segunda-feira, 24 de junho de 2013

"saudades imortais"

"Eu ansioso pelo Sol, buscava 
Sacar daqueles livros que estudava 
Repouso (em vão!) à dor esmagadora 
Destas saudades imortais".

O CORVO

quarta-feira, 19 de junho de 2013

AO QUE COMIGO PLANEJA DOMINAR O MUNDO

Murilo,

O que tenho pra te dizer é isso:
Acho que uma das maiores alegrias do Chico foi ter inaugurado a data para que um dia, nesse dia, alguém como tu nascesse. Dia já abençoado por si só, e então, vocês dois.
De pensar que te conheci pequenininho... E nem conheci bem (pelo menos não à época), mas houve um reconhecimento de almas, não achas?... E desde lá, quanto tempo? Sete anos, meu amigo. Para nós que só acumulamos 19 até agora, é ano pra mais de metro!
No começo, aquela amizade tímida. Lembras? Eu encerrada na bolha das popularidades superficiais dos 12 anos, sem atentar muito bem para o coleguinha tão legal, caladão, um tanto bisonho - autodefinição tua mesmo -, logo ali ao lado. E tu, isolado, encerrado também, mas na ostra da timidez e de certo blaseísmo que todo garoto tem até bem depois dos 12. O que nos uniu, ainda que sem grandes pretensões, talvez tenha sido, a princípio, aquele gosto pelos Hermanos. Ou a falta de sono, os hábitos cibernéticos notívagos...
Assim vieram as madrugadas de MSN - quem não sente nostalgia? -, amizades que se tornavam de infância, enquanto os históricos de conversa iam se tornando intermináveis... Te perdoo por todas as vezes em que, nesses diálogos sem quê nem pra quê, vieste fazer inveja pra mim porque tinhas o CD da Amélie e eu não. Mas o tempo corre, vira cambalhota, meu caro, e hoje eu tenho o meu também, só pra deixar claro.
Foi assim. Sete anos em que a gente mais se digitou e se idealizou do que se viu, mas permanece esta quase uma década de alguma coisa boa, confortável, doce, divertida. Amizade. Introcável. Te gosto pelo que tu és, e mais: pelo que também não dizes. Por essa aura que te cerca, percebível a distância, e que faz a gente querer ser poeta também, seja lá com que caneta for, e de que maneira for, seguindo o teu exemplo...
E o que começou com Los Hermanos, rendeu. Olha só onde estamos. E aí estás tu, até hoje, e desde de antes, todo e sempre musical. Muito mais que dividindo uma data com o Chico, fazendo a data bonita junto com ele. O que eu penso de ti é tão simples e tão profundo quanto um dos teus rabiscos de versos, ou um refrão buarqueholandesco: que há todo esse lirismo escorrendo dos teus dedos, essa poesia meio engajada, esse rap erudito, os poemas curtos, bonitos, densos no pouco espaço. E soma-se a ti aquele talento sedutor de quem não se acha à altura de si mesmo. A melancolia que, apesar de tão triste, é também tão charmosa...
Obrigada por ser um amigo tão legal. Por dividir sonhos tresloucados, compartilhar projetos, por me deixar ser o Pinky, enquanto tu és o Cérebro, e os planos loucos de dominar o mundo (dos blogs, dos livros, das canções, das artes).
Gosto mais de ti do que gosto das letras do Chico em vozes femininas (e olha que gosto bastante!). Gosto de ti na mesma medida em que resisto ao Gilberto Gil (e é bastante também!). Gosto de ti porque me fazes gostar de coisas ingostáveis. E porque és gostável também, por natureza.
Espero que não percas tudo o que há de maravilhoso em ti, nunca. Enfim, tu inteiro. Me arrisco a dizer, inclusive, protegida pela intimidade e proximidade de almas que garantiu para nós a distância física, que até mesmo o que há de mais triste e amargo na tua história, só serviu pra te tornar ainda mais isso. Isso que és. Meio indefinível, mas tão-bom.
Não fique se achando muito (porque o que tens de desligado, tens também de malandro)! A beleza está grandemente nesse teu não-saber. Te adoro, meu querido amigo! Malandragem boa, é isso que é. Ah! Anote na capa do teu Leminski de bolso (ou Drummond, ou Neruda, ou Bandeira, ou Quintana): não vá morrer aí no caos urbano. Ainda temos muita solidão pra percorrermos juntos...

Feliz aniversário.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

ACERCA DO HOJE

Até ontem, dizíamos de nós mesmos:
Brasileiros não têm capacidade de organização.
Brasileiros são acomodados.
Brasileiros são omissos.
Brasileiros são conformados.
Brasileiros só gostam de pão e de circo.
Brasileiros não lutam por seus direitos.
Brasileiros não vão às ruas para mudar seu país.
Brasileiros...

A partir de amanhã, dirão:
Brasileiros... destruindo seus próprios estereótipos desde 2013.
Porque lutaram.

