigo à mostra. E somente eu arrepiado? Que momento mais louco é esse, quando um garoto de dezessete anos entende que uma mulher é muito mais que braços e cotovelos. É umbigos e seios também.
Eu respirava assustado. O ar quente dentro daquele quarto era sufocante, e já derrapara a noite lá fora.
No cubículo, o abajur estava envolto num lenço que tingia toda a habitação, a chuva caía e escorregava pelas janelas como as preces surdas que o meu sangue grunhia, explodindo em mil pedacinhos de glória dentro do meu coração.
Procurei a vida inteira, anos depois, por essa sensação. Nunca mais se repetiu... Ah, a nossa vida... Que foi tão linda e não volta nunca.
Ela murmurou algumas palavras. Mandou-me relaxar. Eu fingi que obedecia. Com um dedo de unha longa, pintada de rosa no mesmo tom em que mergulhava o quarto, ela me empurrou de leve em direção à cama. Uma cama redonda, coisa que eu nunca vira. Caí sem ruído contra as almofadas, pedaços cortados em todos os formatos possíveis.
O motel era barato, qualquer coisa classificada como "beira de rua". Havia um cheiro forte de naftalina e mofo nos lençóis, e conforme a chuva aumentava e o vento rugia loucamente lá fora, o vidro da janela tremia e debatia-se, gelado como meus dedos dos pés.
Ela agachou-se perto de mim. Eu observava tudo. Tirou-me os tênis, as meias. Deixou-me sem camisa. Lambeu meu pescoço. Riu um riso alto, gritou um grito baixo, coisas de mulher, sempre mulher... E aquela voz me mandava respirar e ser corajoso. Prometia-me o mundo e eu acreditei.
Foi a primeira e única vez que provei um bocadinho de amor, por mais torto que fosse. Afinal, ela aceitara dar-se a mim sem que eu oferecesse nada em troca. Aquilo devia significar alguma coisa... Devia... Talvez... Talvez. Um talvez de menino.
Uma música. Ao fundo, o jazz. Eu ainda não sabia que aquilo era jazz, mas com o tempo descobri. O ruído macio vinha de um aparelho sobre o criado-mudo, e ela havia engendrado toda essa sedução sem que eu me desse conta. Meu coração rugia. O tempo galopava com uma navalha na mão, deixando muito claro que momentos assim não duravam para sempre. Mas eu queria. Quem sabe?...
Ninguém nunca sabe... Que vai viver um momento inesquecível enquanto o está vivendo.
Aproximou-se de mim outra vez. Seus olhos, fixos nos meus. Ela tinha um corpo em formato de laço. Os olhos, duas bolas de fogo negro. Contra a luz difusa e fraquinha do quarto, seus cachos enroscados pela cintura brilhavam lugubremente, como se naquelas ondas se ocultassem segredos marinhos. Ela cheirava a um cheiro gostoso. Mais tarde descobri que nem todas seriam assim. Tinha uns lábios do tamanho de um chumaço de algodão, e eu suspeitava que fossem macios também. Ela sorria sempre. Tirou a camiseta de banda, essa que fora estilizada até reduzir-se a um quase retalho. Uma chama propagou-se dentro de mim. Senti meus braços e pernas amolecerem, meu abdômen virou chumbo, minha cabeça, fumaça. O chão inteiro sumiu, não havia mais teto. Estávamos na chuva, no vácuo, no pôr-do-sol, em qualquer lugar. Mas havia uns brilhozinhos de estrelas vagando ao redor dos meus olhos, e eu tinha certeza de que em breve eu explodiria junto àquele céu.
Sutiã. Pela primeira vez deparei-me com um. Naquela época, não era comum que mulheres quase nuas aparecessem, na vida real ou na TV, então para mim era tudo novidade. Ela usava um sutiã de renda, uns peitos não muito grandes, gigantes anões, eu diria. E falou para mim:
- Vamos voar? - riu. – Que tal?
Só pude concordar, boca meio aberta, dentes batendo uns nos outros, olhos vidrados.
Naquela noite eu voei.
Toquei, sim, estrelas, e mais, muito mais. Desvendei todos os mistérios, matei todos os monstros, estraçalhei todas as dúvidas; encontrei um lugar em mim onde havia muito mais do que a obviedade do medo gelado que me fora legado.
Ela me olhou nos olhos mais uma vez, uma última vez, antes de fechá-los, e pairar de leve acima do meu corpo com aquela pele quente e dourada.
Ela tirou a calça jeans.
Uma única noite.
E eu nunca mais fui tão feliz...

CONTO - Relato de um domingo

De fato, quando acordei e debrucei-me sobre aquele novo dia que nascia, eu não planejava matar minha filha. Isso não é algo que se planeje, que se almeje, ou espere... Você simplesmente acha que seus filhos viverão para sempre, não é? Mas esqueçam este prelúdio inútil. Isso tudo são apenas ruminações de um quase velho, deixemos de lado. Meu principal - na verdade único - objetivo é contar como se deram os fatos naquele dia.
Domingo. Acordei sem nenhuma disposição para sair de casa, mas minha esposa insistiu muito... E eu sempre fui um fraco, admito. Tamanha foi sua insistência, que quando me dei conta, eu já estava lá, sob o chuveiro, deixando a água escorrer e limpar o suor da noite, enquanto começavam a despertar lentamente as engrenagens do meu cérebro. Água fria. O banheiro, cheio de vapores. O cheiro dela ainda estava ali... Minha esposa. Na verdade, não a primeira, a segunda. Com quem tive filhos gêmeos.
Antes de prosseguir com a história, peço permissão para abrir um parêntese e escavacar o passado... Não, não reclamem. Relembrar rapidamente o passado agora é fundamental, porque só assim vocês entenderão os motivos pelos quais casei de novo, com esta mulher que acabo de mencionar, a que deixou vapores no banheiro e suor de sexo selvagem em meu corpo.
Bem, como disse, eu já fora casado antes, um casamento alegre e justo. Tive até uma filha, uma filha linda, com minha primeira mulher. A filha que matei... Quer dizer, que terminei de matar. Mas vamos com calma. Primeiro, deixem que eu me atenha a esse casamento original.
Vocês devem se perguntar neste momento o porquê de eu ter me separado de minha primeira esposa se era tão feliz. Só o que posso - o que consigo dizer - é que isso constitui uma questão delicada: Eu não sei bem como explicar o que me levou a rechaçá-la... Na realidade, eu não a afastei, ela é que se levantou e saiu, assim, sem mais nem menos, da minha vida, levando minha primeira filha. Analisando a situação hoje, acho que ao cabo da situação, só o que fiz foi dar-lhe o troco: Tirei a filha dela também, assim como ela fizera comigo em nossa separação.
Mas bem, que fôlego! Estou precipitando-me. Espere... Estou tentando explicar porque me separei da minha primeira esposa.
Confesso que antes, durante, e depois do casamento, eu ainda, e sempre, gostei dela. Mas ela achou que não dávamos mais certo, e eu achei que ela achava isso porque talvez fosse certinha demais... Calma demais... Quadrada demais... Pouco passional. Eu não.
Meu maior defeito? Sou ciumento. Agressivo. Isto é algo que tenho em comum com minha atual esposa. Então aquela nossa separação aconteceu por isso... Porque não nos conhecíamos mais. Não nos amávamos mais com o mesmo fervor. Talvez amar nem seja o verbo certo... Quem sabe, o verbo certo seja "querer". Eu ainda a queria, mas ela não.
Veio então minha segunda mulher. Eu já a conhecia desde antes, circulávamos entre os mesmos grupos de amigos, ela deixava ocasionais "recadinhos" em meu trabalho, em meus e-mails, os quais mais me pareciam grandes flertes. Então, um dia, eu aceitei. E correspondi. E, quando me dei conta, estava casado. Pela segunda vez.
Mas como disse, com o tempo, algo se desgastou... Acho que foi o encanto. Porque, passado o encanto, eu e ela descobrimo-nos muito parecidos. E é lei na física dos amantes que os semelhantes se repelem. Ou ao menos se machucam mutuamente. E foi o que aconteceu: Por sermos tão iguais, éramos tão divergentes em tudo o que dizíamos; em tudo o que gritávamos, em todos os lances que trocávamos. Ela, eu, nós éramos ciumentos. Ao extremo.
Ela nutria ciúmes pela filha que eu tanto amava e que tive primeiro, com a esposa original, mesmo que com ela eu tivesse gerado dois de uma vez só!
