domingo, 27 de março de 2011

AS VANTAGENS DAS DESVANTAGENS DA VIDA

1.Dor de cabeça
Vantagem: É sinal de que você tem cabeça!

2.Vomitar no carro do ficante/namorado/amigo
Vantagem: Ele nunca mais vai te arrastar até a lanchonete "podrão" da esquina.
3.Levar um baita fora
Vantagem: Sempre vai ter alguém especial disposto a juntar os caquinhos.

4.Engolir sapo no restaurante sem reclamar
Vantagem: Você não corre o risco de algum garçom cuspir no seu refrigerante.

5.Novelas do SBT
Vantagem: Farão você morrer de rir em qualquer momento.

6.Engravidar a moça errada
Vantagem: Qual é! Você vai ter um filho!

7.Brigar com a mãe
Vantagem: Ela sempre vai te perdoar. E o colo volta ainda mais gostoso.

8.Tecnobrega
Vantagem: Qualquer um pode enriquecer "cantando" isso. Inclusive você.

9.Politicagem
Vantagem: Pode-se criticar à vontade!

10.Ego inflado
Vantagem: Vem normalmente acompanhado de pessoas que, no fundo, não passam de meros mortais inseguros ou oprimidos. Portanto, não há motivo para temer.

11.Depressão pós-livro
Vantagem: Se foi tão apaixonante, você pode lê-lo outra vez, e outra, e mais outra, até decorar cada fragmento da obra, até entranhar as palavras na pele...

12.Fim de filme bom
Vantagem: Se você viu no cinema, pode chegar em casa e pesquisar tudo na internet, até enjoar! Se viu em DVD, pode sempre rebobinar e rever as melhores partes.

13.Apagão
Vantagem: Num átimo você começa a enxergar o mundo com outros olhos. Percebe a dependência, a alienação, o consumismo, a degradação... Só resta levar essas profundas e filosóficas reflexões adiante e não esquecer depois que a luz voltar!

14.Perder a Copa do Mundo
Vantagem: Lembrar que nada nem ninguém é invencível ou perfeito, mesmo com um time inteiro de craques.

15.Virar zumbi no último ano do colégio
Vantagem: Já dizia meu professor... "Vestibulando sem olheira, não é vestibulando! Vestibulando sem gastrite, não é vestibulando!" Logo, você provavelmente vai passar.

