domingo, 5 de outubro de 2014

ESTOU GUARDANDO O QUE HÁ DE BOM EM MIM

pãrãpãpã pãrãrãrã tãrãrã...

Era o jardim molhado, limoso
Calçadas caminhos de pedra velhas esverdeadas úmidas
odoríferas florestas mínimas, deslizantes
E os outros cheiros e sons de Dezembro
O sol molinho, molezinho de uma véspera
E a antecipação... A doce angústia
Um não sei quê de esperar um sabe-se lá quando
Tão doce, tão doce sofrer e existir
- se fosse ali
E os sons, então
Era Roberto Carlos, A Volta
Ou mesmo Detalhes
Ou mesmo As Canções que você fez pra mim
E eu já não mais me sentindo tão fajuta por curtir Roberto Carlos
Era um barato intransponível
Que meus tios do rock não soubessem
Nem os primos
Mas era tão doce, tão doce aquela tarde
Ali o céu escurece sem escurecer
É aquele sol que amarela e então doura e então explode num laranja tão profundo e ao mesmo tempo tão suave... e deságua lentamente num cor-de-rosa meigo e apaixonado
E purpúreo vai escorrendo pelas bordas...
E as bordas encontram as bordas do rio...
Não é rio, é lagoa
Era a lagoa.
E o bacurau - que descobri não, não ser bacurau, mas carão
Mas ainda assim às vezes os nomes em mim se trocam
E o carão, longe, canta
Nunca o vi mas ele estará em mim para sempre
Mesmo que não possa ser visto nem ouvido nos textos que eu escrevi e nos murmúrios que rolarem dos meus olhos ele existiu um dia?
É claro que sim!
Aquele lugar... Aquele lugar terá existido para sempre...
E eu, com bordas douradas um dia... Douradas de velha... Serei? Serei tão pura e tão plena e tormentosa quanto aquele céu?
E agora eu sinto, mesmo não estando ali, que a vida escorre tão melancólica
E MAGNÍFICA
E impiedosa
como aquele céu de douradores em dezembro...

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