Ela tinha ciúme da minha bela amada garota porque dizia que ela parecia-se muito com a mãe... O que era verdade. E, em terceiro lugar, ela sentia ciúme da garota, a minha primogênita, porque era a constante lembrança de que antes de ela, existira outra mulher.
A qual secretamente - agora não mais - eu ainda queria. E, ah, esqueci de mencionar: Seu último ciúme era porque eu ainda tinha ciúme da primeira.
Digam então que eu não presto. Podem dizer. Eu não me importo. Qual de vocês presta? Eu não queria ter matado minha filha... Não.
Foi naquele domingo.
Aquele ciúme que minha segunda mulher tanto sentia aos poucos se converteu num ódio mudo, latente... Mas presente. E ela focou a emoção total e completamente na direção de minha filhinha, o meu tesouro, a minha bela criança. E foi nesse domingo que todo o ódio explodiu. Calma, vou chegar lá.
Depois que saí do banho, nós apressamo-nos, arrumamo-nos - eu, ela, e meus três filhos -, e saímos para passear de carro. Afinal, era domingo. Prometia ser um dia lindo, um dia bom... Mas minha esposa já estava um pouco irritada. Ela tinha perdido a paciência porque eu demorara demais no banheiro, porque não a ajudei a trocar fralda dos gêmeos, porque eu insistia em telefonar para minha primeira esposa toda manhã... e porque eu levava apenas minha filha mais velha no colo; os gêmeos eram por conta dela. Mas o que ela queria? Eu não tinha mais de dois braços para carregar todas aquelas sacolas e ainda três crianças!
Foi assim que começara o dia. Estressante.
Então saímos. Passeamos... Tudo mais ou menos bem. Comemos fora, brincamos no parque, trocamos alguns palavrões porque ela insistia em gritar comigo na frente dos outros, e nossas brigas sempre girando em torno da minha ex-esposa, e do meu dinheiro, porque, afinal, eu a sustentava agora, e com isso ela se sentia inútil, uma reles empregada.
Fiz de tudo para evitar mais discussões pelo resto do dia... Mas quando entramos outra vez no carro, com nossos gêmeos dormindo e minha filha acordada, a briga iminente e que eu evitara tanto eclodiu.
Minha filha, do banco de trás, entre as cadeirinhas dos bebês, ouviu tudo. Começamos a nos agredir, eu e minha esposa.
Ela então pediu lá de trás que eu parasse de gritar, assim como pediu à madrasta que parasse de dizer aquelas palavras feias... Foi quando aconteceu. Irritada, minha mulher acertou um soco no rosto de minha filha.
O horror começou.
Eu estava mudo e estupefato, contundido, queimando. Um buraco no peito, a falta de ar. Era a minha garotinha... Sendo surrada... A quem eu devia socorrer? Minha esposa raivosa ou à menina ferida?
Não socorri nenhuma das duas. Fiquei estático, e quase fechei os olhos. Mas acabei vendo tudo.
Ela sufocou a menina, e depois sacudiu, numa espécie de estrangulamento. A unha afiada arranhara a testa da minha garotinha. O soco tinha sido forte. Ficaria roxo. Ela então bateu no rosto da criança mais duas vezes, dois tapas, o barulho dos dedos contra a bochecha cor-de-rosa. E a menina desmaiou.
Minha esposa, ao se dar conta do que acabara de fazer, ficou muda. E aí rebentaram as lágrimas.
Um silêncio mortal.
Engoli em seco. Endireite-me no banco. Liguei o motor.
Dirigi como louco de volta para casa. Não, nada de hospitais. Se fôssemos até lá, o que poderiam pensar de nós? Eu tinha uma imagem a manter! Era um homem sério... Sério...
Quando chegamos à garagem do alto prédio, girei a chave, o carro parou; eu e ela ficamos ali, no escuro da garagem, pensando, apavorados. Por que minha filha não estava mais respirando? Por que estava sangrando tanto? Se por acaso ela estivesse viva, agora eu sabia, sentia nas entranhas, ela logo morreria... Não levaria muito tempo... Então o que fiz?
Enquanto minha esposa soluçava desesperada pelo que cometera, prestes a inaugurar em si uma crise de histeria, eu a sacudi até que se calasse. Mandei que respirasse. Mandei que me ajudasse. Eu tinha um plano.
