terça-feira, 20 de julho de 2010

CRÔNICA DOS ROMANCES QUE VOCÊ NÃO QUER



Até mesmo o brilho do cotidiano pode ser dilapidado por uma manobra infeliz.
Porque não existe coisa mais brega do que um romance rodoviário. Para quem não sabe, os romances rodoviários são aqueles em que um cidadão sentado no banco frente ao seu paquera com você, te olhando fixamente, mesmo que você tente evitar.
Muitos deixam-se levar por tais efêmeros romances, que normalmente acontecem no interior de um ônibus, a caminho da escola, do shopping ou do inglês. A grande tolice é pensar que talvez aquele garoto ali, sentado bem ali, logo em frente, seja o último cosmopolita bonito que vai cruzar o seu caminho, e que você jamais encontrará outro ser mais exato e tão semelhante ao parceiro idealizado em seus devaneios de perfeição. Então alguém puxa a cordinha e lá se vai ele, descendo pelas escadas, o tal aterrantemente belo astro de cinema. Pelo menos em sua cabeça.
Os romances rodoviários, principalmente os que ocorrem num átimo dentro do coletivo lotado, estão fadados ao fracasso.
Passemos então para o próximo.
Outro romance que você não quer ter é com a "Amy Whine Who?" (como diria a ilustração de uma bela crônica que li já faz um tempo). Imagine-se a cortejar este ser de origem e formação duvidosas... Você que acorda, e depara-se com uma cabeleira espigada a dormir do seu lado. E, claro, sempre acompanhada de uma garrafa meio cheia, meio vazia, da água que os canários não bebem. Não, definitivamente não dá pra rolar. Este tipo de par perfeito você não quer.
Então surge a lendária figura guerreira de um pedreiro. Nada contra os pedreiros, juro, mas é a forma de abordagem que prejudica deveras a sua interação com outros seres, principalmente os do sexo feminino. Porque, veja bem, se uma mulher passa na rua, e sobre sua cabeça há uma obra qualquer a ser construída - verdadeira colônida de empregados terceirizados -, o que é que o cidadão vai gritar para a moça, ao vê-la atravessar? "Gostosa! Vem aqui me conhecer, vem!". Traumático.
Alguns não respeitam nem crianças, e você sabe disso por experiência própria. Está lá, você, caminhando sob as árvores a comer o seu gelado... Quando de repente surge o Darth Vader do reboco e cospe essa: "Ah, quem me dera ser esse picolezinho aí!"
Triste. Triste vida essa que nos ensina a não ter mais a liberdade de acreditar que os romances tão almejados podem de fato acontecer.
E eu já mencionei o quarentão tatuado? Bem, o "quarentão tatuado" é uma categoria vastíssima. Os desenhos gravados em sua pele vão desde as mais absurdas declarações de amor à sua mãe até as besteiras pornográficas mais descabriadas. Exemplo disso é o sujeito que passeia pelo google com a barriga à mostra, expondo seu "tanquinho" turbinado e sua concubina imaginária, pintada sobre aquela camada adiposa, de pernas abertas.
E se você encontrar o homem ou a mulher de sua vida quando está saindo do banheiro da rodoviária? Hein? O que vai fazer? Ele acaba de te flagrar saindo dali fedendo a excremento humano, e limpando as mãos que você tentou lavar, na calça jeans. Suas pernas estão sujas de lama e água que vazou da privada até as canelas, e o seu par perfeito então te olha e, com um profundo desprezo e decepção, meneia a cabeça em negativa e sai andando. Sem nem olhar para trás.
Os tipos de romances duvidosos são incontáveis, uma diversidade sem limites. Estes acima citados são apenas alguns tímidos e clássicos casos de decepção amorosa, que todos os desavisados da face da Terra correm o risco de sofrer. Estejam atentos.
São romances que negam todo o lirismo e frivolidade meiga de um amor compromissado. Romances de um dia-a-dia que reforçam cada vez mais aquela sua antiga ideia de tornar-se de vez um misantropo. Evite tais romances, evite.
Pois, acredite-me, você não vai querê-los.

Nenhum comentário:

Postar um comentário