sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

TEMPORAL

Que coisa mais engraçada é a vida, é a juventude... Eles se molham sob a chuva como se pudessem parar o tempo, como se pudessem congelar a imagem e viver esse momento para sempre. É bonito.
Mas até então estão bem, o ridículo é o que vem depois. Enquanto as roupas colam no corpo, o cabelo escorre, o jeans suado se aperta, a camiseta transparece, o som dos gritos e de uma alegria quase pueril se mistura aos barulhos e urros estrondosos da tempestade, a vida vai se consumindo em fogo brando, palpável. Mas numa lentidão tão feroz quanto o tempo que passa rápido, aquele que é na mesma medida tão célere e pouco palpável, indefinido.
É noite. Eles estão aí, brincando na água. Estão todos fora todo o dia, o dia inteiro fora de casa, sempre tão fora de tudo. Dá pra sentir o cheiro de orvalho, terra molhada, o calor do dia que sobe do asfalto em nuvens de fumaça, e o aroma inconfundível de hambúrguer, vindo de qualquer lugar, qualquer barzinho à meia-luz com um pingo de consideração para contratar um chef, mesmo que suspeito.
As ruas estão desertas de pessoas, vez ou outra passam carros. Escuridão. Apenas água, poças, pneus ocasionais que, ao percorrerem velozmente queimando borracha, espirram a água acumulada no meio-fio para a calçada.
Aqui só há a luz alaranjada dos postes, que em seu brilho intenso e ar lúgubre albergam uma nuvem de mosquitos procurando morte. Há uma forte despreocupação no ar, mas a tempestade contraria outros seres. Adultos, velhos, crianças dormem. Os que não dormem, ouvem a barulhada na rua, mas já se foi o tempo de se juntar a eles. Os trovões dão mais medo. Liberdade.
São estes jovens que até mesmo sem querer conseguem da vida aquilo que todo mundo quer, e não se dão conta: Felicidade. Palavrinha doce. Que corre na boca e então, no fim, parece despencar como uma caixa de chumbo e cravar-se na língua. Felicidade até quando? Até quando durarem as noites. Até quando durar o dia. Enquanto a tempestade não se for, e for assim, intensa, molhada, assustadora. Enquanto eles forem selvagens. E se houver dor, acima dela, estarão felizes. Ou não?
Se por acaso é real resta saber. Esses jovens que riem e chapinham na água da chuva... Ah, terão seus melhores dias. E dias felizes virão até que a juventude se apague. Não quando se apagar dos ossos, mas do peito. Já que é aí que ela mora.
Um coração bruto e jovem não se rende.

Nenhum comentário:

Postar um comentário