quinta-feira, 7 de março de 2013

OS QUE FUNCIONAM EM OUTRA FREQUÊNCIA

Me intriga, e talvez também me assuste, essa coisa das pessoas que funcionam em outra frequência. Tomando por padrão o regular, tomando por comum o frequente, o que eu vejo? Minhas amigas tendo bebês. Não sei se é idade suficiente, mas, não, talvez já não seja essa velha questão de idade (o ponto é que eu perdi a noção de adolescência e juventude depois dos quinze, já não sei quão jovem - ou quão velho - é ter 19/20 anos). Esqueçamos a idade. É mais sobre lidar com esse fato de pessoas tão próximas a você estarem fazendo novas pessoas dentro delas... Parece clichê, mas se torna curioso e levemente surreal quando se prova tête-à-tête: as crianças cresceram e agora estão botando no mundo outras crianças.
Contudo, não diz respeito somente à maternidade - prematura ou não, a questão é: inesperada; você não viu isso chegar -, mas a outros fatores da vida. Você agora é grande o bastante para ver pessoas casarem. Grande o bastante para ver pessoas morrerem. Grande o bastante para ver alguns de seus ídolos - e nem precisa necessariamente ser um de seus ídolos, basta alguém que você considerava imorrível ou inexpugnável, pode ser Chávez, ou até mesmo o Papa - irem embora um a um... E você vai se tornando esse ser absurdo que costumava ser seus pais: gente velha que admirava estátuas que já tinham morrido. Os seus estão morrendo agora também.
Então vem a questão da frequência diferente: você não se acostuma. Não tem jeito, você não consegue fazer o coração bater nesse mesmo ritmo - lento e suave ou forte e perigoso - que agora bate o coração dos outros que estiverem todo esse tempo com você. Seu coração não funciona mais como o deles, ou nunca funcionou. Sua mente também trabalha à parte, é mais lenta, mais profunda, demora a se acostumar. Sua alma também não sabe...
É essa a outra frequência assustadora: você ver tudo mudar ao redor enquanto permanece caçando mistérios num instante perdido depois da meia-noite, enquanto todos os outros dormem, ou simplesmente existem...

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