domingo, 17 de outubro de 2010

AINDA TENHO MUITO A DIZER

Principalmente quando não digo nada. Quem sabe um gemido rouco, um grito ao alto, uma asa que corta o céu. Gosto quando sou só eu e o fundo, uma prisão infinita, um rasgo no mar de palavras não ditas, e que por enquanto permanecerão assim, silentes, mas não estagnadas.
Gosto do cheiro das palavras, gosto de tocá-las, de sentir o gosto delas na ponta da língua quando ainda nem sequer as mastiguei. Primeiro é sonho... O momento da antecipação.
Tenho ainda a dizer o que não digo. Tenho fundura, rastro, certeza, mil dúvidas, um eco. Grandezas proporcionais, o toque de um som, a sílaba que cai no hiato, e o verso que às não vem.
Então fico muda. Mudez improdutiva, estéril. Quando não consigo dizer no silêncio aquilo que tanto quero gritar. Dois silêncios diferentes, cada um, a seu modo, arrasador. E essa loucura de não poder dizer o que se sente!... De ser tão amigo das palavras silentes, tácito acordo, e quando se precisa delas, elas somem, fogem, escapulem (escapolem, escapulam?), escorregam naquele brinquedo da infância e vão para longe, onde não podemos alcançá-las, onde eu não posso alcançá-las, distante demais para lembrá-las, ou ainda longe demais que as não conheço.
E gosto desses silêncios. Prefiro o primeiro. Quando a minha voz me entende melhor do que entende todo o mundo ao redor que finge que sente algo que realmente não se diz, não se fala, mas carrega. Eu e o meu silêncio, assim, de lado, de banda, de acordo. Sou mais bela com ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário