quarta-feira, 19 de junho de 2013

AO QUE COMIGO PLANEJA DOMINAR O MUNDO

Murilo,

O que tenho pra te dizer é isso:
Acho que uma das maiores alegrias do Chico foi ter inaugurado a data para que um dia, nesse dia, alguém como tu nascesse. Dia já abençoado por si só, e então, vocês dois.
De pensar que te conheci pequenininho... E nem conheci bem (pelo menos não à época), mas houve um reconhecimento de almas, não achas?... E desde lá, quanto tempo? Sete anos, meu amigo. Para nós que só acumulamos 19 até agora, é ano pra mais de metro!
No começo, aquela amizade tímida. Lembras? Eu encerrada na bolha das popularidades superficiais dos 12 anos, sem atentar muito bem para o coleguinha tão legal, caladão, um tanto bisonho - autodefinição tua mesmo -, logo ali ao lado. E tu, isolado, encerrado também, mas na ostra da timidez e de certo blaseísmo que todo garoto tem até bem depois dos 12. O que nos uniu, ainda que sem grandes pretensões, talvez tenha sido, a princípio, aquele gosto pelos Hermanos. Ou a falta de sono, os hábitos cibernéticos notívagos...
Assim vieram as madrugadas de MSN - quem não sente nostalgia? -, amizades que se tornavam de infância, enquanto os históricos de conversa iam se tornando intermináveis... Te perdoo por todas as vezes em que, nesses diálogos sem quê nem pra quê, vieste fazer inveja pra mim porque tinhas o CD da Amélie e eu não. Mas o tempo corre, vira cambalhota, meu caro, e hoje eu tenho o meu também, só pra deixar claro.
Foi assim. Sete anos em que a gente mais se digitou e se idealizou do que se viu, mas permanece esta quase uma década de alguma coisa boa, confortável, doce, divertida. Amizade. Introcável. Te gosto pelo que tu és, e mais: pelo que também não dizes. Por essa aura que te cerca, percebível a distância, e que faz a gente querer ser poeta também, seja lá com que caneta for, e de que maneira for, seguindo o teu exemplo...
E o que começou com Los Hermanos, rendeu. Olha só onde estamos. E aí estás tu, até hoje, e desde de antes, todo e sempre musical. Muito mais que dividindo uma data com o Chico, fazendo a data bonita junto com ele. O que eu penso de ti é tão simples e tão profundo quanto um dos teus rabiscos de versos, ou um refrão buarqueholandesco: que há todo esse lirismo escorrendo dos teus dedos, essa poesia meio engajada, esse rap erudito, os poemas curtos, bonitos, densos no pouco espaço. E soma-se a ti aquele talento sedutor de quem não se acha à altura de si mesmo. A melancolia que, apesar de tão triste, é também tão charmosa...
Obrigada por ser um amigo tão legal. Por dividir sonhos tresloucados, compartilhar projetos, por me deixar ser o Pinky, enquanto tu és o Cérebro, e os planos loucos de dominar o mundo (dos blogs, dos livros, das canções, das artes).
Gosto mais de ti do que gosto das letras do Chico em vozes femininas (e olha que gosto bastante!). Gosto de ti na mesma medida em que resisto ao Gilberto Gil (e é bastante também!). Gosto de ti porque me fazes gostar de coisas ingostáveis. E porque és gostável também, por natureza.
Espero que não percas tudo o que há de maravilhoso em ti, nunca. Enfim, tu inteiro. Me arrisco a dizer, inclusive, protegida pela intimidade e proximidade de almas que garantiu para nós a distância física, que até mesmo o que há de mais triste e amargo na tua história, só serviu pra te tornar ainda mais isso. Isso que és. Meio indefinível, mas tão-bom.
Não fique se achando muito (porque o que tens de desligado, tens também de malandro)! A beleza está grandemente nesse teu não-saber. Te adoro, meu querido amigo! Malandragem boa, é isso que é. Ah! Anote na capa do teu Leminski de bolso (ou Drummond, ou Neruda, ou Bandeira, ou Quintana): não vá morrer aí no caos urbano. Ainda temos muita solidão pra percorrermos juntos...

Feliz aniversário.

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