sexta-feira, 25 de março de 2011

A IMPOSSIBILIDADE DE LER DALTON


Cometi o desatino de me aventurar a ler Dalton Trevisan. Na verdade, anterior a experiência, já conhecia um de seus contos, chamado "Uma Vela para Dario".
Então procurei outras coisas dele, preconizada por minha professora de Redação, a Josi, outro desses diamantes brutos e indescritíveis que raramente a gente encontra na vida.
Ainda hoje não o conheço muito a fundo, é verdade, mas, ao ser instigada por ela, nadei pela internet e descobri ainda mais alguns títulos do cara. Então, com ousadia, dei continuidade ao desafio mergulhando no livro dele chamado "A Polaquinha".
Comecei... Não terminei. Em parte, sufocada pelas provas da escola, mas também sufocada por outras leituras. Fico me martirizando até agora... Mas hei de um dia terminar.
No entanto, o que ainda me pergunto é o seguinte: "Onde eu estava com a cabeça quando encasquetei de ler Dalton?!"
Simplesmente, não dá. É maravilhoso demais, bizarro demais. Um tipo de linguagem, de estratagemas, tão peculiares e próprios, que só mesmo determinados estados de ânimo conseguem desvendá-lo.
Sua escrita é densa. Ao mesmo tempo, incisiva, simples, bruta, quase prosaica, como se conversasse balbuciando.
Uma economia de palavras absurda, uma inversão de termos e frases, verbos obrigatoriamente transitivos sem transitar, hipérbatos bizarros. Leitura bárbara. Seja no sentido excepcional ou devastador.
Não é qualquer um que tem a disposição, ou absorção, para se lançar em livros que requer muito da abstração e quase nada da simples leitura em si. É preciso ir além. Desvendar conexões, abrir caminhos, desmatar, para então saber exatamente, ou quase exatamente, o que lunáticos como Dalton querem dizer.
Morri de inveja de sua escrita. Na verdade, morro de inveja e de amores por qualquer autor que, já no título, me cativa. E tal deslumbramento foi tão grande, o choque, meu Deus, o choque, que estou até agora evitando um novo confronto com os livros dele. Decidi deixá-los para uma outra hora da vida, quando tudo o mais estiver conturbado, tal qual sua escrita. Quem sabe na confusão me encontro.
Ao iniciar a leitura de "A Polaquinha", de certa forma me remeti a um livro do Ignácio de Loyola Brandão, um dos meus livros favoritos, que li há muito tempo, chamado "O Beijo Não Vem da Boca". Este também me pescou pelo nome. Qualquer dia conto aqui meu enlace com a obra, que é, eu diria, um tanto dramático e pré-adolescêntico. Mas divertido.
Enfim, com o romance de Dalton, era como se olhasse outra vez para a obra de Loyola. Em "O Beijo Não Vem da Boca", a mesma narrativa difícil, conturbada, emaranhada se faz presente.
Há uma confusão tão grande dentro do eu-lírico, que se reflete até mesmo na disposição dos capítulos. O último no meio, o meio no início, o fim explicando o não dito... Simplesmente lindo e devastador.
Tive de ler "O Beijo Não Vem da Boca" duas vezes. A primeira, para me maravilhar, e babar, e sonhar, e curar as minhas feridas que, na época, pareciam se vestir tão bem com os trapos bem costurados daquele enredo... E depois, só na segunda vez, consegui desvendar as lacunas e sacadas por trás da história, concebi a trama de modo mais acessível.
Enfim. Enfim. Dalton Trevisan, ao contrário de alguns de seus simples e profundos contos, nos propõe em livros como "A Polaquinha" a mesma profundidade, mas deixando de lado a simplicidade, em troca de um cru remelexo na ferida. Como um conta-gotas, ele regula onde vai muito, onde vai pouco.
Leitura que choca, e faz parar, é leitura boa. Leitura proveitosa é aquela que te faz lembrar que você ainda não é tudo aquilo que pensou que fosse.
E até isso são palavras de uma mera leiga. Mas a leitura de modo geral, isto é, a boa leitura, é mesmo tão boa e poderosa que possibilita até mesmo aos leigos usufruir das palavras certas para emitir suas opiniões tão toscas.
Sendo assim, que me perdoem as tosquices despejadas aqui. Mas precisava, como a vontade louca de urinar que brota no meio da madrugada, falar um pouco deste desconhecido Dalton que é para mim.

quinta-feira, 24 de março de 2011

JUVENTUDE

Aquelas noites de verão foram incríveis. A juventude, o som, as músicas, os cheiros... Sensações infinitas. A turma se sentia forte, quente, invencível. Eles eram praticamente invencíveis, perdidos no mundo.
Ah, o tempo... Tão distante naqueles dias. E eles mal sabiam quantas coisas ainda os aguardavam, ainda aconteceriam.
A vida vai mudando, e a gente nem percebe. Só se dá conta quando tudo já foi feito, já passou. E todos eles sairiam mudados daqueles verões. Nenhum deles, sequer um pedaço deles, foi o mesmo depois daquilo tudo.
Mais do que sombras, que nas noites cortavam as avenidas sobre motos ferozes e motores envenenados; mais do que estrelas que furavam o céu ensolarado e as tardes quentes; circulavam pelas ruas da cidade como heróis rebelados.
Aqueles rapazes eram tudo o que qualquer um foi ou quis ter sido. Eles transpiravam vida. Condutas tortas. Qualquer um podia sentir, podia cheirar, podia ver.
Eles riam e debochavam enquanto o mundo todo desabava sobre suas cabeças. Vida, fúria, sonhos, ilusões, dores, doçuras, surpresas... Passados tristes e lembranças irritantes, que ficaram embargadas pelo meio da garganta. Um alucinante e poderoso bater de asas, a liberdade, a perda, as descobertas.
Naquelas noites intensas de verão, o tempo, e o medo, pareciam estagnados. Mortos. Só havia o som inquieto de uns corações desenfreados...
Eram todos sem freios. E que coisas ainda os esperavam... A felicidade é morrer em si mesmo, não é? Felicidade é matar um pouco de si, é descobrir a verdade. E eles nem se davam conta, procuravam tanto por ela, tontos como loucos, e nem percebiam que a felicidade era essa morte aí. Era morrer da mesma forma como eles achavam que, para eles, o tempo e as regras estavam mortos, é ignorar as ladainhas e deixar-se viver sem medo.