Ela matara minha filha, mas... Não poderia levar a culpa. Não. Aquilo iria manchar, levando nós dois juntos até a mais profunda lama. Era melhor forjar uma explicação. Depois eu tentaria não arcar com as consequências.
Decidido, ainda com as lágrimas a escorrerem por meu rosto, tive de pensar rápido, e fiz. Tirei minha filha do carro, o corpinho estava quente, sangrando, molenga. Assustador.
Ela gemeu. Ainda estava viva!
Mas eu sabia que restava pouco tempo. Aquele suspiro cansado... Aquela falta de ar... Já era sim a morte nela. Fechei os olhos e subi até o apartamento pelas escadas de emergência, enquanto minha esposa trazia os gêmeos profundamente adormecidos pelo elevador.
Tudo não levou mais de treze minutos. Quando chegamos ao apartamento, ainda em estado de total inconsciência sobre o que acontecia realmente, deixei minha filha inerte sobre a cama, em seu quarto de paredes brilhantes. Então, enquanto minha esposa tentava não gritar desesperada, eu encontrei uma tesoura grande e prateada, um pouco enferrujada nas articulações, dentro da gaveta do banheiro.
Fui até a janela, no quarto. Com cuidado, para não pisar no corpinho imóvel sobre a cama, subi no colchão, pelas beiradas, quase escorreguei sobre meus chinelos, debrucei-me sobre a tela de proteção com sofreguidão, mas com a precisão de um maníaco. E cortei. Um círculo imperfeito, um buraco na tela da janela.
Lancei a tesoura na direção de minha esposa, que agora me observava da porta do quarto. Acabara de deixar os gêmeos nos berços. Ela queria ver o que eu estava fazendo. Estava me livrando da burrada que ela arrumara!
Ela agarrou a tesoura, saiu para guardá-la em algum canto. Ela também não queria ver o que eu faria em seguida... Olhei então para o chão, e notei as gotas de sangue, feito um caminho de migalhas de pão, como na história de João e Maria. Ia desde a porta do apartamento até o quarto, e aos pés cama, onde eu estava agora.
Fechei os olhos e voltei-me para a janela. Agachei-me, peguei minha filha no colo, pelo que seria a última vez, e de alguma forma eu sabia. Então, o próximo passo foi... Jogá-la janela a fora.
Não a vi caindo. Virei o rosto. Nojo de mim, nojo de tudo, nojo da vida, nojo daquilo que eu me tornara. Mas estava feito. Não a vi estendida no gramado lá embaixo. Não quis olhar.
É claro que eu contaria uma outra história quando a polícia, ou os bombeiros, ou o resgate chegassem, mas até então eu teria tempo para pensar em algo plausível.
Era como se eu estivesse brincando num jogo de tabuleiro sem fim, e eu era a caça.
Mal podia imaginar o que só descobri agora... Que seria caçado eternamente... Pela minha consciência.
Desci da cama. Respirei fundo. Esfreguei as mãos no rosto. Minha esposa passional, bem articulada e briguenta estava pela primeira vez muda, na sala, sentada e encolhida. Os dedos tremendo. Ela já se dera conta do que fora feito? Do que fez? Do que fizéramos? Eu não podia dizer. Porque nunca entendi essa mulher...
Durante todo o tempo, enquanto fazia o trabalho sujo, pensei, é claro, em livrar minha pele, mas pensei também na primeira. Minha primeira esposa.
O que ela pensaria? A questão era ela. Sempre fora ela. Agora eu sabia que meu coração era um poço fundo e escuro, de paredes pegajosas, por onde escorria a eterna bile. Meu coração não tinha alma, era um coração oco. Passional, irracional, mas ao mesmo tempo oco. E agora, eu acabara de descobrir também, um coração capaz de criar um álibi, justificar um crime... Coração contraditório. Ora, de que importava a droga de um coração?! Eu tinha construído uma vida baseado no engano de ter-me casado de novo. E agora essa vida desabava, caía por terra.
Melhor. Eu não aguentava mais. Estava saturado. Fim.
Fui até a sala, perto dela, no sofá, e liguei para o meu pai.
Assim terminou aquele domingo, que foi o mais surreal de todos... E a vida real, brutal, grotesca, começou.