O triste é pensar que alguns de nós, embora mudem seu discurso, permanecerão dizendo coisas do tipo:
Brasileiros... Só sabem fazer baderna.

domingo, 16 de junho de 2013

sábado, 15 de junho de 2013

O SABOR DE SER 19

[Como se hoje fosse ainda dia 14:]

  19 anos, hoje. São, pelo que diz a calculadora, 6650 dias. 79800 horas. Minutos infindáveis de uma existência quase que exclusivamente dedicada ao ócio improdutivo e à procrastinação eterna, mesclados com raros momentos de inspiração abobalhada.
  A verdade é que me sinto muito mais tendo 19 (tão abstrato e ao mesmo tempo tão concreto), do que sendo, propriamente, dezenove-anos. Eu tenho esse número exato, mas não é como se eu mesma ele fosse. Fico na indefinição do ser-se e/mas não sentir-se (deixe as ênclises aí).
  O próprio dia de hoje já amanheceu assim, dúbio. Belo, mas dúbio. Dúbia Fortaleza chuvosa, envolta num vento quase enregelante, ainda que com aquele mormaço sufocante e um sol de crestar miolos. Um calor-frio, uma luminosidade opaca, um brilho intenso filtrado por um céu nublado de grossos e cinzentos chumaços de algodão, enquanto se sua e se treme à espera do ônibus que nunca virá, porque o caos urbano não refresca nem mesmo para os aniversariantes.
  Contudo, embora eu molhada de inconstâncias e incertitudes, foi este um dia feliz. Um daqueles dias em que se sorri para os gatinhos marajás, paxás a se lamberem regiamente sob o sol da UFC, um daqueles dias em que não se enxota a formigona que subiu no seu pé, um daqueles dias em que você se descobre um ser amado.
  A minha ideia de velhice não era uma vida solitária rodeada por felinos. A minha ideia de velhice máxima, há alguns centênios, era completar 13 anos. Número não totalmente aleatório. Acontece que eu devia ter lá meus sete, quando uma prima mais velha, que morava no Rio, mandou-me uma carta, e nela havia um desenho cujo título era "Bárbara aos 13 anos". A figura angulosa conseguira mais ou menos domar um cabelo leonino e detinha uma estreiteza de dar inveja. Ter treze anos passou, assim, a representar o auge do amadurecimento, o ser alguém no mundo, com um metro quadrado de existência autônoma.
  E eu costumava achar um saco ser criança. Era cruel. Porque criança sofria (aqui o eco da menina que desde sempre foi um bocadinho melancólica), não podia participar das confabulações dos adultos na cozinha, e tinha sempre que ficar vigiando a postura e passando cuspe no joelho pra tirar a "tuíra".
  Enfim, alcancei os treze. Sem grandes arroubos. Passei pelos superestimados 18, e chego agora, discretamente, aos 19. Com aquele ar mais ou menos fatigado e o sorrisinho meio que desdenhoso-condescendente de quem enfim compreendeu o grande lugar-comum dos adultos: crescer não é tão mágico assim...
  É, afinal, só uma questão de ser forçado a aprender de uma vez por todas a atravessar a rua sem a mão amiga entrelaçada à sua; e é ainda apenas questão de fazer o seu próprio pedido à atendente no caixa do McDonald's (contendo o desejo ardoroso de pedir um McLanche Feliz e descolar para si aquele brinde tão maneiro do Keroppi); crescer é apenas uma questão de aprender a pegar o ônibus certo e fazer o favor de não chorar caso você se perca.
  Ter 19, ou mesmo o 13 idealizado, consiste basicamente em dominar todas essas habilidades desiluminadas. Não importa se você foi uma criança que aprendeu a pintar magnificamente com o lápis de cor, sem sair da linha, aos três anos de idade. O que importa ao externo é que você não seja um pobre coitado de 19 anos que ainda atravessa a rua feito um trem descarrilado e sofre com a voz embargada ao tentar perfurar a carapaça da timidez e fazer o seu pedido à mocinha impaciente e meio surda do caixa.
  Mas, bom, a intenção não era transformar esse texto num daqueles manifestos a favor dos que não querem crescer. Eu mesma não quero ser um desses que não quer crescer... Mas quero fazer de mim um daqueles adultos que se olham no espelho e conseguem se perdoar por terem crescido, e que não se levam muito a sério, e que gargalham sozinhos ao notar, depois de uma hora incessante de busca, que os óculos estavam, desde o início, estacionados no topo da cabeça!
  Enfim, todas essas bobagens rabiscadas simplesmente para balbuciar que foi este um dia bom, um dia feliz. O teor da reflexão murcha pode parecer ter sido feito para murchar também quem lê, mas não. São apenas aquelas coisas que a gente despeja quando encontra a desculpa de ter nascido no bendito dia presente.
  Por fim, notas de rodapé:  talvez a maturidade ordinária que se espera de alguém que se diz um 19 anos só me brote mesmo quando eu for para lá dos 30.
  Especificamente quanto ao dia de hoje, 14, gostaria que meu avô estivesse aqui em Fortaleza com a gente. E também a minha mãe. E minha irmã. E tios. E primos. Mas aceitar as circunstâncias intransponíveis com resignação e desprendimento faz parte também de crescer, eu imagino, e ao menos este amadurecimento eu me concedo (tento).
  Vovó chorou hoje, é claro, como era de se esperar. E o elemento desencadeador foi o "bonequinha" com que um de meus tios iniciou a mensagem de parabéns à aniversariante. E pensei, cá com meus botões (de celular): "Ainda bem que, neste país estrangeiro (que é a idade dos que já amadureceram), pelo menos nos permitem chorar...".

um vislumbre da velhice