quinta-feira, 13 de novembro de 2014

VAGABUNDAMENTE

Que eu tenho um coração vagabundo, que se rende fácil e se vende por qualquer trocado de afeto, isso lá não é novidade. Agora, ainda mais, veio essa vontade tonta de fazer besteira. De enlouquecer, de gritar, de me revirar. Vontade endoidante de não ser mais eu, mas ser eu sendo outra. Outro ser, outra coisa que desconheço - sem limites, sem pudores.
Minha mente dá corda à vontade... Devaneia.
Meu coração, porém, é muito mais prudente do que minha razão.
A minha razão dá razão ao corpo - ele quer e pronto, está com a razão!
Mas meu coração é prudente, vai me freiando. Meu coração é prudente porque tem medo.
Então não é ele que se vagabundeia... Quem vaga por aí sem dona é minha mente: danada!
Só agora conheço realmente meu coração. É fraco, pobre e só, mas tão convicto de ideais românticos que foi catando pelo lixo, que nem a minha perigosa mente sabe demovê-lo.
Ah, mas tenta...
Aprendi, afagando-os igualmente, a contê-los. A suportá-los, pelo menos. Minha cabeça e meu coração. Afinal, todos os dias, em todos os segundos, frenéticos, cá estamos, delirando ou temendo.
Os dois não se entendem. Eu observo. Que espécie de loucura é esta em que não tenho voz dentro de mim mesma? Eu sou eu mas só observo. Quem é eu e quem me faz é meu coração. Medroso, medrosinho... Infeliz, melancólico e inseguro. Muito, muito sério. Suspira às vezes, porém. E é nesses momentos que a minha cabeça desajustada quer reinar. Sorte é que meu coração não deixa: tem medo.
E eu vivo nessa prisão feita de artérias e neurônios. Meus mais refinados músculo e órgão brigam entre si e minhas entranhas sofrem, retorcidas. E eu, onde estou? Perdida por aqui por dentro... Observadora neutra, sofrida. Sou ping pong dos meus desejos e dos meus freios. Sou a maldita bola. Não consuma ponto algum porque o coração não deixa. Mas, veja só, ainda assim, está no jogo!
Minha mente me arma armadilhas... E mesmo desistir do jogo seria dar a essa cabeça sacana e despirocada uma vitória bastante satisfatória. Ela me olharia, a minha mente, e debocharia de mim, que não perdi nem venci, só deixei de brincar, eu amorfa, seca e paralisada.
Eu até me uniria a meu coração, para derrotá-la de vez. Mas é que meu coração só tem medo, só medo. E viver pelo medo é pior do que não viver absolutamente. Então estou assim: não vivente. No limite, na tensão, na fronteira entre ceder àquilo que quer minha mente e resistir ao que afronta meu coração.

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