CONSIDERAÇÕES ACERCA DO CONFORTO


Hoje, vamos analisar meu pé. Isto mesmo, meu pé.
Repare como estou nesta foto, e como me sinto à vontade... Bem, não foi fácil atingir este nível de satisfação plena. O conforto em sala de aula requer muitas tentativas e fracassos... Até alcançar o êxito.
Pois então, com este post, aliado a algumas dicas básicas, pretendo ensiná-los a como sobreviver ao martírio diário que é o colégio.
Primeiro, você precisa de posições que deixem seus braços e pernas livres. Vale puxar três cadeiras, cercar-se delas, ou deitar as costas em uma e as pernas em outra. Se o seu professor brigar, não ligue. O que importa mesmo é a sua missão de bem-estar.
Esteja sempre cercado de pessoas que façam você se sentir tranquilo. Que estejam sempre dispostos a um bate-papo clandestino, mas que também não fiquem matraqueando na hora de sua preciosa soneca escolar. Tire um cochilo. Mas esteja certo de que seus amigos formam um baluarte ao redor de você.
Coloque um deles atrás, um na frente, o outro logo ao lado, e volte a cabeça para a parede, de modo que o professor não perceba que você dorme. Assim, se surgirem problemas, seus amigos de confiança irão, discretamente, cutucar-lhe a costela e farão com que você acorde bem na hora, num timing perfeito. O resto fica com você. Limpe a baba num segundo, com as costas da mão, e em seguida forje um sorriso esplendoroso, dizendo: "A culpa é da Inglaterra!".
Para o conforto em sala de aula, também é estritamente necessário, além de criar sua própria facção pró-sono, customizar sua carteira favorita. Aquela em que você sempre senta, e que já até adquiriu o contorno de suas nádegas. Desenhe carinhas, caricaturas deliciosas de seus professores, e componha odes belíssimos com o auxílio do corretivo.
Enfim, o conforto supremo requer maestria e treino. Você precisa ser, no mínimo, um pouco querido pelo corpo docente, porque assim os mestres não vão te marcar...
O conforto é valiosíssimo, muito mais eficaz até que estudar para provas ou se sair bem na apresentação de slides.
Mantenha sempre em mente que, antes de tudo, vem o seu pé.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

+ 5 tipos detestáveis

Bom, gente, atendendo a pedidos, aqui está. Uma coletânea dos cinco mais clássicos e detestáveis tipos de sujeito! Claro, a lista poderia ser extensa e interminável... Mas, resumidamente, eis aí os cinco tipos que, se você tem amor à vida, deve evitar.
Agora, deleite-se! E ria um pouco com essas pérolas caprichosas do universo masculino...

1. O Grude
Também conhecido como chiclete, o famoso grude é um primor dentre os primatas... Se você for como eu, que normalmente enjoa das pessoas, certamente vai criar um nojinho deste ser! O grude é, simplesmente, a personificação da carência. Além de ter olhos que vazam litros e litros de lágrimas sem nenhuma dificuldade, o grude também vai fazer de tudo para conquistar você das formas mais rasgadas possíveis... Com declarações fervorosas e demonstrações de afeto que pingarão mel. Claro, uma pessoa afável é sempre bem-vinda e cativante. No entanto, o grude gruda tanto, que até mesmo seus mais simples gestos viram sinônimo de pieguice. Em resumo, o grude tem todos os defeitos emocionais que as mulheres costumam ter. Agora multiplica isso por 2 e você tem, de bandeja, um verdadeiro chiclete.


