sexta-feira, 17 de maio de 2013

A GRIPE QUE NUNCA PASSOU

Acho que, quando eu era pequena, peguei uma gripe e ela nunca sarou. Eu tenho essa moleza de espírito que me faz arrastar pelos dias a fio, sem fazer nada. Deixo para o último segundo todas as coisas, porque a cama me chama. O travesseiro, a preguiça. Um eterno protelar de quem tem o corpo todo dengoso de gripe...
Os meus olhos lacrimejam, o meu nariz escorre, e os ossos do crânio, os dentes, todos doem. É um estado permanente. Essa vontade passiva de morrer para o mundo, essa preguiça de viver. Nada muito definitivo, apenas parado, suspenso. Poderia ser verme, mas não, é gripe, gripe de alma, já diagnostiquei.
E quando o tempo piora, cai chuva, faz sol brabo, o meu estado, como fica? Assolado. Arrasado. Garganta cortada, inflamada, gosto amargo na boca, os olhos vazios, meio melados, molhados, a coriza do coração e o tapamento dos ouvidos, enquanto a tosse literária não me larga...
É gripe, na certa. É gripe.

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