quinta-feira, 24 de março de 2011

FRANKENSTEINS

O novo Dr. Frankenstein somos nós. Criamos um monstro.
O novo Dr. Frankenstein somos nós. Criamos um monstro.
Não é incrível pensar no poder absurdo que tem a internet? Qualquer coisa que você poste na rede, ainda que esquecido ou apagado por você, jamais se apaga de fato. Um arquivo, um texto, uma informação, uma foto, até mesmo uma frase - aquilo deixa de ser seu, para sempre. Pertence à rede, que não se esquece de nada. Com o tempo, torna-se mais um fragmento oculto, mas ainda assim armazenado, catalogado, vagando pela internet como um espectro fugaz eternamente. Google: o olho que tudo vê.
A internet, sendo tão boa em vários aspectos, não poderia ser mais segura? Hoje, com tanta tecnologia alcançada, trabalhada, deveria garantir, ao menos, segurança sobre aquilo que é meu e só meu, embora compartilhado no cyber espaço. Porque, se me pertence, eu devo ter o monopólio sobre aquilo, inclusive o direito de anular completamente as informações e arquivos postados, se der na telha, ou bater eventuais arrependimentos. Parafraseando um professor de literatura, assim como as obras literárias, o que se produz e publica-se na internet, de muitas formas, também é destinado ao público aberto, é uma “obra aberta, mas não escancarada”. Existem, ou deveriam existir, limites.
Afinal, quem inventou a internet? Quem é o responsável por essa “mente criminosa”, que nunca esquece nada?
Não, se quer saber, nem quero nomes. Até porque, falando com menos ingenuidade, somos todos responsáveis, tanto pelo que publicamos quanto pelo que colhemos. Essa liberdade, descaso com a privacidade, deve ser usado mediante cautela.
Somos culpados, nós mesmos, pelo que compartilhamos com o mundo virtual. Porque a internet é inventada e reinventada todos os dias, por gente como eu, como você, por leigos ou fanáticos, por qualquer um que, acidentalmente ou à custa de muita pesquisa, descubra uma forma nova de fazer essa ferramenta surpreender, ousar.
A rede apavora. Todo este poder, controle... É louco. Ainda que composta por gente, sua potência beira o desumano - (des)humano mesmo, se concebermos o absurdo fato de máquinas e algo invisível que interliga todo mundo e nos mantêm reféns.
A internet, gradualmente, vem causando mais pavor que deslumbramento. Há ainda certa euforia no ar, a cada nova novidade (sim, porque até as novidades ficam velhas muito rapidamente) explode a gritaria e todos se jogam nela, seja promoção, vídeo, aparição, ou o mais novo site interativo de relacionamento – sites como Twitter, que ofertam a aproximação de estrelas hollywoodianas ao pó dos meros mortais anônimos.
Tanta efusão e brilho são apenas a casca, frágil e insossa, que serve para maquiar o verdadeiro torpor - letal e feroz - que desencadeia, em nossas almas, a internet. Perdemos a essência e a atenção às coisas reais em nome de um perfil cibernético. No fim, já nem nós sabemos bem quem somos.
Todo mundo parece ter se rendido a isso. O que fazer? Para onde quer que se olhe, somos presas fáceis daquilo que vamos criando, de uma tecnologia absurda que, apesar de ser fruto de nossa massa encefálica, já superou essa mesma massa há tempos.
Será este o nosso novo e definitivo monstro? Criado a partir de nossa fome de perfeição, com tudo para dar divinamente certo, mas que acaba se mostrando uma aberração nociva.
Num futuro próximo, ao descobrirmos a resposta para tal questionamento, só espero ser contabilizada como um daqueles que nunca se renderam total e perigosamente a esta ferramenta, a qual é fruto da ambiciosa sapiência humana - mas que sabe disfarçar sua "humanidade" muito bem, enquanto nos engole.

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