2. O Palhaço
Ah, o palhaço... Como descrever o palhaço? Bem, o palhaço é, quase sempre, o mala da turma. Seja na faculdade, no cursinho, no estágio... O palhaço, ou mala, é aquele que tem tudo para ser o cara mais disputado, é inclusive até bonitinho e simpático, mas quando abre a boca... Bem, suas patetices e o jeito um tanto efusivo de ser, acabam estragando todo o sonho de consumo! O palhaço costuma também tirar gracinhas com as situações mais constrangedoras, e inclusive apontar aqueles seus defeitos que você odeia, e depois te encher de perguntas... Até você explodir e destrambelhar tudo em cima dele, de forma que, no final, ele se sai de coitado e você fica como a estressada. O palhaço pode até ser visto como um cara legal. Contudo, o passar dos dias e a intimidade vão fazer com que ele fique cada vez mais abusado, e seu "senso de humor" há de extrapolar todos os limites.


3. O Galinha
Este é o famoso "eu não tenho tipo, eu tenho pressa". O galinha, antes de qualquer coisa, mais importante até do que respirar, cata. Isso mesmo. O galinha cata de tudo, basta ter cara ou corpo bonito, ou ambos, e não necessariamente nessa ordem. Cérebro? Esquece! Cérebro ele não come, então não se preocupa se vem incluso ou não no pacote.
O galinha, normalmente, vai tratar você, suas amigas, e as amigas dele como escolhas num cardápio. Vai medir as melhores consequências, as melhores circunstâncias, sempre atirando para todo lado. O galinha pode chegar a jurar amor eterno a uma mulher... duas... três... Dez. Em resumo, o galinha, bem... O galinha cisca. E engole o que vier. O tipo é tão irritante porque, quando está disposto, finge tão bem e com tanta sutileza que pode até fazer sua presa cair no papo, iludida. Então, no dia seguinte, ele já esqueceu seu nome. E é por isso mesmo que costuma chamar todas as fêmeas por uma alcunha em comum, um apelidinho aparentemente carinhoso e inofensivo, porque assim não corre o risco de confundir os nomes de vocês.


4. O Exigente
Este tipo pode até ser, algumas vezes, o grude. No entanto, o exigente tem algumas especificidades a mais. Ele é o cara que, a princípio, assemelha-se muito ao príncipe. Cheio de regras, de controles, de conceitos... Um rapaz certíssimo. Então, com o tempo, surgem as exigências. Se você, por ventura, chega a namorar um cara desses, vai poder detectar bem o tipo. O exigente suprime todas as suas opções e direitos de escolha... Saias? Nunca mais. Vestidos com um decote mínimo? Nem pensar! E olha que as ordens deste ser não se restringem somente a um mundo permeado de ciúme e coerção idumentária... O exigente também vai querer que você se adeque ao tipo ideal de mulher que ele julga ser o perfeito para si, vai provavelmente dizer coisas do tipo "mulher, para mim, tem que ser igual a minha mãe", vai fazer você cobrir as pernas com meia-calça preta e depois engordar você tanto, mas tanto, mas tanto... Que a porquinha alimentada não vai passar nem pela porta do carro, e assim ele domina você, exigindo cada vez mais, e sugando... Como se ser seu namorado fosse a mesma coisa que ser seu pai. Não, pior, um ditador. Não, pior, seu dono.


