sábado, 30 de outubro de 2010

MANTENHA-SE NO RASO

Divido então o que sei: são todos jovens, são todos palavras, silêncios. Vazios que gritam no escuro, como almas que mal sabem o que os aguardam. Um dia após o outro, passo por passo, e ainda assim, querem engolir o mundo. É isso o que sei deles, e divido com quem quer que os queira. É pouco o que sei, sim, admito. Como já disse, nem os entendo completamente. Afinal, quem entende os jovens? Não eu.
Mas, de qualquer forma, mesmo sem conhecê-los por completo, sou o único que sabe sobre eles mais que o necessário. Se me concentrar... Se me concentrar, posso até sentir a dor deles. Seus pensamentos, seus sonhos, sono agitado, medos, pavores, palpitações. Eles balbuciam no meio da noite, choram baixinho, nem sabem, nem imaginam que são assim tão desprotegidos. Nem eu posso imaginar quanta desproteção há neles.
Mas, se decidi mesmo deixar que os conheçam, então é melhor que os apresente de uma vez. Eles ainda não são inteiros, mas são pedaços, fragmentos de tanta gente, de ninguém, de tudo e de muito. Eles são... Como posso dizer? São jovens, afinal. O que se espera de um jovem? Que seja raso, que seja profundo? Só o que posso dizer deles é que, bem, em grande parte, ninguém esteve muito disposto a compreendê-los. Ninguém perde tempo. Por mais nobre que possa soar perder tempo com pessoas, ninguém o faz de verdade. E é por isso que eles são assim, tão tortos, tão mal acabados. Mas a vida cuidou de esculpi-los e arrematar o que tinha sido criado, deixando-os assim tão vivos, tensos, vibrantes, palpitantes, intensos. Eles são uma parte de um todo, e um inteiro, um pedacinho caprichoso, e lindo, e estranho, incompreensível. Eles são pequenos, nem ocupam muito espaço, talvez suas balbúrdias assustem, mas os famosos hormônios os absolvem. O que posso dizer mais? Só o que sei é que de nada são rasos. Não. E sabe o que dizem sobre os lagos? Os mais calmos é que são os mais profundos. Você jamais chegará ao fundo deles. É escuro, silencioso, agudo, lotado de tudo...
Águas brandas escondem pensamentos profundos. Toda a juventude de uma época está aqui. Talvez falte o brilho de uma década, a polvorosidade de outra, quem sabe a rebeldia da de 80, ou as mudanças da de 60. Mas, estão aqui. Todos eles. Essa juventude que salpica como óleo quente, fervente, uma pulga atrás da orelha, um livro que teima em cair da estante. Bem, eles são um lago (aparentemente) raso e calmo, falsamente cristalino, no qual eu não me atreveria a ir muito fundo, pelo simples perigo de me afogar. Enrolar-me em algas ásperas. Eles são, afinal, lagos quentes e serenos que escondem aqueles segredos que só se conta a si mesmo. Eles vibram, retumbam. Silenciosamente. Estão todos aí, e, se não há muito o que fazer, então, leia-os.

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