FRANKENSTEINS

O novo Dr. Frankenstein somos nós. Criamos um monstro.
O novo Dr. Frankenstein somos nós. Criamos um monstro.
Não é incrível pensar no poder absurdo que tem a internet? Qualquer coisa que você poste na rede, ainda que esquecido ou apagado por você, jamais se apaga de fato. Um arquivo, um texto, uma informação, uma foto, até mesmo uma frase - aquilo deixa de ser seu, para sempre. Pertence à rede, que não se esquece de nada. Com o tempo, torna-se mais um fragmento oculto, mas ainda assim armazenado, catalogado, vagando pela internet como um espectro fugaz eternamente. Google: o olho que tudo vê.
A internet, sendo tão boa em vários aspectos, não poderia ser mais segura? Hoje, com tanta tecnologia alcançada, trabalhada, deveria garantir, ao menos, segurança sobre aquilo que é meu e só meu, embora compartilhado no cyber espaço. Porque, se me pertence, eu devo ter o monopólio sobre aquilo, inclusive o direito de anular completamente as informações e arquivos postados, se der na telha, ou bater eventuais arrependimentos. Parafraseando um professor de literatura, assim como as obras literárias, o que se produz e publica-se na internet, de muitas formas, também é destinado ao público aberto, é uma “obra aberta, mas não escancarada”. Existem, ou deveriam existir, limites.
Afinal, quem inventou a internet? Quem é o responsável por essa “mente criminosa”, que nunca esquece nada?
Não, se quer saber, nem quero nomes. Até porque, falando com menos ingenuidade, somos todos responsáveis, tanto pelo que publicamos quanto pelo que colhemos. Essa liberdade, descaso com a privacidade, deve ser usado mediante cautela.
Somos culpados, nós mesmos, pelo que compartilhamos com o mundo virtual. Porque a internet é inventada e reinventada todos os dias, por gente como eu, como você, por leigos ou fanáticos, por qualquer um que, acidentalmente ou à custa de muita pesquisa, descubra uma forma nova de fazer essa ferramenta surpreender, ousar.
A rede apavora. Todo este poder, controle... É louco. Ainda que composta por gente, sua potência beira o desumano - (des)humano mesmo, se concebermos o absurdo fato de máquinas e algo invisível que interliga todo mundo e nos mantêm reféns.
A internet, gradualmente, vem causando mais pavor que deslumbramento. Há ainda certa euforia no ar, a cada nova novidade (sim, porque até as novidades ficam velhas muito rapidamente) explode a gritaria e todos se jogam nela, seja promoção, vídeo, aparição, ou o mais novo site interativo de relacionamento – sites como Twitter, que ofertam a aproximação de estrelas hollywoodianas ao pó dos meros mortais anônimos.
Tanta efusão e brilho são apenas a casca, frágil e insossa, que serve para maquiar o verdadeiro torpor - letal e feroz - que desencadeia, em nossas almas, a internet. Perdemos a essência e a atenção às coisas reais em nome de um perfil cibernético. No fim, já nem nós sabemos bem quem somos.
Todo mundo parece ter se rendido a isso. O que fazer? Para onde quer que se olhe, somos presas fáceis daquilo que vamos criando, de uma tecnologia absurda que, apesar de ser fruto de nossa massa encefálica, já superou essa mesma massa há tempos.
Será este o nosso novo e definitivo monstro? Criado a partir de nossa fome de perfeição, com tudo para dar divinamente certo, mas que acaba se mostrando uma aberração nociva.
Num futuro próximo, ao descobrirmos a resposta para tal questionamento, só espero ser contabilizada como um daqueles que nunca se renderam total e perigosamente a esta ferramenta, a qual é fruto da ambiciosa sapiência humana - mas que sabe disfarçar sua "humanidade" muito bem, enquanto nos engole.