5. O Frio
Ah, como eu adoro esse tipo!... Deixei-o por último exatamente por isso! Como descrever o frio? Bem, é difícil. Em resumo, a palavra de ordem no jeito de ser do frio é... A indiferença, sem dúvida. O frio é aquele cara que não pede. Não olha. Não faz questão. Até desdenha. Ele está bem com você, ótimo sem você. O frio é aquele que parece tão inerte em relação a você, que chega a dar nos nervos! Para se ter uma ideia, de acordo com minhas pesquisas, os frios representam cerca de 80% dos rapazotes. O frio, também chamado de gelado ou indiferente, nunca parece "estar aí". Ele vive a vida na boa, sem pressão, sem exigir nada de você... Para ele, tanto faz o que você realiza, como age ou deixou de agir. Ele mostra apenas um interesse casual, muitas vezes desmarcando um compromisso com você porque teve de ir ao futebol de todo dia, e não aparecendo em seu aniversário porque esqueceu, mas vai dizer que foi você que não o convidou direito. O frio é uma incógnita. Talvez seja frio para compensar um amor não superado, talvez seja frio porque ainda não descobriu outra forma de coexistir com as necessidades caprichosas das mulheres... Vai saber! Para tolerar um frio, somente uma mulher fria, desinteressada, e muitas vezes fresca de doer. Como ele. O casal de frios é triste de se ver... O tipo de caso que pode durar um século, nesta pépetua frieza, ou terminar amanhã, com um tchau mútuo. O fato é que, ele só vai enxergar você, doce menina, caso você seja um dos amigos dele... Ou esteja dando uma voltinha no umbigo do dito cujo.


* créditos: ao multifacetado James Dean, que contribuiu como modelo para esta postagem.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

+ 10 coisas que aprendi nos romances de Nora Roberts


1. Pessoas feias não existem.

2. Homens sempre se apaixonam à primeira vista.

3. Ninguém usa camisinha ou toma quaisquer anticoncepcionais por meses a fio, mas só engravida depois de casar.

4. Mulheres gordas não existem.

5. Você não precisa escovar os dentes ao acordar ou depois de comer, e ainda assim sua boca terá um gosto delicioso.

6. Ainda não inventaram o celular.

7. Nos casais, sempre um dos parceiros, ou ambos, são mundialmente famosos.

8. Uma mulher nunca quer casar, por medo de assumir o compromisso, enquanto o homem tenta de todas as formas prendê-la com os laços do matrimônio.

9. Se você tem duas grandes amigas, cada uma com uma cor diferente de cabelo, suas vidas podem ser contadas numa trilogia.

10. Nunca, nunca se apaixone! Você corre o sério risco de se envolver com um homem rico, que vai lhe encher de presentes caros, beijá-la como ninguém, te amar até a morte e acabar assim com a sua tão perfeita liberdade de solteira.

Como você pode ver, Nora Roberts é sinônimo de realismo e verossimilhança pura!

Mas quem é que resiste a um romance?! Se tudo não pode ser maravilhoso na vida, nos livros, pelo menos, pode.

REFORMA ORTOGRÁFICA PARA SAUDADES

Caráter para polir, urso para polar, coragem para pedir, chance para pular
Pinça para cabelos brancos, ovelha para clone, muleta para mancos, orelhas para fone
Música para sentir, segredos para guardar, boca para florir, cobra para fumar
Café para sono, freio para carro, "á" para "tomo", pés para barro
Barraco para desabar, ocaso para melancolia..., sapato para gastar, sol para alegria
Ideias para mornos dias, sonhar para distrair, amor para noites frias, pausa para sumir
Luz para mostrar, maquiagem para esconder, papa para excomungar, datas para esquecer
Palavra para ferir, bisturi para curar, remédio para sorrir, é riso para alegrar
Sabonete para um, banheiro para todos, vergonha para pum, bochechas rubras para bobos
Homem para choro, mulher para futebol, vermelho para touro, baleia para anzol
Glória para mortos, pais para filhos, talento para fotos, joelho para milhos
Disposição para créu, paciência para vaziedade, mel para fel, trânsito para cidade
Fôlego para vida, tempo para durar, volta para ida, medo para enferrujar
Mindinho para quina, saliva para lacrar, ouro para mina, perdão para pensar
Adeus para remoer, despedida para amargar, esperança para rever, aflições para esmagar
Eu para escrever, você para...
Você para...
Você.
Aqui para você.
Aqui param as rimas. Aqui param as palavras.
E eu. Para nada mais falar.
Falta você. Para completar.